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As mães da mentira

15 de Agosto de 2018, por João Magalhães

“O pai da mentira”. É um dos títulos do diabo (Jo 8,44). E a mãe? São muitas: as redes sociais.

Em tempos de guerra, mentiras por mar e por terra. Antigo provérbio, agora, desatualizado. Em tempos de internet, mentiras (e quantas!) pelo ar e pela atmosfera.

Quando li pela primeira vez o anglicismo fake news, confesso que, devido a meu inglês já muito oxidado, corri ao dicionário: “Fake”: falsidade, falso. Por que não “notícias falsas”?

Calúnias, difamações, mentiras nocivas sempre fizeram parte e farão da história dos homens. Como quase sempre ganham da verdade, devem preocupar e muito a quem zela pelo humano. É o caso do mandamento mosaico: “não apresentarás um falso testemunho contra teu próximo”. (Ex 20,16)

Modernamente, essas falsidades, travestidas de vídeos, fotomontagens, textos atribuídos a autores midiáticos etc., sob o nome geral de fake news, instantaneamente espalhadas, chegam a milhões de olhos e ouvidos por todo o globo. E causam prejuízos gravíssimos. Até mortes, como o atesta o linchamento de vinte pessoas, na Índia, devido a notícias desse jaez, conforme foi noticiado recentemente.

E é bom notar que as falsidades chegam rápido também para quem não tem internet, pela voz/ouvido dos aparelhos!

Uma estatística recente: no Brasil, o número de aparelhos celulares ultrapassa nossa população. Aparelhos que funcionam, embora nem todos atualizados tecnologicamente.

E os males vêm. Destroem reputação, ferem a honra, roubam desatentos e ingênuos, vendem curas e miraculosos remédios inócuos, reforçam ignorâncias. Quem acompanha a vida do país sabe, por exemplo, que aumenta muito o número de pais que não vacinam seus filhos por causa de notícias falsas sobre efeitos malignos dessas vacinas.

Chegamos ao ponto de profissionalizar o manejo e a criação de falsidades. Lucra-se com isso. São mentirosos profissionais que assassinam a moralidade, a honra das pessoas para fins escusos e pouco se importam com o bem da sociedade.  E a influência nos processos eleitorais? E tantos outros casos!?

Pesquisas feitas sobre o grau de credibilidade das pessoas tentam explicar o porquê da crença em fake news. Podem-se resumir nestes itens:  as pessoas tendem a acreditar que tudo é verdade; basta que as informações estejam próximas da verdade para serem aceitas; mesmo quem conhece um assunto tem predisposição a crer em falácias sobre ele: muitas técnicas para facilitar a identificação de erros revelam-se inócuas. E os malandros sabem e se aproveitam disso.

O que fazer? Como escapar do ceticismo: em que (quem) acreditar, já que o fenômeno é geral e universal? Onde está o real, a verdade?

É um desafio para o jornalismo sério e responsável. Esta mídia honesta tenta montar esquemas para desmascarar as fakes, mas confessa a enorme dificuldade para tal.    

Bruxuleia-se uma luz, acende-se outra, mais potente. Pesquisas recentes (Reuters Institute), que incluem o Brasil, revelam uma queda de confiança no Facebook, pois consideram essa rede social “egocêntrica”, “assustadora”, “multifacetada”, “genérica”. Aumenta, porém, a confiança no WhatsApp, que acham mais “amigável”, “divertido”, “agregador”, “honesto”, “discreto” e “confiável”.

Acho que mudou para pior. No Facebook, a sociedade por seus representantes pode agir, cobrar, intimar as fontes. Já no WhatsApp, as fontes são milhares, mesmo com a determinação, segundo ele informou, de limitar a vinte encaminhamentos. Cada usuário posta o quer!

Alguma solução? Creio numa melhora, se além do poder público se empenhar e partir para punições, as pessoas cônscias conseguirem um distanciamento, ou seja, buscar acesso às nascentes das falácias, diversificar suas fontes de informação, intensificar seu poder de observação, usar suas lupas para localizar detalhes enganosos e suspeitar deles, relativizar suas afirmações, postergar atitudes. Menos fé e mais análise.

Vivendo e agindo em bolhas: grupos que se abeberam das mesmas fontes que afervoram a fé comum e se fecham para outras iluminações, a verdade estará cada vez mais ausente.

É o que eu penso. E você?

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