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Centenário de nascimento de Maria Callas: escrevendo sobre ópera

25 de Janeiro de 2024, por João Magalhães

No dia 2 de dezembro de 2023, o mundo da ópera comemorou os cem de anos de nascimento de Maria Callas, uma das maiores sopranos do século vinte. Maria Cecília Sofia Anna Kalogeropoulu, descendente de família grega, nasceu em Nova Iorque a 2/12/1923 e faleceu em Paris a 16/9/1977. Quando ingressou no mundo lírico, adotou o nome de Maria Callas.

Além de soprano, Callas foi também grande atriz de cinema, como o confirma o filme “Medeia”, de Pier Paolo Pasolini, no qual ela desempenha o papel da própria Medeia.

Nosso jornal, com 20 anos, ao que eu saiba nunca publicou nada sobre ópera, embora haja pessoas que a curtem. E cito nosso editor-chefe, André, nosso colunista Edésio e o Rosalvo, que infelizmente já “partiu”, a quem dedico estas linhas, lembrando os momentos em que fomos juntos ao Palácio das Artes, em Belo Horizonte, assistir a montagens de óperas. Fica ainda em minha memória a montagem espetacular dos “Pescadores de Pérolas”, de Georges Bizet (1838-1875), sobretudo o belíssimo dueto tenor/barítono de Nadir e Zurga: “au fond du temple saint”.

Meu fascínio por ópera, quase um fanatismo, começou muito cedo. Em 1952, quando entrei para o seminário (tinha 12 anos), os dois primeiros anos de ginásio eram no seminário menor dos padres camilianos, em Yomerê, distrito da cidade de Videira, no oeste do estado de Santa Catarina.

Só ia-se lá de trem, que demorava 2 dias ou mais para chegar. Nas férias, os seminaristas de lá iam para as próprias casas. Nós, paulistas e mineiros, ficávamos no seminário e os padres possibilitavam nossa frequência à biblioteca, onde podíamos ler ou ouvir músicas nos discos 78 rotações que havia lá.

Quando ouvi a abertura da ópera de “La gazza ladra”, de Gioachino Rossini (1792-1868), fiquei encantado. A melodia ficou em meus ouvidos muitos anos. Mais tarde, já em São Paulo, meu professor de literatura italiana, padre Ettore (Heitor) Nicolodi, que tinha discos de ópera, emprestou-me a “Cavalleria Rusticana”, com regência do próprio compositor, Pietro Mascagni, o tenor Beniamino Gigli, o barítono Gino Bechi, entre outros. Depois emprestou-me “Il Rigolletto”, de Verdi. A ária “tuttele feste al tempio” me marcou. Até hoje consigo solfejá-la. O coral do seminário vem reforçar quando ensaiávamos o “Va Pensiero”e “La Vergine degli Angeli”de Verdi.

Mais tarde começo a ouvir e gravar o programa “Cortina Lírica”, com o maestro Armando Belardi (1898-1989), na rádio Gazeta. Com o regente Benito Juarez, da Orquestra Sinfônica de Campinas, Carlos Gomes vem à toda com suas óperas.

Daí para diante acompanho a carreira dos grandes intérpretes. Dezenas de tenores, barítonos, baixos, sopranos, mezzo-sopranos, contraltos. Cheguei a gravar numa fita-cassete a grande ária da ópera “Tosca”, de Giacomo Puccini, “E lucevan le stelle”, com 7 tenores diferentes!

Dos mais modernos, José Carreras, Placido Domingo, Pavarotti, nem se fala. Quando Pavarotti veio pela primeira vez ao Brasil, fui assistir ao show dele. Tenho o programa até hoje.

Ópera assistida tem que ter legenda. Ópera ouvida precisa ter o libreto. Quando estive na Itália, comprei todos os libretos que achei. Encontrei muitos.

Faço minha a escrita de Nelson Rubens Kunze, editor da revista “Concerto”, ao apresentar o volume sobre a “A Ópera Tcheca” do mineiro de Belo Horizonte Lauro Machado Coelho (1944-2018), a meu ver o maior crítico musical e historiador da ópera que o Brasil já teve. Publicou, pela Editora Perspectiva, em 11 volumes, a história da ópera.

“Reunindo música, teatro, literatura, arquitetura, artes plásticas – a ópera é talvez a mais abrangente das criações, um caldeirão de emoções que representa, no palco, as mais variadas situações que o homem atravessa em sua vida.

Não é à toa que as mitologias, dos antigos gregos às lendas germânicas, enredos históricos ou tradições enraizadas no subconsciente, de riqueza e interpretações inesgotáveis, sejam o grande manancial temático dessas produções artísticas. Se a isso somarmos a realidade política e social na qual a obra de arte está inserida, os anseios e circunstâncias vividos pelo compositor, tem-se uma ideia de sua enorme complexidade.

 E o fato de a ópera ser, com seu irresistível apelo emocional, uma das mais populares manifestações da cultura universal, só faz ampliar o grau de sua complexidade. Não resta dúvida de que, por sua dimensão plural e multifacetada, a ópera é o espaço privilegiado para retratar, desvendar, questionar ou exaltar artisticamente – de modo realístico ou alegórico – os mistérios da alma e da existência humana”.

 É o que penso. E você?

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