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Centenário do Assis Resende

13 de Agosto de 2019, por João Magalhães

Lembrar do “Assis Resende”, nossa centenária escola, é recordar-se dos 7 ou 8 anos de idade até mais ou menos os 12. No meu caso, é recordar do Tijuco como um pequeno povoado. Uma fileira de casas – a maioria muito pobre – dando frente para um arruado de terra que ia do açude ao marisco e o fundo para o córrego que fornecia água para o consumo, lavagem de roupa e aguar as hortas. Ladeando as duas estradas paralelas a de automóvel e a de carro de boi os campos de gabirobas e marmeladas. (Cadê as marmeladas? Extinguiram-se?) 

Para nós da roça, o que o Tijuco praticamente era, o Grupo Escolar Assis Resende significava nosso principal contato com a cidade. A “Vila”, como se dizia então.

A convivência por quatro anos na escola ampliava nossa socialização, pois, criávamos amizade com colegas da cidade. A vida urbana deles nos atingia e vice-versa. Eles nos aculturavam quanto às novidades, às modas e nós quanto às práticas da roça, como nadar nos córregos, montar a cavalo, fazer arapucas, pescar, achar e criar filhotes de cocota, etc. E o Assis Resende era o grande ambiente para essas trocas e tratativas.

Essas reminiscências cobrem os anos de 1948 até 1951. Turma marcada para nós, pois ficamos os quatro anos juntos, com a mesma professora, dona Maria Ivone Sousa, filha do Alcides Sousa.

Jovem excelente professora: minha primeira homenagem neste centenário. Inesquecível enquanto eu tiver memória. Em minha ordenação sacerdotal, aqui em Resende Costa, em 1964, não pôde vir, mas enviou-me de lembrança um belíssimo estojo para missa em altares portáteis, comigo até hoje. Nele: cálice, patena, teça e pequena ânfora para hóstias e vinho consagrados. Todos com o interior banhado a ouro, conforme mandavam as normas canônicas.

Excelente também o ensino. Tanto que, em 1952, entrando para o seminário – oeste do Estado de Santa Catarina – feitos os testes, fui dispensado do curso de admissão ao ginásio, muito exigido naquela época.

Mais um exemplo: hoje, se se pedir uma análise sintática de uma oração, os alunos do ensino médio terão dificuldade em fazê-la. Saíamos do Assis Resende fazendo-a com facilidade. O nome antigo era análise lógica.

Não se aprende latim sem dominar análise sintática. Primeiro ano do ginásio. Aulas de latim já começadas. Eu, perdido, nada entendendo; mas demorou pouco, pois quando se explicou, por exemplo, que o sujeito da frase vai para o caso nominativo e o objeto direto para o caso acusativo, etc., foi um salto. Como sabia análise sintática na ponta da língua, o estudo do latim foi um prazer.

Minha segunda homenagem, nativa de minha memória, vai para dois zeladores da nossa escola, agora secular. Inolvidáveis, acho eu: Donana do Zé Reis e Geraldo Porteiro.

 

Donana.  Mãe protetora dos menores, sobretudo de nós, pobres, da roça. Às vezes, era um pouco nervosa, mas sempre disponível para resolver qualquer problema.  Eunice do Duque, colega de turma, vigorou minha memória, lembrando-se de quando a Donana começou a fazer doce de leite para passar nos pãezinhos servidos aos alunos da caixa (à qual, aliás, nunca pertenci).

 

Geraldo. Era um factótum na escola. Abria portões e portas, daí a alcunha que o perpetua na cidade: Geraldo Porteiro. Atividade intensa, pois abria a escola cedinho para o primeiro turno e ficava até fechá-la no fim do segundo turno, que era o nosso, alunos da roça. Fazia de tudo, desde a arrumação e limpeza, consertos em geral, até mimeografar provas para os professores. Cuidava, sobretudo, da disciplina de nós moleques. Enérgico, mas sempre educado. Nunca violento. Ia à cata dos fugitivos. De vez em quando, fazia uma ronda pelas lajes da cadeia (hoje lamentavelmente fechadas), onde alguns gazeteiros se escondiam! Apontava nossos lápis. Apanhava frutas das ameixeiras do pátio e distribuía para nós...

Donana do Zé Reis e Geraldo Porteiro, aquele abraço!

Fiapos de minhas lembranças. Você que estudou lá, certamente terá as suas.

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