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Em isolamento social: Que tal uma meditação?

12 de Abril de 2020, por João Magalhães

Neste isolamento social necessário para minorar os males da pandemia da COVID-19 (Corona Virus Disease), a mídia está pródiga em sugestões para aguentar a solidão e até tirar proveito dela. São os críticos musicais indicando músicas, leitores aconselhando livros, TVs liberando canais por assinatura, ludoterapeutas organizando brinquedos e tantas outras sugestões. Há receitas para todo mundo, para todas as faixas etárias.

Lembrando o saudoso Artur da Távola (pseudônimo do Senador Paulo Alberto Monteiro de Barros), que dizia que “música é vida interior e quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”, sugiro uma prática que, nos tempos passados, era muito valorizada por causa de sua eficiência na formação espiritual das pessoas.

Infelizmente nos tempos atuais está bastante relegada. Por quê? Porque supõe silêncio, interiorização, recolhimento. Os movimentos atuais, inclusive os religiosos, há exceções é claro, caminham mais para o mundo das palmas, das danças, das coreografias, enfim, da espetacularização.

Trata-se da meditação. Uma meditação sobre o próprio vocábulo (meditação) mostra o seu valor. Do verbo depoente latino “meditor”: meditar, pensar, refletir. Acrescento, no entanto, uma outra significação: “ditare” em latim significa enriquecer. Portanto, “me ditare”é enriquecer a mim mesmo. Retornando para o português, o que é meditar? É um ditado que você faz para você mesmo. Um diálogo íntimo, uma conversa consigo que vai concebendo ideias, comportamentos, decisões, planos, estratégias, compromissos, promessas, votos.

Os tempos são outros, mas há práticas de valor permanente. É o caso, acho eu, da meditação: uma forma de ascese que são exercícios que levam à efetiva realização da virtude e a um aperfeiçoamento ético-moral.

Uma prática de meditação como era nos antigos institutos de formação religiosa, como nos seminários, conventos, internatos, dificilmente se encaixa no mundo moderno. No seminário onde vivi longos anos, por exemplo, havia três meditações diárias. A primeira, logo cedo, na capela, antes da missa: para os menores, dirigida pelo diretor. E de livre escolha quanto ao tema para os maiores. A segunda, ao meio-dia, antes do almoço, também na capela. Esta era dirigida. Chamava-se “exame de consciência”. Induzia-se cada um a revisar seu comportamento na manhã. A última, também dirigida, à noite, antes do recolhimento ao dormitório. Novo exame de consciência revisando a segunda metade do dia!

No entanto, uma boa notícia é que estão-se buscando formas mais condizentes de meditar. Os cientistas dos comportamentos, das emoções, dos sentimentos – psiquiatras, psicólogos, neurologistas etc. – já estudam e propagam o valor de um cultivo da espiritualidade, por conseguinte da ascese, e a separam de religião e fé.

Há especialistas já aconselhando um momento de meditação para melhorar o sono.

Como costuma ser, na vida tudo tem o lado bom e o lado ruim. Nos casos de isolamentos sociais obrigatórios, isso se exacerba. Neste momento, há famílias deteriorando seus relacionamentos, mas há outras que enxergam aí novas formas de se unir.

O dr. Daniel Martins de Barros, do Instituto de psiquiatria do HC de São Paulo/SP, publicou agora, pela editora Sextante: “O lado Bom do lado Ruim”, onde orienta o leitor a descobrir que emoções negativas como raiva, medo, tristeza, ansiedade podem ter um lado bom. Diz ele: “Quando estudamos a origem das emoções negativas do ponto de vista psicológico e evolutivo, descobrimos que cada uma está lá para indicar algo importante para nós: perigos, riscos, incômodos. Uma vez que desenvolvemos essa consciência, conseguimos tirar melhor proveito desses alertas. Além disso, a expressão das emoções [negativas] é uma forma negligenciada de comunicação. Podemos nos fazer entender – e entender os outros – melhor quando atinamos para isso.”

A meditação, esse pensamento voltado para seu interior, seu imo, é uma forma comprovada de transcendência, ou seja, de melhoria de si mesmo. Não há ascese sem meditação.

É o que penso. E você? 

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