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Folias de Reis e lições da Epifania

21 de Janeiro de 2020, por João Magalhães

Começou o fim da segunda década do século 21. Janeiro. Neste mês, a festa católica mais importante é a Epifania. Do grego “epifáneia”: aparição repentina, mas benévola, de uma divindade salvadora. Termo muito usado na Bíblia.

Quem curte nossas tradições das “folias de Reis” lembra muito, sobretudo nós mais velhos aqui de Resende Costa. O Reisado ou Festa dos Santos Reis.  Os ternos que iam de casa em casa levando a Bandeira do Divino, fitas em seus vestuários, crianças como pastorinhos(as), recebidos com alegria pelos moradores, cidade e povoados, sobretudo ao anoitecer. Depois, o indispensável café com biscoito e broa de fubá. A criançada vibrando. O cavaquinho, o reco-reco, o violão e a sanfona. Os versos cantados agradecendo cada prenda ou esmola oferecida etc.

Festa religiosa popular emblemática muito antiga, originária da península ibérica: Portugal e Espanha. Na Itália, é conhecida como “Befana” e, segundo a tradição, os presentes são oferecidos às crianças por uma bruxa boa. Em 2017, o Conselho Estadual de Patrimônio de Minas Gerais declarou a Folia de Reis como Patrimônio Imaterial do Estado.

A narrativa é do Evangelho segundo Mateus (Mt 2, 1-12). Fala de magos do Oriente. A etimologia do termo grego “magos, plural mágoy”, é desconhecida. Sabe-se, porém, que vem de uma tribo meda [Medos: tribo fixada no atual Irã, da qual os curdos se dizem descendentes], na qual, os homens mais importantes desempenhavam a função de sacerdotes da religião persa e se ocupavam com astronomia e astrologia.

O epíteto de três reis magos é devido aos três presentes: ouro, incenso e mirra. Os nomes Melchior (ou Belchior), Baltazar, Gaspar são devidos a antigas tradições. Esses presentes eram riqueza e perfumes da Arábia. Conforme explicações dos Padres da Igreja, teólogos e pregadores da Igreja nos primeiros séculos, simbolizam a realeza (ouro), a divindade (incenso) e paixão de Cristo (mirra).

Os textos religiosos, quando interpretados como mensagens, quando lidos dentro do contexto histórico da época em que apareceram e separando-se a mensagem das mentalidades culturais dos tempos, trazem lições muito contributivas para quem procura meditar sobre eles com critério. Paulo, um dos fundadores da teologia cristã, sintetiza lapidarmente: “A letra mata, o espírito é que vivifica” (2Cor 3,6), no sentido da importância de estudar o que o texto, por trás das expressões, quer dizer.

A festa da Epifania, frente ao quadro mundial de agora no qual o Brasil vem se inserindo, tem muito a dizer. A manipulação sacana do patriarca da família Herodes - ensinando aos magos o caminho (“Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e ao encontrá-lo, avisai-me para que também eu vá homenageá-lo”) - gerou o massacre dos inocentes meninos de até dois anos na região de Belém. Esse tipo de malogro continua até hoje sob outras formas.

A fuga da família de Jesus, refugiando-se no Egito para não ser assassinada, não lembra o gravíssimo problema atual dos refugiados, dos expatriados? Os da guerra síria, os venezuelanos, os da América Central tentando entrar nos Estados Unidos, os que arriscam a vida superlotando os frágeis transportes que o digam! Só não o dizem os inumeráveis afogados do Mediterrâneo, os mortos de insolação no deserto, os cadáveres nas praias.

Diz a tradição que um dos magos era negro: Gaspar. Visitou o Menino Jesus. Fosse hoje, em muitos lugares não o deixariam entrar. Seria segregado, xingado de macaco pelas plateias do mundo.

Epifania: festa da catolicidade. Jesus veio para o mundo todo. Todos os povos. Como ficam os equivocados nacionalismos excludentes, prepotentes, vazios que, como placas de grama, alastram-se pelo mundo?

Salve Ivan Lins! “Os devotos do Divino/ vão abrir sua morada/ pra bandeira do Menino/ ser benvinda/ser louvada...Que o perdão seja sagrado/ Que a fé seja infinita/  Que o homem seja livre/  Que a justiça sobreviva”.

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