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Janeiro de 2023: a porta da esperança

26 de Janeiro de 2023, por João Magalhães

Neste novo ano iniciante há que se cultivar a Esperança.  Esperança de que as outras duas virtudes teologais, suas gêmeas, Fé e Caridade, voltem a ser praticadas. Uma vida sem esperança é desespero. O desespero que leva ao desânimo da descrença, à desilusão, à marginalização, à depressão e às vezes até ao suicídio.

Escrevendo sobre Esperança, impossível não se lembrar do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Sobretudo para quem acompanhou a carreira dele por esse mundo e, principalmente, trabalhou com ele na pastoral, meu caso. Seu núcleo de pregação e atuação sempre foi a Esperança, como o mostra o lema de seu brasão: “De Spe in Spem”, da Esperança para a Esperança. Ou seja, aumentar cada vez mais seu grau de espera. Lutar para que as coisas melhorem. Meditar sobre o modo de conseguir que isso aconteça. A virtude da Esperança precisa ser exercida e professada em nossas vidas e corações.

Nosso mundo já vinha desumanizando-se com mentes totalitárias e ditatoriais assumindo o poder; infelizmente, em alguns países, através do voto. O ser humano vale pouco para as ditaduras. A pandemia virótica bagunçou tudo: desemprego, perda do poder econômico, inflação, fome, carência de vacinas, etc.

A esperança pressupõe fé no sentido de crença. Se você não acredita que o real pode mudar para melhor, não vai fazer nada para que isso se realize.

Quanto à fé nos dogmas e ensinamentos, que são o fundamento das religiões, convém refletir sobre as palavras escritas pelo papa emérito Bento XVI na encíclica “Deus Charitas est” (Deus é amor), Natal de 2005. Parece uma profecia: “Num mundo em que ao nome de Deus se associa, às vezes, à vingança ou mesmo o dever do ódio e da violência, esta mensagem (Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele) é de grande atualidade e de significado muito concreto”.

Aqueles que tentam gerar engajamento político por meio da religião ignoram um dos pontos centrais do cristianismo. O uso de religião para fins político-eleitorais acho absolutamente condenável.

Novamente Bento XVI: “Pertence à estrutura fundamental do cristianismo a distinção entre o que é de César e o que é de Deus, isto é, a distinção entre Estado e Igreja ou, como diz o Concílio Vaticano II, a autonomia das realidades temporais. O Estado não pode impor a religião, mas deve garantir a liberdade da mesma e a paz entre os aderentes das diversas religiões”.

São palavras muito incisivas. Separação entre Igreja e Estado Democrático de Direito não é circunstancial. Faz parte da estrutura fundamental de ambos. Esta talvez seja a tarefa mais importante: redescobrir a radical relação entre religião e a dimensão humana da existência.

Como Jesus Cristo pregou, o sábado está a serviço do ser humano e não o contrário. Uma compreensão renovada do religioso é encarar a democracia como um dos princípios básicos do cristianismo. Ou seja, a defesa da dignidade humana, a descoberta da verdade, seja ela religiosa, ética, filosófica ou científica.

Cristianismo não é imposição nem prevalência sobre as demais crenças. Muito menos desprezo por outras fés. É diálogo. É ecumenismo: trabalhar juntos por boas causas.

Esperança pressupõe Caridade no sentido de amparar os carentes em suas necessidades básicas, muito enfatizadas na teologia católica das obras de misericórdia:  1 - dar de comer a quem tem fome; 2 - dar de beber a quem ter sede; 3 - vestir os nus; 4 - dar abrigo aos peregrinos; 5 - assistir aos enfermos; 6 - visitar os presos; 7 - enterrar os mortos.

Sem a prática delas, a meu ver, não adianta insistir nas, assim chamadas, obras de misericórdia espirituais: instruir; aconselhar, consolar, confortar, perdoar, suportar com paciência e rogar pelos vivos e pelos mortos.

O país mudou de governo. A esperança é que o Estado brasileiro fortaleça suas estruturas constitucionais e os novos integrantes dos poderes Executivo e Legislativo executem suas promessas feitas na campanha eleitoral.

Resumindo: que as obras de misericórdia acima nomeadas sejam efetivamente um dever de Estado.“ Guarda o amor e o direito e espera sempre no teu Deus” (Oseias12,7)

É o que penso. E você?

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