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“Levantai-vos, soldados de Cristo...”

15 de Julho de 2021, por João Magalhães

Finalizando a série sobre a antiga poesia litúrgica católica, converso com os leitores sobre alguns hinos que cantávamos nas cerimônias religiosas de um passado já um tanto remoto. Hinos muito populares como: “Levantai-vos, soldados de Cristo”, “Queremos Deus”, “Coração Santo”, “A nós descei, divina luz”, “Eu quisera, Jesus Adorado”, “Louvando a Maria”, “Virgem Mãe Aparecida”, “Com minha mãe estarei”, “Viva a mãe de Deus e nossa”, “Bendito, louvado seja” e outros.

Atualmente, talvez devido às muitas gravações, os tenho ouvido nos alto-falantes de igrejas católicas, inclusive das de Resende Costa. Cito, como exemplo, a gravação do “Queremos Deus”, de Milton Nascimento e os Tambores de Minas, que acho um primor, sobretudo com o solo de flauta inicial. E, para quem gosta, recomendo também a gravação de “Coração Santo”, do recém falecido Agnaldo Timóteo.

Quem serão os compositores das letras e das melodias? Resposta difícil, pois muitas são muito antigas e algumas vêm de tradições populares. Do “Levantai-vos, soldados de Cristo” há gravações com uma letra bastante modificada, atribuída ao padre João Clá Scognamiglio Dias, fundador dos “Arautos do Evangelho”.

Os compositores do hino original por enquanto são desconhecidos. Para divertir um pouco: entre nós seminaristas, corria a história de um cantor de ouvido ruim que cantava o verso “O pendão de Jesus Redentor” assim: O cordão de Jesus rebentou!

 

“Queremos Deus”: hino muito antigo de tradição popular italiana. “Noi vogliam Dio” (Nós queremos Deus). Tornou-se hino oficial do Estado Pontifício a partir de 1800 e o foi até 1857. Difundiu-se, contudo, como melodia litúrgica num segundo momento. Daí sua imensa popularidade. Não consegui informação de quando foi traduzido para o português na versão tradicional.

 

“Coração Santo”: a composição é de Tiburtino Mondin, poeta santista do final do século 19.

 

“Eu quisera, Jesus adorado”: composição de Francisca Butler, de origem irlandesa – o que explica seu fervoroso catolicismo.

 

“Virgem Mãe Aparecida”: música do Pe. João Batista Lehmann, autor da “Harpa de Sião”, livro de cantos a uma ou mais vozes, com acompanhamento de harmônio, bastante popular e utilizado em todas as igrejas e capelas católicas do Brasil, até o Concílio Vaticano II. Da Congregação do Verbo Divino, foi também diretor do “Lar Católico”, jornal de larga influência na formação católica em nossa região. A letra é do poeta mineiro Belmiro Braga (1872-1937), nascido num povoado que, mais tarde, tornando-se município, adotou seu nome.

 

“Viva a mãe de Deus e nossa”: Em 1905, o conde José Vicente de Azevedo compôs sua letra e música numa viagem de São Paulo a Santos. Como não tinha papel, escreveu nas bordas de um jornal. Em 1951, o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Mota, tornou oficial o “Hino à gloriosa Padroeira do Brasil”.

Numa época litúrgica em que os presentes nas cerimônias eram mais ouvintes (quando ouviam) que participantes, esses hinos tiveram uma função importante. Um fator de participação. Suas melodias, muito orecchiabili, como dizem os italianos, muito entoáveis, sonorizando letras ritmadas, cheias de estribilhos e bis e rimadas, provocavam um clima emocional de participação nas missas e procissões.

Mais ainda quando acompanhadas pelo harmônio nos templos e pela banda de música nas procissões e rasouras. (Por falar em rasoura, sugiro assistir pela internet um vídeo da rasoura das Dores com a banda Santa Cecília em Resende Costa, ano 2019).

 

É o que penso. E você?

 

P.S: Não consegui, igualmente, informações quanto ao “A nós descei, divina luz”, “Louvando a Maria”, “Bendito, louvado seja” “Com minha mãe estarei” (que está, salvo engano, com a letra modificada). Se algum leitor souber, por favor informe-me: ([email protected]).

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