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Meu voto é antibolsonaro!

17 de Outubro de 2018, por João Magalhães

Não pela pessoa, que não conheço, mas pela ideologia política que ela representa.

Pleno acordo com o jornalista Eugênio Bucci em seu texto Tortura e estupro na cultura política: “Bolsonaro representa uma cultura política para a qual a democracia não é um valor, mas um mero detalhe administrativo dispensável. Nessa cultura, a tortura tem serventia e o estupro é culpa da ‘beleza’ da mulher. Esta cultura política não vai acabar com a corrupção. Esta cultura é velha e nunca, em lugar nenhum, acabou com a corrupção. Cuidado. Não faça do seu candidato a presidente uma arma, a próxima vítima pode ser você.”

Seria uma afronta a mim mesmo agregar-me pelo voto a um líder com tal postura. Sobretudo, um acinte ao meu passado.

Recentemente, em conversa com uma jovem senhora que perdeu um ente querido, sua mãe, falou-me que votará em Bolsonaro. Instantaneamente veio-me em tela as ofensas à mulher, nos ataques à deputada Maria do Rosário, justamente a grande batalhadora da lei de proteção à mulher, que leva seu nome. Uma lembrança às eleitoras do Bolsonaro: numa entrevista ao jornal Zero Hora de Porto Alegre (em 2014), declarou: “Ela (deputada Maria do Rosário) não merece (ser estuprada) porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria”. Quer dizer que mulher bonita merece ser estuprada?!!

Respeitei, mas não resisti: Senhora, você votaria num candidato que, ao saber que você estava exumando os ossos de sua mãe, comentasse que “quem procura osso é cachorro”?!

Em visita à exposição da vida atuante do cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, visita emocionante porque eu participei de muitos eventos lá em amostra, vendo as fotos da exumação dos assassinados pela ditadura militar no cemitério de Perus/SP, lembrei-me dessa frase horrenda que alguma impressa da época atribuiu ao Bolsonaro!

Um extrato do longo voto de Bolsonaro quando do impeachment da Dilma Rousseff “Pelo nome que entrará para a história desta data, pela forma como conduziu os trabalhos desta casa, parabéns presidente Eduardo Cunha” (!)... Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff (por quem foi torturada), e por Deus acima de todos (que Deus será esse!?), o meu voto é sim.”

Ainda o jornalista Eugênio Bucci: “O nome de Carlos Alberto Brilhante Ustra, notório torturador e chefe de torturadores, está escrito com sangue alheio na História do Brasil. Ao exaltá-lo, Bolsonaro fez apologia do crime de tortura.”

Quem visitou presos políticos na época desse coronel, ou tem amigo torturado como é o caso do Antônio Soligo, amigo e colega meu de turma no sacerdócio católico, sente um arrepio generalizado frente a tal homenagem.

Já escrevi a respeito. Como faz algum tempo, relato novamente. Um dos dias mais terríveis de minha vida foi quando conheci (embora saiba, por ética e respeito à pessoa jamais revelarei seu nome) um torturador do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e ouvi em silêncio, à porta da igreja, esperando um casamento a oficiar, o relato minucioso das barbaridades que praticou. “São comunistas! Ateus subversivos! Têm que bater, tem que morrer!”

E falava sem remorso algum e ainda dizia: “Todo domingo comungo na igreja do Largo São Francisco! Lembrei-me de Cristo aos apóstolos (Jo 16,2)’”. Homenagear chefe de torturadores?!

Sabemos que o processo político tem seus balanços. Avanços e retrocessos. O tempo de agora está apontando para ditaduras e totalitarismos pelo voto. Partidos nazifascistas estão conseguindo o poder, mesmo em nações de forte cultura democrática, mas quem preza o humano, preza a liberdade, preza a participação construtiva e luta pela igualdade não pode se conformar.

Provavelmente o que escrevi e outros tantos também não vão mudar o voto de ninguém, mas cabe um alerta, porque, se algum dia formos vítimas, não o será por falta de aviso.

É o que penso. E você?

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