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O Sínodo da Amazônia

12 de Novembro de 2019, por João Magalhães

Já pela escolha do nome, o papa Bergoglio concentra, atualiza e vivifica o espírito de São Francisco de Assis que incorporou e cumpriu a meta da encarnação de Jesus: “Eu vim para tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo10,10). A maravilhosa encíclica Laudato si’ (em português: Louvado sejas) resume sua Pastoral: uma Igreja-povo profundamente integrada na sua ambiência que é avida em sua infinita manifestação e variação.

Em 1965, ano de conclusão do Concilio Vaticano II, no chamado “Pacto das Catacumbas de Santa Domitila”, 500 bispos, reunidos numa celebração eucarística, pactuaram por uma opção preferencial pelos pobres e por sua libertação. “Todas as grandes maldades do mundo são por causa do dinheiro: é a corrupção, é o roubo, guerras, conflitos. São mentiras. Tudo para juntar dinheiro, para ganhar dinheiro às custas de qualquer coisa. O dinheiro é o grande inimigo de Jesus, pois você não pode servir a Deus e ao dinheiro”, palavras do cardeal dom Claudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e relator do Sínodo, na renovação do Pacto das Catacumbas, ampliando-o para “Pacto das Catacumbas pela Casa Comum”.

O papa Francisco convocou o Sínodo da Amazônia (do grego “sin”: junto, “odós”: caminho), realizado no Vaticano entre os dias 6 e 27 de outubro, para aprofundar, debater, aconselhar e orientar a Igreja Católica da Amazônia quanto aos amplos problemas da região. Caminhando juntos para resolvê-los.

A pauta da grande reunião, com participantes oficiais e convidados especialistas,  previa  estudo e análise de muitos pontos, como a complexa situação das comunidades indígenas e ribeirinhas e os povos isolados; a exploração internacional dos recursos naturais da Amazônia; a violência, o narcotráfico e a exploração sexual dos povos locais; o extrativismo ilegal e/ou insustentável; o desmatamento; o acesso à água limpa e ameaças à biodiversidade; o aquecimento global e possíveis danos irreversíveis; a conivência de governos com projetos econômicos que prejudicam o meio ambiente.

O relatório final do Sínodo, elaborado em cinco capítulos e 120 parágrafos, é um documento esperançoso que enfatiza e atualiza a autêntica Teologia da Libertação. Com profundas raízes teológicas no movimento-Jesus, embasa uma prática pastoral missionária para a pan-Amazônia. Os títulos dos capítulos e de seus parágrafos dão uma ideia de sua importância. Alguns destaques de cada capítulo:

1 - Amazônia: da escuta à Conversão Integral. A voz e o canto da Amazônia como mensagem de vida, o clamor da terra e o grito dos pobres (indígenas, camponeses, ribeirinhos, afrodescendentes, migrantes) são apelos para uma conversão integral: “uma leitura orante da Palavra de Deus”. Igreja com o rosto amazônico e missionário. Os desafios da inculturação e da interculturalidade.

2 - Novos caminhos de Conversão Pastoral. Uma Igreja samaritana: referência ao diálogo de Jesus com a samaritana (Jo 4) e ao bom samaritano (Lc 10,29-37); madalena, que se sente amada e reconciliada, anunciando com alegria e convicção o Cristo crucificado e ressuscitado; mariana, gerando filhos para a fé, educando-os com carinho e paciência e aprendendo com as riquezas dos povos. Uma Igreja servidora, kerigmática, inculturada no meio dos povos. 

3 - Novos caminhos de Conversão Cultural. Conversão cultural: que o outro aprenda com o outro. O outro, que são os povos originários da Amazônia com suas tradições, lendas, práticas religiosas, festas, costumes, sobretudo trato com a natureza e valores de reciprocidade, solidariedade, sentido comunitário, igualdade, família, organização social e sentido de serviço.

4 - Novos Caminhos de Conversão Ecológica. Uma Ecologia Integral, holística. Cuidar da Casa Comum, ou seja, da vida do planeta e dos seus habitantes. Pecado Ecológico: “Uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o ambiente”. 

5 -  Novos caminhos de Conversão Sinodal. Relevando muito o papel da mulher na pastoral da Igreja, máxime na Amazônia, os sinodais anseiam: “Gostaríamos de compartilhar nossas experiências e reflexões com a Comissão [estuda a pedido do Papa o diaconato permanente para a mulher]. Esperamos seus resultados.”

Ante a enorme carência de sacerdotes nas comunidades, o Sínodo sugere a ordenação sacerdotal de homens idôneos e reconhecidos da comunidade, que tenham um diaconato permanente fecundo e recebam uma formação adequada, podendo ter família legitimamente constituída e estável, para sustentar a vida da comunidade cristã mediante a pregação da Palavra e a celebração dos sacramentos nas zonas mais remotas da região amazônica.

Um Sínodo assessora. O papa decide e comanda.

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