Voltar a todos os posts

Setembro Amarelo: Posvenção do suicídio

15 de Setembro de 2021, por João Magalhães

Isto mesmo, como está escrito: “Posvenção”. Palavra não dicionarizada, mas é o termo que se está usando para significar o trabalho que se faz com os familiares de pessoas que praticaram o suicídio, ou tentaram praticá-lo.

Esta coluna, dada a gravidade dos acontecimentos aqui em nosso município, normalmente no mês de setembro, tem abordado o preocupante problema do autocídio (“Suicídio, você já pensou nisso?- “Setembro Amarelo” -“Setembro Amarelo e a morte autoinfligida”, respectivamente nos números 23, 162 e 197 deste jornal).

Fala-se muito de prevenção; não tanto, porém, da preocupação que se deve ter com os pais, irmãos, familiares e amigos do suicida.

A psicanalista Mônica Marchese Damini (“Setembro Amarelo: pósvenção (sic) do suicídio. Você sabe o que é isso?”) escreve: “Pósvenção (sic) é o suporte ao luto e a prevenção do suicídio aos enlutados e suas futuras gerações. Os sobreviventes são principalmente os familiares, mas também os amigos, os provedores de ajuda, como os bombeiros que prestaram socorro, médicos que fizeram o atendimento, os terapeutas e a comunidade toda que foi impactada pelo suicídio.”

Mônica, que têm experiência nesse trabalho de posvenção, apresenta dados que engendram preocupação. Cinco a dez pessoas são impactadas diretamente pelo suicídio de alguém próximo; as pessoas enlutadas por suicídio costumam ter um luto mais longo e mais difícil, tanto em intensidade como duração, é diferente do luto normal. Existe muita dificuldade em compreender os motivos e atitude do suicida. Os familiares sentem-se abandonados e questionam o porquê de a pessoa não ter sequer pensando neles; os sobreviventes sofrem impactos físicos, sociais, cognitivos e psicológicos e muitas vezes se torturam com a crise do “e se” (E se eu tivesse feito isso? E se eu não tivesse feito aquilo? E se eu tivesse percebido? Etc.).

No suicídio, a dor de quem tirou a vida é transferida para quem ficou. Ficam para a família as culpas, a vergonha de falar no assunto e o afastamento que a própria comunidade acaba fazendo com ela por não saber como lidar com isso ou como falar com ela. E essas pessoas, que precisam tanto de apoio e acolhimento, acabam ficando cada vez mais isoladas. A vida é muito diferente antes e depois do suicídio de alguém amado.

Como a posvenção é basicamente prevenção, uma vez que um suicídio pode motivar outros, há que se desfazer mitos, tais como: os indivíduos suicidas estavam mesmo determinadosa se matar; toda pessoa que pensa em suicídio tem transtorno psiquiátrico; quem fala em se matar quer apenas chamar a atenção; que falar com alguém sobre suicídio pode encorajar a praticá-lo; os suicídios, em sua maioria, acontecem de repente; quando um indivíduo melhora ou sobrevive, não o praticará mais... Há que se diluir preconceitos, como: quem consulta psiquiatra é doido.

Segundo o instituto Vita Alere (latim: “alere”: alimentar, nutrir) de Prevenção e Posvenção do Suicídio, cabem aos sobreviventes do suicídio os direitos seguintes:

  • Enlutar-se a seu modo e conforme o tempo que for necessário.
  • Saber a verdade sobre o suicídio, ver o corpo do falecido e organizar o funeral, considerando suas necessidades, ideias e rituais.
  • Considerar o suicídio como resultante de causas inter-relacionadas que provocaram uma dor insuportável na pessoa que cometeu o suicídio: o suicídio não foi meramente uma escolha.
  • Viver plenamente, com alegria e tristeza, livre do estigma ou julgamento.
  • Respeitar sua privacidade e a do morto.
  • Receber apoio de parentes, amigos, colegas e outros sobreviventes, assim como de profissionais habilitados, com o conhecimento e o discernimento da dinâmica do processo do luto, dos potenciais fatores de risco e suas consequências.
  • Entrar em contato com o médico ou cuidador (se houve) que acompanhou a pessoa que cometeu o suicídio.
  • Não ser considerado como um candidato ao suicídio ou como um doente mental.
  • Compartilhar sua experiência com outros sobreviventes, cuidadores e com todos que buscam a ampliação do conhecimento acerca do suicídio e do luto por suicídio.
  • Não se exigir ser a mesma pessoa de antes: há uma maneira de se viver antes do suicídio e outra depois dele.

É o que penso. E você?

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário