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Um soneto a São João Del Rei

19 de Novembro de 2015, por João Magalhães

Ilustração (Lucas Lara)

Desta vez abandono o espírito da coluna, que é o de abordar assuntos polêmicos requisitando a opinião do leitor. Desta vez, apenas uma curiosidade.

Mexendo, por este meio tempo, na bibliografia de apoio, acumulada por anos para o ensino da literatura infanto-juvenil, no Colégio Stella Maris, São Paulo, capital - textos teóricos e obras, que retenho até hoje - dei com um livro da professora Carolina Rennò Ribeiro de Oliveira: “Leituras Escolhidas”. Ainda na capa: “Como escrever sem erros. 5º ano e admissão”.

Carolina Rennò merece mais que esta ligeira apresentação. Mineira de Paraisópolis, nascida em 1902 e falecida em 1975. Estudou contra a vontade do pai (renunciou por isso até a própria herança). Fez carreira em São Paulo, onde é nome de escola. No começo, lecionava em escolas da periferia. Vocação de educadora e grande talento, cria um nome pela inovação na metodologia do ensino, no pioneirismo em livros didáticos, fundando até uma editora (Editora do Mestre Ltda).

O “admissão” levou minhas lembranças para a época em que fazer o curso ginasial (atual 5ª a 8ª séries) era difícil e o postulante era submetido a uma espécie de vestibular para conseguir uma vaga. Eram comuns, então, os cursinhos preparatórios, chamados de “Cursos de Admissão”.

O seminário menor dos padres camilianos em Santa Catarina (Iomerê, distrito da cidade de Videira, hoje município) exigia, conforme o estado do ingressante, o curso de admissão que era oferecido pelas Irmãs Marcelinas, aí vizinhas.

Cito isso para elogio do nosso respeitável “Assis Resende”: a formação intelectual que recebíamos de nosso Grupo Escolar era de primeira. Para se ter uma ideia, tirávamos o diploma de grupo dominando a análise sintática (antigamente análise lógica!).

Chegando com as aulas já iniciadas no seminário, fui convocado pelo diretor (padre Jorge Davanzo, camiliano) para um teste. Ficou impressionado pelo ensino recebido no Assis Resende e dispensou-me de imediato do curso “Admissão”.

De novo o “Assis Resende” me tirou de grande aflição. Aulas de latim iniciadas havia mais de um mês, fiquei à deriva, confuso, entendendo pouco. O caminho se abriu quando percebi que o latim é estruturalmente ligado à análise sintática. Sem sabê-la, ninguém aprende latim e graças ao nosso Grupo Escolar eu a sabia e muito bem. Daí pra diante foi um pulo.

Mas voltemos ao título: “Um soneto a São João”. Folheando o livro citado eis que vejo o soneto abaixo, ipsis litteris:

 

SÃO JOÃO D´EL-REI

Pereira da Silva

São João d`EL-REI. Gente de paz e amiga.
Igrejas seculares. Clima são.
Serenidade que não há quem diga
Tal como a sente, ao vivo, o coração.

 

Relíquias reais. Siga por onde siga
Encontra, a cada passo, o homem cristão
Um motivo de culto ou admiração
Pelos heróis da nossa história antiga.

 

Rio das Mortes. Tiradentes. Quanta
Venera imorredoura nesta santa
Jerusalém da nossa liberdade!

 

Cidade a um tempo augusta e merencória
Mas, por igual, padrão de orgulho e glória
Do sangue fértil da brasilidade.


Pereira da Silva? Quem seria? Com este sobrenome só conhecia Oscar Pereira da Silva, pintor, de quem aprecio muitos quadros.

 

O Google me respondeu: Antônio Joaquim Pereira da Silva, advogado, poeta, crítico literário e jornalista paraibano, atuando no Rio de Janeiro (*Araruna/PB 1876 - +Rio de Janeiro 1944). Foi o primeiro paraibano a ingressar na Academia Brasileira de Letras.

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