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Uma conversa sobre o Natal

13 de Dezembro de 2020, por João Magalhães

O mês de dezembro é muito pontilhado pelos símbolos do Natal: Papai Noel, São Nicolau (em alguns países, Santa Claus, por causa de “Sinterklass”: São Nicolau em holandês), a árvore, as luzes, a estrela e sobretudo o presépio para o Catolicismo.

O Natal deste ano será diferente por causa da pandemia? Sei lá! Nota-se, nos últimos meses, um relaxamento meio generalizado quanto aos cuidados para evitar a propagação da Covid-19.No entanto, deveria ser o contrário, pois o Natal é a comemoração do nascimento, representado pelo nascimento de Jesus. A vida que nasce e renasce. Seus símbolos mostram isso: o velho Noel acarinhando e presenteando uma criança, a árvore florindo e gerando frutos, a luz dos astros sem a qual não existe vida, o menino numa manjedoura que mais tarde, segundo a tradição, dirá: “Eu sou o caminho, a verdade e a VIDA”.

Já a Covid-19...  Apareceu e se inscreveu nos símbolos da morte. Tem sentido você comemorar o Natal, propagando esse vírus?

Há que se revitalizar os símbolos, que são sinais que mexem com o nosso interior, tanto no sentido positivo quanto no negativo, como é a suástica para um nazista e para um judeu. Todo símbolo é sinal, mas nem todo sinal é símbolo. Por exemplo, uma fumaça é sinal de algo que está queimando. Vira símbolo quando vinda de um incenso, levando uma pessoa a uma atitude de veneração, de oração etc.

É neste sentido que a revitalização é necessária. Os símbolos tendem a desgastar-se pela ação dos tempos (E vem a mania do latim: “Tempus edax rerum” – o tempo(esse) devorador das coisas!).

Ultimamente, acho eu, os símbolos do Natal pouco significam. São mais sinais que símbolos. Objetos de decoração, de enfeite, de propaganda e até de competição. Estamos esvaziando seu sentido fundamental.

Precisamos re-simbolizar os sinais de nossas festas. Atualizá-los para que reforcem as atitudes positivas. Por que não montar um presépio, de preferência com o fundo musical da “Missa dos Quilombos”, com texto do nosso “profeta” recentemente falecido, Dom Pedro Casaldáliga?

Neste presépio, o menino Jesus é um recém-nascido negro; sua mãe Maria, uma jovem negra: seu pai José, também um negro. Deu à luz em miseráveis condições (lembro ao leitor que “presépio” vem do latim: “praesepis”, que significa curral, estábulo) devidas ao preconceito racial estrutural que grassa ainda pelo mundo todo e continua matando o povo negro pelas forças policiais, fome, miséria, abandono. E o Brasil não é exceção, mesmo que alguns de nossos governantes digam o contrário!

E finalizo com o nosso genial Machado de Assis, por sinal nada religioso de frequência. Basta ver como se aproveita de um evento do Natal, baseado em lendas, que é a Missa do Galo (conto “Missa do Galo”. Curto, pode-se lê-lo pela internet), para uma reflexão sobre a educação social de sua época: machismo para o menino, subserviência para a menina.

E quanto a seu “Soneto de Natal”:

 

“Um homem – era aquela noite amiga/ Noite cristã, berço do Nazareno/ Ao relembrar os dias de pequeno/ E a viva dança, e a lépida cantiga/

Quis transportar ao verso doce e ameno/ As sensações da sua idade antiga/ Naquela mesma velha noite amiga/ Noite Cristã, berço do Nazareno/

Escolheu o soneto... A folha branca/ Pede-lhe a inspiração, mas frouxa e manca/A pena não acode ao gesto seu/

 E, em vão, lutando contra o metro adverso/ Só lhe saiu este pequeno verso: “Mudaria o Natal, ou mudei eu?”

Machado, acho que não há solução para o problema que você poetizou se os dois não mudarem. O ser humano, como você bem trata na sua obra, vive numa eterna transformação. Vida supõe movimento (“Vita est in motu immanenti”,) que, por sua vez supõe mudança.

Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades/ Muda-se o ser, muda-se a confiança/ Todo o mundo é composto de mudança/ Tomando sempre novas qualidades”.

Re-significar os eventos sociais e religiosos, ora extirpando suas raízes malignas, ora fortificando-as, quando vitais, é uma necessidade e faz parte da missão do ser humano...  Por enquanto, o único ente capaz de fazê-lo.  E o Natal é um deles.

É o que penso. E você, leitor?

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