Terminou recentemente na Rede Globo mais uma edição do programa “Superstar”, competição entre bandas e artistas disputando um lugar ao sol na indústria fonográfica e nos nossos HDs e memória dos celulares. Volta e meia em conversas com amigos a pergunta recorrente é: qual a contribuição para a música de programas como “The Voice”, “Ídolos” ou “Superstar”? É uma pergunta um tanto quanto difícil de responder, mas não vou me furtar de dar minha opinião, que é um misto de crítica com alguns elogios.
O formato de competição musical na TV é algo que faz parte da nossa história, desde os tempos dos mitológicos festivais dos anos 60. Naqueles tempos, a torcida por essa ou aquela música gerava debates apaixonados quase futebolísticos, opondo “A Banda” de Chico Buarque e “Disparada” de Geraldo Vandré e outras tantas finalistas de festivais inesquecíveis. Eram outros tempos, de uma ditadura opressora que tinha na música uma válvula de escape e canal de manifestação. Tempos de lutas políticas que levaram o público a proferir uma vaia monstruosa à belíssima “Sabiá” de Chico e Tom Jobim, que havia vencido a engajada “Pra não dizer que não falei das flores” de Vandré no Festival Internacional da Canção de 1968. Foram festivais que revelaram grandes artistas e músicas, porém os próprios músicos indicaram o desgaste do formato de competição e aos poucos se afastaram. Dizia-se que havia sido criada uma fórmula de “música de festival”, para fisgar o gosto do público e aumentar as chances de vitória, que estaria podando a criatividade e fechando portas para a novidade.
Minha primeira crítica vai por essa linha: para conquistar o público – que tem mais peso ou é quem decide sozinho nos programas de hoje – os artistas apelam para um repertório sem novidade, de músicas batidas ou que estão na moda. Ou abusam de interpretações vocais virtuosas e de certa forma exageradas, mas que na maioria das vezes soam como uma imitação de Celine Dion ou de Joe Cocker. Neste quesito, vai um ponto para o programa “Superstar”, no qual ainda aparecem artistas com peito de mostrar música autoral, já que nos programas de formato mais individual como “The Voice” ou “Ídolos” é muito raro isso acontecer.
Minha segunda crítica é de cunho técnico. Nos programas da Globo até hoje não é claro para mim duas coisas: o papel dos jurados-padrinhos e os critérios de seleção dos participantes. O que mais se vê dos jurados são comentários inócuos ou só elogios e que nada acrescentam, tanto para quem compete quanto para nós que assistimos. Talvez eles devessem aprender a ser um pouco mais “maus” como os jurados do Masterchef para o público entender melhor as dificuldades de ser cantor: desde a escolha do repertório até como fazer uma boa interpretação do ponto de vista de técnica de voz e presença de palco. Sobre a escolha dos participantes, gosto do esquema do “Ídolos” (ou “American Idol” na versão americana), o famoso “vai quem quer”. As seletivas em várias cidades são abertas para quem quiser tentar, o que me parece mais democrático e, estatisticamente falando, aumenta a chance de aparecer alguém que sabe cantar para valer. Nos programas da Globo, não fica claro o critério da seleção, o que abre espaço para diversos rumores sobre apadrinhamentos e indicações de gravadoras.
Tendo feito essas críticas, ainda assim vejo um ponto positivo. Ao menos um espaço razoavelmente nobre da TV está aberto para músicas de boa qualidade e revelando alguns artistas novos. E se pensarmos na penetração que a Globo tem nos lares pelo país afora, isso não é pouca coisa. Porém, não espero descobrir a próxima revelação da música brasileira em um show tão pasteurizado assim. Aliás, falando em pasteurização, nota zero para a Globo que não deixa as bandas tocarem ao vivo no “Superstar”, como ficou evidente nessa última edição.
(vejam aqui: https://www.youtube.com/watch?v=keAd0Vj5Q8c). Mesmo assim, não deixo de assistir alguns dias e ainda me divirto quando a música é boa.