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Carbono

17 de Setembro de 2015, por Renato Ruas Pinto

Tenho sempre escrito aqui na Trilha Sonora sobre a boa qualidade de trabalhos recentes da música e não podia deixar de comentar um excelente lançamento deste ano, o álbum “Carbono” do cantautor Lenine. Para os padrões midiáticos dos dias de hoje, nos quais o sucesso de artistas é medido em milhões de views, curtidas ou seguidores em redes sociais, Lenine poderia até ser considerado um artista “alternativo” ou algum adjetivo parecido. Porém, quando se olha a extensão da sua obra, os artistas que já o gravaram e, principalmente, aqueles que se dizem influenciados por ele é que se tem a noção da sua grandeza e importância na nossa música. E ainda merece alguns pontos extra pela maneira independente como ele produz seu trabalho, sem amarras com fórmulas para sucesso automático ou modas passageiras. Em outras palavras, um artista autêntico.

Lenine saiu de sua cidade natal, Recife, com 20 anos e foi levar sua música para o Rio de Janeiro. Após participar de um festival na Rede Globo, lançou o seu primeiro disco, “Baque solto” em 1983, em uma parceria com Lula Queiroga. Lenine começa então a ser reconhecido como compositor e tem músicas gravadas por Elba Ramalho e trabalha também em trilhas sonoras. Somente em 1993 viria mais um álbum, desta vez em parceria com o respeitado percussionista Marcos Suzano. O primeiro disco solo, “O dia em que faremos contato” só viria em 1997, mas já chegaria com o devido reconhecimento através de dois prêmios Sharp. E depois viria uma sucessão de álbuns premiados e uma carreira que decolaria no Brasil e exterior, além do reconhecimento dos seus pares, com vários artistas consagrados como Milton Nascimento e Gilberto Gil gravando músicas suas.

Lenine agora traz “Carbono”, um disco excelente e de sonoridades surpreendentes. Em uma entrevista recente, Lenine se definiu como um roqueiro, fã de grupos como Led Zeppelin. Mas, ao mesmo tempo, ele se diz muito influenciado pelo Clube da Esquina. E talvez a palavra que melhor define seu trabalho seja justamente “fusão”. Logo na faixa de abertura, “Castanho”, Lenine já mostra que é difícil rotular o seu estilo: uma música de levada rock, mas com uma percussão que lembra as suas origens nordestinas Lenine e a base conduzida por uma viola caipira. Daí para frente, o disco alterna entre estilos, como o rock explícito de “O impossível vem pra ficar”, o maracatu de “À meia noite dos tambores silenciosos” ou o frevo de “Cupim de ferro” (que conta com a participação da Nação Zumbi).

E a partir daí vem uma sucessão de ótimas faixas que vão de baladas como “Simples assim” ou, fazendo jus ao autodeclarado título de roqueiro, “Quem leva a vida sou eu”, cuja letra é uma brincadeira com a música de Zeca Pagodinho. E falando em letras, mais uma nota dez para o disco, que capricha nas poesias. Suas músicas vão do intimista a canções com mensagens engajadas como “Quede água”, que trata de uma questão atual, o mau uso da água, sem resvalar para o óbvio ou lugar comum. Some-se todos estes elementos a uma produção de primeira linha e arranjos bem elaborados e não fica a dúvida da audição obrigatória. Em suma, um disco moderno e corajoso, que segue provando que ainda se produz material de primeira linha em terras brasileiras. Basta procurar nos lugares certos.

E falando em procurar, sabem o que é o melhor de tudo? O autor disponibilizou o

 

álbum para audição gratuita. Confiram lá na página da Trilha Sonora: https://www.facebook.com/TrilhaSonoraBR.

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