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13 de Janeiro de 2015, por Renato Ruas Pinto

A melhor maneira de escrever sobre música é ir atrás de sons novos e poder ouvir o que está sendo criado de bom. Com toda a certeza, a grande rede facilita e muito o trabalho, já que os artistas novos se aproveitam para divulgar o trabalho em sites próprios, em redes sociais voltadas para a música (a mais popular hoje é o SoundCloud – www.soundcloud.com) ou mesmo plataformas comerciais como o Deezer ou Spotify, sobre as quais pretendo escrever em breve. E é claro, para escrever há que se ler também, buscar resenhas e matérias de divulgação e ficar antenado no que amigos músicos estão comentando. Nessas procuras, esbarrei recentemente em dois artistas que vale a pena escutar e conhecer melhor: Edu Kneip e Ligiana Costa.

Edu Kneip é paulista, porém, radicado no Rio de Janeiro. E no Rio ele bebe em fonte pura do samba, estilo que melhor define seu trabalho. O samba é um estilo um tanto quanto ortodoxo e seus artistas costumam ser puristas que pouco investem em fórmulas novas. Afinal, para que mexer em time que está ganhando? Edu Kneip, porém, segue uma linha mais ousada e é nítida a influência na música de dois grandes renovadores do samba: João Bosco e Guinga. Tal como Guinga, Edu traz para o samba outros ritmos como o baião, dando uma refrescada no estilo, tanto nas melodias quanto nas harmonias. Guinga, aliás, empresta sua voz a uma das faixas do disco de estreia de Edu, “Da Boca Para Dentro” de 2005. Nesse trabalho Edu preferiu privilegiar o trabalho de compositor e entregou as vozes para convidados de primeira linha – além do Guinga estão lá Leila Pinheiro, o grupo Garganta Profunda e outros – e só mostrou a voz em uma faixa. É um trabalho de fôlego, no qual Edu também mostra o bom trabalho como letrista, apesar de a maior parte das letras serem assinadas pelo parceiro Mauro Aguiar. Resumindo, é um álbum de primeira grandeza: músicas excelentes com letras à altura e ótimos arranjos. Para ser ouvido sem moderação e com bastante cuidado.

Ligiana Costa é brasiliense e talvez por isso tenha um espectro de influência mais amplo, já que Brasília é uma terra de culturas diversas que reúne em um só lugar todo o nosso país. É cantora lírica de formação e, como esperado, tem um domínio e tanto da voz. Após passar alguns anos na Europa estudando música, voltou ao Brasil e lançou seu primeiro disco “De Amor e Mar” de 2009. Para o disco de estreia Ligiana caminhou principalmente pelo samba. O disco mescla clássicos de autores consagrados como Cartola, Baden Powell com autores novos e ela própria já apresenta algumas músicas suas. No segundo álbum, “Floresta” ela já coloca o lado de compositora bem mais à vista e apresenta um trabalho de primeira. Gravado em um estilo “ao vivo”, com músicos e cantora juntos, é outro disco completo, com ótimas músicas e arranjos muito bem elaborados. Vale a pena explorar bem os dois discos e eu mesmo ainda estou descobrindo ambos.

 

Dois excelentes artistas e com potencial para serem comparados aos grandes da MPB. Porém, nos dias de hoje, sabemos que dificilmente eles terão a aclamação popular que os grandes tiveram no passado. Por outro lado, como se vê, com a internet temos acesso fácil a trabalhos que há alguns anos talvez só conheceríamos estando na mesma cidade ou região. Então, se não toca no rádio, que nossas vitrolas – ou computadores – os toquem.

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