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O Blues britânico

18 de Novembro de 2020, por Renato Ruas Pinto

O blues é um estilo musical surgido no sul dos EUA e foi uma das principais formas de expressão do sofrimento dos negros daquela região do país. Ainda que libertos, eles conviviam com a miséria, com a exploração e a negação de todos os direitos humanos em estados que até os anos 60 possuíam leis abertamente racistas e segregacionistas. Nascido de uma fusão de músicas africanas com cantos de trabalho e religiosos, o estilo cresceu, popularizou-se e está na raiz de outros gêneros musicais importantes, como o jazz e o rock.

O estilo teve um caminho curioso. Muito popular nos EUA até os anos 50, o blues perdeu espaço para o rock e foi quase esquecido no seu país de origem. Porém, os discos cruzaram o Atlântico e desembarcaram na Inglaterra e Irlanda, onde renasceu com características próprias nos anos 60. Uma febre de blues tomou a Grã-Bretanha com o surgimento de vários clubes dedicados ao ritmo e diversas bandas e artistas que se projetaram internacionalmente.

Com forte influência da sonoridade do blues de Chicago, mais apoiado na guitarra elétrica, o blues britânico definitivamente acrescentou mais peso e distorção. Com o sucesso de grupos britânicos, como o Bluesbreakers de John Mayall, o Cream, e mesmo os Rolling Stones – que nasceram como um grupo de blues –, o estilo renasceu nos EUA. Felizmente, grandes lendas como B.B. King, Muddy Waters, Howlin’ Wolf e John Lee Hooker tiveram uma segunda chance na carreira e voltaram aos holofotes com uma ajuda dos seus fãs britânicos.

Para conhecer um pouco do blues britânico, listo abaixo alguns discos importantes do estilo e que são garantia de música de qualidade.

 

Blues Breakers with Eric Clapton (John Mayall & The Bluesbreakers): John Mayall era o líder da banda e um dos pioneiros do blues na Inglaterra. Ele recrutou para o grupo um jovem e ainda pouco conhecido Eric Clapton, um estudioso do blues e que, no conjunto de Mayall, rapidamente despontaria como um dos maiores guitarristas da Inglaterra. A guitarra de Clapton chamou atenção imediatamente e criou uma legião de fãs. Dizem as lendas, a inscrição “Clapton is god” (Clapton é deus) teria aparecido pintada nas paredes de Londres na época, tamanho foi o impacto do guitarrista.

 

Mr. Wonderful (Fleetwood Mac): a grande maioria do público conhece a fase mais pop da banda, de discos de grande sucesso, como “Rumours”, com Stevie Nicks e Lindsay Buckingham na formação. Mas a banda nasceu dedicada ao blues, com o virtuoso Peter Green nas guitarras. Green, aliás, foi outro guitarrista revelado por John Mayall e que teve a difícil missão de substituir Clapton no grupo. Peter Green, infelizmente, teve sérios problemas psiquiátricos que praticamente acabaram com sua carreira. De todo modo, a fase inicial do Fleetwood Mac é excelente para fãs mais puristas de blues.

 

Fire and Water (Free): o grupo Free ficou conhecido pelos ótimos shows e pelo talento precoce da banda, que despontou quando alguns membros ainda eram menores de idade. O grupo teve uma breve duração, de 1968 a 1973, mas chamou atenção na cena e teve relativo sucesso comercial. A precocidade da banda talvez tenha cobrado um preço alto e, logo após o fim do grupo, o talentoso guitarrista Paul Kossoff faleceu muito jovem, provavelmente por conta do uso de drogas e vida desregrada.

 

Além dos discos citados aqui, já escrevi na coluna sobre um ótimo tributo que os Rolling Stones fizeram recentemente ao estilo, Blue & Lonesome (https://www.jornaldaslajes.com.br/colunas/trilha-sonora/as-pedras-que-ainda-rolam-e-lancam-bons-discos/1008). Conhecidos como um grupo de rock, foi o blues que aproximou os jovens Mick Jagger e Keith Richards, que formaram uma banda dedicada ao estilo. Não por acaso, o nome da banda veio de uma canção de um disco de um ícone do estilo: Muddy Waters.

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