A Barbacena portuguesa, a 22 km da fronteira com Espanha

Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro era governador e capitão-general de Minas quando fundou a cidade de Barbacena em 1791.


Cidades

José Venâncio de Resende0

Vista geral de Barbacena, Portugal (fotos cedidas pela professor Graça Mendes).

Barbaris Scena/Barvacena/Barbacena, cerca de 400 habitantes, localizada no Alto Alentejo a 15 km de Elvas, 22 km da Espanha e 220 km de Lisboa. Antiga povoação islâmica, reconquistada pelo rei D. Sancho II na primeira metade do século XIII, deu origem ao nome da cidade mineira de Barbacena, nos Campos das Vertentes.

A Barbacena portuguesa foi sede de concelho (município) até 1837 quando passou a integrar o concelho de Elvas. Atualmente, é sede da União das Freguesias de Barbacena e Vila Fernando.

Origem do nome

A palavra Barbacena pode ter várias origens, no encontro das línguas arcaicas da Península Ibérica e a sua influência de dominação moura, observa Graça Maria Mendes, designer e professora de artes no Instituto de Ciências Educativas de Lisboa. Natural de Barbacena, Graça fez uma breve pesquisa sobre a história do povoamento, atendendo pedido do JL. 

Literalmente, o nome viria da expressão “Barbaris Scena”, que os romanos deram a este sítio que lhes resistiu. Esta primeira hipótese, ainda que remota, pertence a Aires Varela (Teatro Histórico, 1915). A localidade encontrada pelos romanos, quando conquistaram Elvas, seria uma antiga aldeia de celtas (povo bárbaro) com choças e ramadas onde se abrigavam das intempéries. 

O nome de “Barvacena” surge na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, com a aprovação régia de 1251, imposta pelo chanceler D. Estevão Annes. Assim, o nome pode ter origem na vegetação dominante no terreno: barvosas, barveitos e barveitas, barvedos, barvais, etc. 

“Recentemente, descobri que no primeiro mapa de Portugal, que se tem conhecimento, do matemático e cartógrafo português Fernando Alvarez Seco (1561-85), a localidade aparece com o nome ´Borbacem´”, revela Graça Mendes.

Breve história

O povoamento do burgo, possivelmente desenvolvido sobre um castelo pré-romano, fez-se a partir da doação de Barbacena a D. Estêvão Annes, chanceler-mor do rei D. Afonso III, no ano de 1251. Na carta de doação, confere-se a Estêvão Annes a capacidade de governo próprio e fora do contexto do poder régio.

A 1.º de Outubro de 1388, o rei D. João I doa Barbacena ao seu guarda-mor e alcaide de Évora, Martim Afonso Melo, a quem é sucessivamente atribuído o senhorio de Barbacena. Em 1519, o rei D. Manuel I daria novo foral à vila, ordenando a reconstrução do seu castelo. 

Senhor de Barbacena

Em 1536, Barbacena é morgadio de D. Jorge Henriques, caçador-mor do rei D. João III, a quem se deve o arranque da construção do castelo. Três anos mais tarde, a fortificação é comprada por Diogo de Castro do Rio, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Fidalgo da Casa Real, o primeiro a usar o título de senhor de Barbacena. 

Em 1575, Martim Castro compra a vila de Barbacena por 28.500 cruzados, embora sem direitos de jurisdição e administrativos que todavia conseguiu obter no fim da sua vida em 1612. A partir de então, a vila passa para o domínio do ramo Furtado de Mendonça que resiste com heroísmo aos cercos de 1660, 1708 e 1712. O castelo continuaria na posse da mesma família durante largos anos.

Conde de Barbacena

Luís Antônio Furtado de Castro do Rio de Mendonça e Faro (1754-1830) era governador e capitão-general de Minas Gerais no Brasil, quando em 1791 fundou a cidade de Barbacena. Formado em Direito e Filosofia, um dos fundadores da Academia Real das Ciências e veador (camarista) da princesa D. Carlota Joaquina, foi eminente personagem da vida cultural portuguesa do século XVIII. Em 1816, o rei D. João VI criou o cargo de conde a seu favor, tornando-se assim o 1.º conde e 6.º visconde de Barbacena. 

Em 1830, foi sucedido pelo seu filho, Francisco Furtado de Castro do Rio de Mendonça (1780-1854), 2.º conde e 7.º visconde de Barbacena. O século XIX seria nefasto para a povoação de Barbacena, bombardeada e saqueada em 1801 perante o avanço espanhol que fez do Alto Alentejo uma caminhada sem oposição e sem glória. Só a paz e a diplomacia portuguesa não evitaram a perda de todas as povoações da raia histórica do distrito de Portalegre, com exceção de Olivença. 

A guerra civil, na primeira década do Liberalismo, afastou definitivamente Barbacena dos corredores reais. O seu apoio ao absolutisa D. Miguel (contra os liberais liderados por D. Pedro, de volta a Portugal)  e o saque à documentação do cartório de Barbacena foram determinantes para a extinção do concelho de Barbacena em 1836, numa época em que parte da população abandonava a terra dos seus pais e avós. 

O 2.º conde de Barbacena chegou a residir no castelo onde, pela sua generosidade, soube cativar as simpatias dos moradores da vila. Não esquecendo o afeto da sua gente, quis-lhes afirmar o seu eterno reconhecimento ao construir o Asilo do Conde de Barbacena, hoje, Centro Social N.ª Senhora do Paço. Morreu sem geração, pelo que o seu título se extinguiu. 

Castelo de Barbacena 

O castelo de Barbacena é classificado como Imóvel de Interesse Público (IIP), conforme Decreto n.º 47 508 (24 janeiro 1967), por seu papel histórico na proteção da antiga vila e na independência da nação. O mau estado de conservação em que se encontra não é de agora. 

A reconstrução, provavelmente de um castelo medieval, foi ordenada em 1519 pelo rei D. Manuel.  Seu traçado foi alterado diversas vezes ao longo do tempo, acompanhando a evolução da arquitetura militar. De planta retangular, conservam-se as paredes e a entrada principal, e ainda vestígios de um portal mais antigo, em arco redondo, entaipado. Da muralha da fortaleza, transformada no século XVII em planta estrelada, conservam-se vários troços e alguns elementos abaluartados, bem como torreões baixos (a Torre de Menagem foi derrubada no início do século XVII). 

Vítima de ataques e pilhagens em meados do século XVII e em constante necessidade de modernização para a defesa de uma zona de importância estratégica, a fortificação foi remodelada por Afonso Furtado de Mendonça, bisneto de Diogo de Castro do Rio, o  1.º visconde de Barbacena. 

Depois de sair da posse da família, as ruínas do castelo passaram por vários proprietários. Último proprietário, o fadista Mico da Câmara Pereira, com muitas dívidas e sem condições de requalificar o imóvel, colocou o castelo à venda, em 2015, pelo valor base de 129 mil euros. Atualmente, “o Castelo de Barbacena é mais uma triste e inconcebível ruína do nosso patrimônio arquitetônico que aguarda melhores dias”, conclui Graça Mendes. 

 

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