As várias facetas do polivalente Vilela do Gás


Perfil

José Venâncio de Resende0

fotoVilela do Gás - dinamismo e criatividade em todas as atividades de trabalho às quais se dedica (foto arquivo pessoal)

Homem de várias profissões, José Raimundo Vilela é dinâmico e está sempre irrequieto. Este mineiro de 65 anos, natural de Santa Rita do Sapucaí, é conhecido em Resende Costa como o Vilela do Gás. Filho de José Luiz e de Tereza Maria, ele era ainda criança quando a família se mudou para a cidade paulista de Mogi Guaçu e, aos 27 anos, ele decidiu tocar a própria vida, desta vez em Osasco na Grande São Paulo.    

Antes, aos 14 anos, Vilela resolveu ingressar numa alfaiataria com a intenção de aprender a primeira profissão. “Fiquei lá um ano e meio até aprender alguma coisa.” Depois de fazer algumas calças, desistiu ao concluir o primeiro paletó. “Não gostei da profissão de alfaiate e abandonei tudo.”

Nos anos 1980, Vilela fez um curso de cabeleireiro no Senac de Campinas. De posse do certificado, ele foi trabalhar num salão de beleza (corte e penteado masculino e feminino) em Osasco. Depois de três anos, mudou-se para Belo Horizonte onde acrescentou novas profissões ao seu currículo, e em consequência aumentou a jornada de trabalho.       

Em BH, Vilela aprendeu sozinho a profissão de mecânico de indústria e serralheiro. Assim, em paralelo ao salão de beleza, onde inclusive preparava noivas para o casamento, passou a cumprir o terceiro turno (22h às 6h) na empresa Cia. Industrial de Belo Horizonte. Nesse ritmo, ele viveu dos 30 aos 41 ou 42 anos na capital mineira onde ainda trabalhou como soldador, montador de máquinas e motorista.

 

Portugal

Pai de cinco filhos do primeiro casamento, em 1998 Vilela casou-se com Mécia Aparecida de Jesus Vilela, mais conhecida por Dirce. Dois anos depois, em 2000, embarcou com a família para Portugal. Nem bem chegou a Lisboa, transferiu-se para a cidade litorânea de Quarteira, a pouco mais de 20km de Faro, no Algarve. Curiosamente, não foi atuar em nenhuma das profissões que aprendeu no Brasil. Por indicação de um conhecido brasileiro, tornou-se servente de pedreiro e, em seis meses, foi promovido a oficial, assentando piso de azulejo mediante contrato de trabalho.     

Entre um contrato e outro, atuou em outras atividades como serralheiro de ar condicionado na expansão do aeroporto de Lisboa. A esta altura, já morava na capital portuguesa, o que lhe abriu as portas para o mundo. Foi trabalhar como azulejista em países como Espanha, Principado de Andorra, Bélgica e Gibraltar (território ultramarino britânico no extremo sul da Península Ibérica). Também atuou no Arquipélago dos Açores (ilhas Terceira, Pico e Corvo).

No final de 2014, ao concluir o trabalho que fazia na Bélgica, Vilela passou por sua casa em Lisboa e providenciou a mudança de volta para o Brasil. Ele despachou na bagagem ferramentas e alguns utensílios domésticos.

 

Em Resende Costa

A esposa Dirce instalou-se na casa dos pais, Osvaldo e Ilda, em Resende Costa – ela é irmã de Antônio Olímpio, o conhecido Chá Preto. Enquanto isso, Vilela circulava à procura de emprego por Belo Horizonte, Mogi Guaçu e outras cidades. Mas acabou mesmo por se fixar em Resende Costa onde surgiu um pequeno serviço de pedreiro.

Um dia, Vilela andava em São João del-Rei quando parou em frente a um depósito de gás. “Conversei com o dono e ele sugeriu que eu montasse um depósito em Resende Costa; e se dispôs a me orientar.” Animado com a nova perspectiva, ele viu um lote na Várzea ao lado da loja de roupas e retalhos de Dauri Gonçalves. “Procurei o dono deste terreno baldio e aluguei dele. Só precisei fazer os muros de arrimo e um escritório.”

Já se completaram seis anos que Vilela entrega gás em Resende Costa. “No começo, eu vendia mais ou menos 50 bujões por semana; hoje, vendo cerca de 30 bujões. As vendas caíram na pandemia, ajudado agora pela guerra na Ucrânia.”

 

Hidrogênio

Vilela ainda estava em Lisboa quando seu irmão Benedito descobriu via internet um aparelho que, ao ser instalado no carro, produzia gás hidrogênio, vindo a servir de complemento à gasolina. A pedido do irmão, ele foi até à Almada, do outro lado do rio Tejo, e comprou o aparelho para ser instalado numa Rural Willys de propriedade de Benedito, em Mogi Guaçu.

“Comecei a pesquisar mais sobre o hidrogênio e descobri um chileno que explicava como conseguir um aparelho mais potente, já que o do meu irmão era fraco”, conta Vilela. “Depois de muita procura, consegui encontrar um aparelho que produzia dois litros de hidrogênio por minuto. Cheguei a instalar o aparelho no carro e viajei a São Paulo com ele. Deu uma boa economia, mas a amperagem (intensidade de corrente elétrica) não era suficiente.” Nas duas idas a São Paulo com um carro Motor 1000, o aparelho de hidrogênio permitiu fazer 15,04 e 15,07km por litro, em relação aos 14 km/litro nas viagens normais.   

“Para aumentar a amperagem, eu teria de alterar o sistema do gerador do carro”, explicou Vilela. Mas havia outro problema: “Carro que usa o aparelho de hidrogênio não pode ficar parado em garagem, tem de estar sempre em movimento, para não enferrujar as placas de aço inoxidável”. Este aparelho tem várias placas de aço inox, dispostas paralelamente, para receber energia. “Entre essas placas circula água com bicarbonato ou soda cáustica que, em mistura com a eletricidade, produz o hidrogênio. Este gás na câmara de explosão do motor ou na queima do combustível torna o rendimento do motor mais potente e mais econômico.”.

Vilela pensa em adaptar o aparelho de hidrogênio para a moto que ele utiliza diariamente para entregar gás de cozinha. “Mas para isso preciso arrumar um eletricista com conhecimento para aumentar a amperagem do gerador.”

 

Aquecedor solar

Há mais de dois anos, Vilela instalou um aquecedor solar na sua casa no bairro Nova Resende - um sobrado de três quartos, duas salas e cozinha no piso inferior e ampla sala, um quarto com banheiro e lavanderia no andar superior. O kit tem boiler (reservatório térmico) com capacidade para 200 litros e duas placas coletoras de energia solar.

Destinado ao chuveiro e à cozinha, Vilela considera o aquecedor mais que suficiente para o casal. E ainda atende três a quatro sobrinhos que aparecem alguns fins-de-semana em sua casa.

Com a instalação do aquecedor solar, a conta de energia elétrica caiu para pouco mais da metade do valor. Antes, Vilela pagava em torno de R$ 70,00, valor este que diminuiu para cerca de R$ 40,00. Atualmente, a conta mensal está em torno de R$ 45,00, bem abaixo do valor normal.

 

Igreja

Vilela não descuida do lado espiritual. Em 2000, ingressou na Congregação Cristã em Portugal. Um ano depois, já exercia como voluntário a função de porteiro da igreja que frequentava; função esta que continua ocupando na igreja da Congregação em Resende Costa onde também ajuda na evangelização dos presos no sistema prisional. Já Dirce, que aderiu à Congregação em 2003, faz parte das irmãs da obra da piedade.

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