Adenor Roberto Resende, o Roberto do Sanico, 83 anos, foi homenageado duas vezes em 2024: em 19 de agosto, pelos 50 anos de liderança no movimento católico do Cursilho; e em 18 de dezembro, com o diploma de honra ao mérito da Câmara Municipal de Resende Costa, por indicação do vereador João Dias, pelos seus serviços voluntários prestados ao município.
Na sua curta passagem pela política, Roberto do Sanico foi vereador em Resende Costa no período 1973-76. Na ocasião, assumiu a presidência da Câmara Municipal (biênio 1973-1975), momento em que o então prefeito Geraldo Monteiro de Oliveira renunciou ao cargo (1974), sendo substituído pelo vice Aristides Coelho dos Santos.
Origem e vida na fazenda
Roberto já não vai mais como antes à fazenda do Catimbau, onde nasceu (em 3 de novembro de 1941) e viveu a maior parte de sua vida. Mas continua cheio de vivacidade, caminhando pelas ruas da cidade, apoiado em sua bengala, e conversando com as pessoas.
Roberto é o filho caçula dos primos Domiciano Pinto de Resende, o Sanico do Catimbau, e Lifonsina Augusta de Resende. Ele foi batizado em 1º de janeiro de 1942 na igreja matriz pelo então pároco padre Heitor de Assis, tendo como padrinhos Gabriel da Quitéria e Maria José de Resende.
A infância foi no Catimbau e Roberto só veio a conhecer o irmão Antenor, que estudava para padre no Colégio do Caraça, quando tinha três para quatro anos de idade. Quando estudava na escola do Ribeirão, os colegas lhe tomavam a merenda (broa, requeijão etc.) que a mãe preparava para ele. “Eu era bobinho!”
Da escola de Geraldo Chaves ao Colégio Santo Antônio
Em 1950, o ex-seminarista Geraldo Chaves resolveu criar o Internato e Externato São Jorge. Foi quando seu pai Sanico decidiu transferi-lo para a cidade como interno na escola de Geraldo Chaves, que funcionava na casa que mais tarde se tornaria a Pensão da Elzi. “O ensino era bem rigoroso”, recorda Roberto.
Em 1955, Roberto do Sanico fez a admissão ao antigo ginásio e, por acordo entre seu pai e Geraldo Chaves, foi matriculado no Colégio Santo Antônio, de São João del-Rei, onde estudou entre 1956 e 1959.
Em 1961, Roberto serviu ao Exército no quartel do então 11º Regimento de Infantaria de São João del-Rei, atual 11º Batalhão de Infantaria de Montanha (11º BI Mth). Em seguida, voltou para o Catimbau, onde ajudava o pai nos serviços da fazenda; inclusive, levava a produção (queijo, manteiga, polvilho, fubá, ovos, frango etc.) para vender na cidade, retornando com produtos necessários, como sal e querosene.
Por pouco, Roberto não foi convocado, junto com a sua classe, para se apresentar ao quartel de São João del-Rei durante os preparativos que antecederam ao golpe civil-militar de 1964, quando o 11º marchou para Juiz de Fora. Mas ele nunca chegou a ser comunicado da convocação, o que se pressupõe que tenha havido algum tipo de proteção.
Energia elétrica no Catimbau
O Catimbau recebia muitos visitantes que acabavam por jantar na fazenda, à luz de lamparina, recorda Roberto. “Eu conversava muito com a minha mãe sobre a dificuldade de se preparar o jantar para receber as visitas. Um dia eu sugeri ao meu pai que colocasse energia elétrica na fazenda. Ele respondeu: “Quer colocar luz? Trate dos porcos para engordar mais depressa e assim comprar o material necessário.”
Assim, em meados de agosto de 1962, foi inaugurada a energia elétrica instalada na fazenda do Catimbau, conta Roberto. “Era uma usina particular e exclusiva para a casa à noite. Até hoje existem na fazenda as ruínas da usina, a casa de máquina.”
Quando era necessário, a energia era desviada para o engenho onde trabalhavam muitos homens fisicamente fortes, como João e Sebastião Eliseu. Na ausência de algum trabalhador, Sanico colocava o filho para substituí-lo. “A gente produzia muito açúcar e muita cachaça, grande parte de meia com os vizinhos.”
Família
Roberto casou em 26 de setembro de 1964 com Maria Inis de Resende, filha de Francisco de Paula Miranda, o Chico Carioca, e Julieta de Paula Resende, ela também descendente de João de Resende Costa. Entre 1965 e 1981, o casal teve os filhos Jane, Sandra, Cláudio, Margarete, Ricardo, Letícia e Renata.
Nesse meio tempo, em 1973, Roberto comprou o casarão que pertencia a Sérgio Procópio, no centro da cidade. A esposa e os filhos passaram a viver na cidade no período escolar, de segunda a sexta-feira, enquanto ele trabalhava na fazenda. Toda sexta-feira, pegava seu Jeep – que posteriormente foi substituído por uma Rural - e buscava a família para passar o final de semana no Catimbau. Nessas ocasiões, aproveitavam o tempo para fazer biscoitos e matar porco, que seriam consumidos na cidade. Na segunda-feira, almoçavam cedo e repetiam a rotina da viagem no trajeto inverso.
Convivência com padre Nelson
Por volta de 1944, Roberto foi crismado na igreja matriz pelo bispo de Mariana, tendo o padre Nelson como seu padrinho. Na época em que estudava na escola de Geraldo Chaves, ele sempre se encontrava com o pároco na rua. “Um dia, padre Nelson me convidou para ajudar na bênção do Santíssimo na capela do hospital. A partir daí, comecei a participar das atividades da Igreja, demonstrando interesse pelas novidades, inclusive do Vaticano II (Concílio Ecumênico, entre o período 1962-1965, que implementou diversas reformas na Igreja Católioca), estudando e perguntando ao padre Nelson.”
Em 1974, Roberto foi convidado a fazer o Cursilho de Cristandade, que estava começando na Diocese de São João del-Rei. “Isso despertou ainda mais o meu interesse pelas coisas da Igreja. Tanto que comecei a participar das reuniões da Diocese; por exemplo, ia muito a Lavras para reuniões do Cursilho”, conta Roberto.
Em 1977, Roberto foi convidado para ser o festeiro de São Sebastião. “Eu estava preocupado”, falei ao padre Nelson, “que a festa não desse renda. Ele disse que não me preocupasse, que tudo daria certo”. Formou-se a comissão da festa e dividiram-se as tarefas, conta Roberto.
“No dia da festa, fizemos café da manhã para o pessoal da banda de música na alvorada; isso era novidade porque nunca tinha sido feito antes. Então houve o leilão de gado, que deu receita positiva.” Geralmente, as pessoas doavam gado, porco e galinha para o leilão da igreja, que era feito na praça da matriz (cercada para receber os animais a serem leiloados).
Houve uma época em que padre Nelson decidiu “regionalizar” a cidade, indicando Roberto do Sanico para o bairro do Tijuco. Ali, passou-se a promover rezas de terço, acompanhadas de leilões de bolos, doces e outras guloseimas oferecidas pelo povo. Tudo com a finalidade de arrecadar dinheiro para construir a Capela de Nossa Senhora da Conceição. Com a morte de padre Nelson, em 1988, o dinheiro arrecadado foi entregue ao novo pároco, padre João Rodrigues.