“Intenções da Santa Missa: pela alma da Jovem Desconhecida (5 pedidos).” É difícil encontrar um resende-costense que nunca tenha escutado esses rogos ou, ao menos, ouvido falar dessa tal jovem desconhecida. E foi em meio a este mistério que Janete Helena escreveu um belíssimo romance lançado nos últimos dias.
O túmulo da desconhecida é um bem inventariado do patrimônio cultural de Resende Costa. E foi nesse contexto que nasceu o enredo descrito por Janete Helena em seu primeiro livro. Ao atualizar a ficha de inventário, nos tempos em que trabalhava na Secretaria de Cultura, Janete percebeu que “O Túmulo da Desconhecida” daria um ótimo título para um livro. Foi uma das raríssimas vezes em que o nome nasce antes da obra. Para quem conhece a autora, sabe de sua expertise em dar bons títulos e nomes às coisas. A ideia foi amplamente aprovada pelos confidentes de Janete, inclusive respaldada pelo saudoso Alair Coêlho, de quem recebeu a sugestão de preservar a ideia da forma mais segura possível.
Falando em preservar... Um túmulo de concreto que apresenta aspecto de abandono e ausência de reparos e limpeza chama a atenção de quem anda pelos recantos do cemitério de baixo aqui em Resende Costa. Em meio a trincas, manchas escuras, desgaste superficial, crescimento de vegetação indesejado, inscrições apagadas e sujidades, encontramos o primeiro túmulo a ser utilizado naquele cemitério. Além de fazer parte da tradição religiosa e cultural do município, o bem integra o imaginário popular com o conto da “Jovem Desconhecida”, que já perpassa por décadas. Assim como na vizinha São João del-Rei, que também possui um túmulo de uma jovem desconhecida no famigerado Quicumbi, nossa cidade mantém mistérios e lendas em torno de uma história (ou estória) mal contada.
Mal contada até então... Janete Helena nos fez o favor de desenrolar essa narrativa. Por meio de um romance e do que podemos chamar de autoficção, a autora, em sua surpreendente imaginação, nos convida a mergulhar numa versão jamais traçada. “O Túmulo da Desconhecida” é uma obra de ficção que a gente começa a ler e não quer parar. Uma leitura fácil e instigante que nos leva a querer mais e mais. A protagonista é Luísa e não a jovem desconhecida. O mistério é um pano de fundo perfeito. A jovem, vinda da grande São Paulo, encontra a si mesma onde menos esperava: numa desconhecida cidade do interior mineiro.
Trago aqui, para despertar ainda mais o interesse na leitura, a sinopse do livro:
E se você pudesse, por uma estradinha secundária de cidade do interior, ter acesso a uma parte do seu passado que desconhece? Luísa entrou naquela pequena cidade achando que conhecia tudo que havia para conhecer sobre si mesma: professora universitária, historiadora e jornalista que vagava pelo país num ano sabático. Mal sabia ela que um imóvel herdado de um parente sobre o qual nunca ouvira falar e um túmulo cuja identidade era desconhecida teriam tanto a lhe contar. Depois de se envolver pela cultura local e de se apaixonar pela vida na pequena cidade, Luísa vai investigar e trazer à luz segredos obscuros de sua bisavó que permaneciam resistentes à revelação por mais de um século. Mas será que as ações feitas no passado trariam grandes consequências ao seu presente? Luísa seria a mesma depois de suas descobertas? Por que a Bisa Rosária escondera tanto sobre o seu passado? Descubra nessa jornada todas as consequências de uma escolha e o valor da verdade, finalmente, revelada a quem é de direito. (Helena, 2024).
O prefácio do livro, feito brilhantemente por Samantha Magalhães, traduz bem a escrita de Janete Helena: perspicaz, inteligente e incrivelmente cirúrgica. Concordo com Samantha ao me sentir em casa na leitura do livro. Mesmo sem citar o nome da cidade, estamos em Resende Costa. O poder das letras de Jay nos transporta para aquela história que visualizamos como espectadores a cada página. Assim como a primeira frase escrita, nos encontramos, como nunca, num lugar tão bonito. Dessa forma, me resta colocar aqui o convite poético e irrecusável de Magalhães (2024): “Dobre a esquina e atravesse aquela estrada. Presencie a boniteza rotineira do cotidiano, diga sim para os encontros e, apesar de tantos desencontros, celebre a partilha!”.
E foi no dia 8 de março, dia internacional da mulher, que em terras lageanas oficialmente lançava-se “O Túmulo da Desconhecida”, editora Viseu, 2024. Rodeada de familiares, amigos, colegas e admiradores, a escritora estava radiante. Na mesa de lançamento, da qual tive a honra de mediar, cinco mulheres inspiradoras: a própria Janete Helena, a prefaciadora Samantha Magalhães e as mestras Gagaça Mendes, Regina Coelho e Stela Vale. Todas ratificaram a qualidade da obra e o afeto que nutrimos por Janete. Na plateia, destaque para a presença de André de Resende, artista que assina a ilustração da capa do livro. André, com muita sensibilidade, fez jus à magnificência do texto de Helena. Ao som do duo Nara e César Guedes, pudemos desfrutar de um farto café (de)colonial. O evento não poderia ter acontecido em local mais propício. Pela primeira vez, o CAT (Centro de Atendimento ao Turista) recebeu um lançamento de livro. Janete honra a cada linha o potencial turístico e artístico da capital do artesanato têxtil. Então, que se concretizasse ali um sonho de muitos.
O livro é daqueles que lemos numa sentada só. Seja pela fluidez ou pela curiosidade que nos instiga a cada novo cenário que desvendamos. Por isso e mais, fica a sugestão de leitura. Além disso, é uma ótima opção para presentear. Basta entrar em contato com a autora para adquiri-lo por um preço especial.
Sobre a autora
Janete Helena, filha de José e Antônia, e Maria e Reinaldo, nasceu em 5 de outubro de 1981 na cidade de Resende Costa, interior de Minas Gerais, onde também mora atualmente. Comunicóloga nata, desde muito cedo se interessou pelas letras e, fascinada pelas palavras, fez da escrita a sua paixão constante. Sempre incentivada e acompanhada de perto pelas professoras Gagaça e Regina Coelho, formada pela Escola Estadual Assis Resende e frequentadora assídua de bibliotecas, ela mantém a mente inquieta de ideias e sonhos. Dentre esses sonhos, ser publicada sempre ocupou um lugar especial. Janete se descreve como uma pessoa pensante, falante, combativa, militante e curiosa.
*Psicólogo, chefe de Turismo e Artesanato e amigo-irmão de Janete Helena.