ESPECIAL ANIVERSÁRIO: O “inconfidente filho” e a origem do nome de Resende Costa (final)


Especiais

José Venâncio de Resende0

Estátua de José de Resende Costa, o pai, inaugurada no centenário do município.

O município de Resende Costa – na região dos Campos das Vertentes, Estado de Minas Gerais -, completa 107 anos de emancipação no próximo dia 2 de junho, com mais certeza sobre a origem do seu nome.

Uma nova fonte de informação – descoberta pelo mestrando em História João Carlos Resende* - veio jogar mais luz na antiga questão de quem foi o verdadeiro homenageado com o nome do município, criado em 30/08/1911 e instalado aos 02/06/1912: se o inconfidente pai ou o filho. Suplemento do jornal A Tribuna de São João del-Rei (edição de número 264, de 28/07/1919), sete anos após a instalação da Villa Rezende Costa – antigo distrito da Lage -, publicou o seguinte texto, assinado por A.A.: “e, emquanto, rebrilhando na luminosa constelação da Inconfidencia, o nome de Resende Costa Filho [sic], à antiga Lage, seu ditoso berço, exulta de prazer, Prados, patria pe [sic] Resende Costa, o velho, tambem conjurado e perseguido, não tem igualmente motivos mui sagrados de legitima infamia?”

No mesmo suplemento, em texto de A.P.A., fica claro qual o homenageado: “Lage era o nome conhecido do arraial, que foi até pouco a sede do districto de mesmo nome, pertencente ao historico e antigo municipio de S. José d’El-Rey. Na ultima divisão administrativa, aquelle arraial com o respectivo territorio foi desmembrado do então municipio de Tiradentes e elevado a Villa com a denominação de Villa Resende Costa, em homenagem à memoria de um patriota benemerito, filho do logar, conselheiro José de Resende Costa, membro do Instituto Historico e Geographico Brasileiro, veneravel nos fastos da liberdade nacional, da qual foi um dos primeiros martyres na Inconfidencia Mineira.” 

O jornal A Tribuna vem, assim, reforçar manifestações no sentido de que o município herdou o nome do inconfidente José de Resende Costa (Filho). É o caso do deputado Francisco Alves Moreira da Rocha, em seu discurso durante o encaminhamento à Mesa da Assembleia Legislativa da representação com 300 nomes pedindo a elevação do distrito à vila e “ao mesmo tempo, que lhe seja dado o nome de “Resende Costa”, prestando, assim, uma homenagem àquele antigo conjurado mineiro, cujo nascimento se deu naquele lugar”. Ou do o memorialista José Maria da Conceição Chaves, que afirmou: “a ideia dessa homenagem ao Conselheiro Resende Costa partiu do respeitável patriota e lageano major Joaquim Leonel de Resende Lara, descendente da família daquele conjurado mineiro.”

João Carlos conclui que, provavelmente, a ideia tenha sido “abraçada por parte dos moradores locais; afinal, José de Resende Costa, o filho, após voltar do exílio foi um grande benemérito do arraial da Lage, para o qual doou 5 apólices para benefício dos pobres, por exemplo, e se manteve no centro do cenário político do Brasil, chegando a ser eleito deputado para a primeira Assembleia Constituinte da história do país, logo após a Independência. Portanto, o nome do município de Resende Costa não foi escolhido apenas em função da Inconfidência Mineira, afinal ainda outros dois conjurados (Pe. Toledo e Cel. Francisco Antônio de Oliveira Lopes) estavam ligados à Lage por suas posses e relações sociais e nem por isso tiveram suas memórias preservadas no lugar. Pesou a favor de José de Resende Costa, o filho, sua trajetória e suas ações após a volta do degredo, além de ter nascido no antigo arraial e, claro, seu envolvimento no movimento conspiratório”.

A propósito das “5 apólices para benefício dos pobres”, o memorialista Antônio de Lara Resende** conta que padre Alfredo Rodrigues Macedo, então pároco do Arraial da Lage, buscava meios de completar o dinheiro necessário para o seu enxoval e a viagem para o seminário do Caraça onde iria estudar. Mais que oportunamente, Aquim Ribeiro de Oliveira, um amigo do pai de Antônio e casado com a sobrinha dele, “descobrira, não sei como, que na Caixa Econômica ou no Banco do Brasil do Rio havia uma bolada de dinheiro pertencente à ´pobreza do Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage´”.

Segundo Antônio de Lara Resende, “Aquim comunicou ao padre Alfredo, como Vigário da Lage, que aquele dinheirão provinha de juros de umas tantas apólices federais que, em testamento, o Inconfidente Conselheiro José de Resende Costa deixara para a pobreza de sua terra natal. Por poucas que fossem as apólices, os juros acumulados de 1841, ano da morte do Conselheiro, até 1909, deviam somar um bolo apreciável.”

Só não poderia imaginar o “Inconfidente Conselheiro” que, ao fazer seu testamento para “minorar a penúria dos pobrezinhos de sua terra, iria beneficiar um trineto de sua irmã Francisca Cândida de Resende Alvim, cujo testamento distribuiu bens e benefícios em larga escala, sem poder ainda pensar nos trinetos que viriam muito mais tarde, e… na pobreza deles”, prossegue Antônio. Daqueles juros, o futuro seminarista do Caraça receberia “duzentos mil réis para ajudar no meu enxoval, que levei completinho, incluindo cinquenta mil réis para duas batinas de merinó francês”.

Filho do arraial

O inconfidente filho nasceu em 1765, no Arraial da Lage, termo da Vila de São José (atual Tiradentes), comarca do Rio das Mortes, de acordo com Rosalvo Gonçalves Pinto.*** Era filho do casal José de Resende Costa e Ana Alves Preta ou Ana Álvares Preto ou ainda Anna Alves Pretto, conforme a fonte citada. “Não se sabe se ele teria nascido na sede da fazenda (dos Campos Gerais) ou no povoado do arraial, onde seus pais mantinham uma casa.”

De 1765 até 1789, nada se sabe da vida do inconfidente filho, “exceto a questão, ainda não esclarecida dos estudos no Rio de Janeiro”, diz Rosalvo. Provavelmente, em sua adolescência, esteve longe da família quando estudou por algum tempo no Rio de Janeiro. “Sabe-se apenas que foi colega e contemporâneo do inconfidente Domingos Vidal de Barbosa Lage, nas aulas de Retórica e Poética do professor régio Manuel Inácio da Silva Alvarenga. Esse curso era preparatório para o acesso à Universidade de Coimbra, para onde queria enviá-lo seu pai.”

Esta ausência teria ocorrido antes de 1785, acredita Rosalvo. Domingos Vidal, 4 anos mais velho do que José de Resende Costa (Filho), matriculou-se em 07/12/1785, com 24 anos de idade, na Faculdade de Medicina de Montpellier, na França. “Logo, JRC/F só pode ter sido colega de Domingos Vidal antes de 1785. Nesta época ele já tinha seus 20 anos.”

Assim, os José de Resende Costa, filho e pai, estiveram sempre juntos, prossegue Rosalvo, “até o dia em que ele (filho) o perdeu em 1798, em Ribeira Grande, no arquipélago de Cabo Verde, África. Sobretudo a partir do período da eclosão (1789) da IM (Inconfidência Mineira) até a morte de seu pai, eles estiveram, pode-se dizer, sempre lado a lado, diariamente. Foram os 9 anos de intenso sofrimento: medo, depoimentos, suspeições, fracasso da ida para Coimbra, prisão, pesadas algemas, julgamento, o pavor pela sentença de morte, a viagem atribulada para o degredo e, para coroar tanta desgraça, a perda do pai”.

Cumprido sua pena de degredo, o inconfidente filho voltou ao Brasil, relata Rosalvo. “Anos depois ele tornou-se membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e faleceu em 17.06.1841…”

Pai lagoense

O capitão José de Rezende Costa, seu pai, nasceu no território da então capela de Santo Antônio da Lagoa Dourada, freguesia do arraial dos Prados, tendo sido batizado em 13/06/1730, de acordo com Arthur Vieira de Rezende e Silva (1939), citado por Rosalvo. Mas há controvérsias sobre o ano do seu nascimento, assim como há ambiguidade e erro de data em relação ao falecimento e ao exercício da função de contador. O autor da Genealogia Mineira diz: “Provido no anno de 1794 no offício de Contador, que exerceu até 1789, falleceu com a idade de 72 anos (p. 324)”.

Com base em outras fontes consultadas por Rosalvo, José de Rezende Costa teria assumido a função de contador dois anos após sua chegada a Ribeira Grande, na ilha de Santiago, Cabo Verde. “Se ele assumiu essa função em 1794, há um erro do autor ao dizer, logo adiante, que ele exerceu até 1789. Talvez ele queria dizer ´1798´, e não ´1789´, provavelmente um erro de inversão de números. Ou talvez ele queira dizer que o inconfidente exercera tal função até sua morte, ou seja, 1798.” Aí surge outro problema, acrescenta Rosalvo. Se o inconfidente pai faleceu em 1798, tendo sido batizado em 1730, “ele teria falecido aos 68 anos (e não 72), na hipótese de que ele tenha sido batizado no ano de seu nascimento”.

No entanto, prossegue Rosalvo, “diferentes registros indicam três datas diferentes para o seu nascimento: 1726, 1728 e 1730. Uma possível hipótese para essa divergência, portanto, poderia ser erro de registro ou de transcrição de dados”. O autor optou por 1730, a partir do batizado (13/06/1730, na matriz de Nossa Senhora da Conceição dos Prados, pelo vigário Nicolau Tavares). “Com base nessa informação, presumindo-se que ele tenha sido batizado no mesmo ano de seu nascimento - fato que sempre foi mais comum entre famílias cristãs -, pode-se supor que a data de 1730 seja mesmo a mais correta.” E Rosalvo conclui: “Assim, ao falecer em 1798, ele teria a idade de 68 anos, tendo sido condenado em 1792 e cumprido apenas seis anos de sua pena.”

Avós portugueses

João de Rezende Costa e de Helena Maria de Jesus, seus avós, eram portugueses – ele, da Ilha de Santa Maria; ela, da Ilha do Faial, no arquipélago dos Açores. José de Rezende Costa (pai) era um dos 15 filhos do casal. Os outros: Padre João de Rezende Costa, Maria Helena de Jesus, Capitão Antônio Nunes de Rezende, Julião Rezende, Anna Maria de São Joaquim, Alferes Manoel da Costa Rezende, Padre Gabriel da Costa Rezende, Helena Maria de Rezende, Thereza Maria de Jesus, Josepha Maria de Rezende, Tenente Julião da Costa Rezende, Gonçalo Rezende, Alferes Joaquim José de Rezende e Anna Joaquina de Rezende. (Ver mais em “O primeiro Solar da Família Rezende no Brasil”).

De acordo com Rezende e Silva na Genealogia Mineira, citado por Rosalvo, o inconfidente pai “foi lavrador muito respeitado por seus costumes e caráter (…)” que se mudou “mais tarde para a parochia da Lage, do mesmo município, adquirindo a fazenda dos ´Campos Gerais´”.

O inconfidente pai foi capitão do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Vila de São José del-Rei, com jurisdição sobre a Lage (atual Resende Costa) e Santa Rita (atual Ritápolis), de acordo com Rosalvo. Era “um rico fazendeiro, proprietário da fazenda dos Campos Gerais da Lage, onde, na época da IM, tinha engenho, moinho, senzala, 28 escravos, 55 bois e 78 porcos”. Também tinha “uma casa no centro do arraial de Lage, vizinha à casa do padre Carlos Toledo (outro inconfidente). Era também proprietário de 11 ´serviços de terras minerais´”.

*A origem de Resende Costa: novas informações, https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/a-origem-de-resende-costa-novas-informacoes-/2646

**Memórias De Belo Vale ao Caraça. Edição do autor, Tomo 1, 1970.

***Os inconfidentes José de Rezende Costa (pai e filho) e o Arraial da Lage. Coleção Lageana, 2ª edição revista e ampliada, Resende Costa, 2014.

LINK RELACIONADO: 

O primeiro Solar da Família Rezende no Brasil - https://www.jornaldaslajes.com.br/integra/especial-aniversario-o-primeiro-solar-da-familia-rezende-no-brasil/2715

 

 

 

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário