Estudo da Universidade de Coimbra sobre novos fármacos para o tratamento de câncer é premiado na Europa


Ciência e Tecnologia

José Venâncio de Resende0

Equipe premiada: A partir da esquerda, Luís Batista, Adriana Mamede, Ana Batista e Maria Paula.

Um estudo da Universidade de Coimbra (UC) que, pela primeira vez, avaliou o impacto de fármacos anticancerígenos na água do interior das células foi distinguido com o “Society Impact Award” 2019, prêmio atribuído pelo laboratório “ISIS Neutron and Muon Source”, que possui um dos mais potentes feixes de neutrões e muões do mundo, localizado no Reino Unido. O trabalho visa desenvolver novos fármacos antitumorais com múltiplos locais de ação, a designada quimioterapia multialvo, que permite aumentar a eficácia do tratamento de doentes com cancro (câncer), principalmente em casos de prognóstico muito baixo.

Lançado em 2018, o “ISIS Impact Award” reconhece o impacto científico, social e econômico do trabalho desenvolvido pela comunidade de utilizadores das instalações do centro – cerca de um milhar de cientistas de todo o mundo por ano. O estudo, agora premiado, é liderado por Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho - da Unidade de I & D “Química-Física Molecular” (QFM) da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da UC.

Geralmente, explicam os pesquisadores (investigadores), «os medicamentos de combate ao cancro têm um único alvo (uma molécula recetora, que pode ser o ADN, uma proteína específica, a membrana da célula, etc.). Mas se conseguirmos um fármaco que atue simultaneamente em vários locais da célula, a eficácia do tratamento será maior, e terá menos efeitos tóxicos para o paciente».

Sabendo-se que a água, a substância mais abundante dentro da célula, é essencial para o seu bom funcionamento, estes pesquisadores decidiram estudar o comportamento dos diferentes tipos de água intracelular na presença de fármacos anticancerígenos. «Só conhecendo todas as mudanças que os medicamentos desencadeiam na estrutura da água no interior da célula é possível avaliar de que forma esta água pode ser usada como um alvo terapêutico. É a primeira vez que se tenta perceber o efeito de fármacos na água intracelular.» Eles trabalham no desenvolvimento de novos fármacos contra o cancro há cerca de duas décadas.

Outra inovação

A equipe inovou também na realização das experiências, já que foi a primeira vez que se colocaram células cancerígenas humanas sob a ação de um feixe de neutrões. Para tal ser possível, foi necessário cultivar e incubar com o fármaco um número extremamente elevado de células cancerígenas humanas imediatamente antes da aquisição dos dados. «São experiências muito complexas, que exigem a utilização de milhões de células vivas», contam os pesquisadores.

Foram testados dois fármacos, em dois tipos de câncer muito agressivos: carcinoma de mama metastático (triplo-negativo) e osteossarcoma (cancro de osso, que afeta particularmente crianças e adolescentes). Primeiro foi avaliado o efeito de um medicamento conhecido – a cisplatina - e, numa segunda fase, foi testado um fármaco desenvolvido por estes pesquisadores da UC. Ambos os compostos têm como alvo principal o ADN da célula.

Os resultados foram bastante promissores, revelam os coordenadores do estudo. «No seu conjunto, verificou-se que os dois fármacos afetam a água intracelular nos tipos de cancro agora estudados. Mais, observaram-se diferenças significativas no modo de ação dos dois medicamentos, dependentes ainda do tipo de cancro».

Por outro lado, observou-se um duplo efeito dos fármacos na dinâmica da água intracelular. A água do citoplasma tornou-se mais rígida, enquanto a água de hidratação das biomoléculas que se encontram no interior da célula (que funciona como uma capa protetora) se tornou mais flexível. Segundo os pesquisadores, este efeito duplo é «muito positivo porque significa que provavelmente as biomoléculas não irão funcionar normalmente, levando à morte celular, que é o que se pretende numa célula doente».

Sobre o prêmio “Society Impact Award”, Maria Paula Marques e Luís Batista de Carvalho afirmam que foi com «surpresa e satisfação que recebemos a notícia, já que concorremos com centenas de cientistas de todo o mundo. É uma honra muito grande ver reconhecida a qualidade do trabalho desenvolvido na nossa unidade de investigação».

Fonte: Cristina Pinto – Assessoria de Imprsensa da Universidade de Coimbra

 

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