FELIT retorna após 5 anos com atividades variadas e lançamentos de livros

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Cultura

José Venâncio de Resende0

fotoJovens autores no laboratório CyRoS-UFSJ (fotos Instagram).

Foram três dias (27, 28 e 29 de junho) de muitas atividades, depois de cinco anos de interrupção por conta da pandemia e de dificuldades de patrocínio/apoio. O 14º Festival de Literatura de São João del-Rei (FELIT)  voltou com o espírito de “transformar a cidade em um espaço de colaboração literária”.

A literatura voltou a ocupar seu lugar de honra na cidade dos sinos, com a presença de grandes nomes do cenário brasileiro. Entre eles, o homenageado deste ano, o ilustrador e autor Roger Mello, que foi o vencedor em 2014 do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantojuvenil.

A programação foi diversificada: rodas de conversas, lançamentos de livros, mesas-redondas, shows musicais, oficinas, vivências literárias, contação de histórias, atividades infantis, exposição e a feira literária promovida pela Sociedade Amigos da Biblioteca (SAB). E foi distribuída por vários locais da cidade: Largo do São Francisco, Biblioteca Municipal, Centro de Inovação e Criatividade do CyRoS-UFSJ, Teatro Municipal, Avenida Tancredo Neves, Pousada Paço do Lavradio e Prédio da Secretaria de Cultura.

O FELIT tem sido “um compromisso com o conhecimento, com a sensibilidade e com a formação de leitores”, segundo os organizadores desta 14ª edição. “É um espaço de diálogo entre gerações, onde autores, estudantes, professores e leitores se encontram para celebrar a força das palavras.”

Aliás, este foi um momento propício para os realizadores lembrarem o nome do idealizador do FELIT, Lúcio Teixeira Carvalho. “Poeta, jornalista e parceiro incansável da Biblioteca Pública Municipal Baptista Caetano d’Almeida, Lúcio é daqueles nomes que ecoam pelas ruas da cidade de São João del-Rei.”

Origem do FELIT

A retomada do festival é muito importante para a cidade, disse Lúcio Carvalho à reportagem do JL. Tanto assim que, em seu discurso na abertura do evento, ele enfatizou que um país se faz com homens e livros e que o FELIT é uma importante ferramenta de transformação, de cidadania, de incentivo à leitura. Por isso, “estou muito feliz que a Associação Palavra Bem Dita assuma, agora, a feitura do festival”. Atualmente, a Associação Palavra Bem Dita é presidida pelo professor Roginei Paiva da Silva.

Quando o festival surgiu em 2007, com a homenagem ao poeta e escritor Ferreira Gullar (outros homenageados foram Conceição Evaristo, Ruth Rocha, Milton Hatoum, Carlos Heitor Cony, Ignácio de Loyola Brandão, Ronaldo Simões Coelho, Luiz Ruffato, Ariano Suassuna, Poeta Francisco Alvim, Ana Maria Machado, Ziraldo, Adélia Prado e Luis Fernando Veríssimo), houve a preocupação por parte de Lúcio Carvalho com a continuidade do evento na cidade: “que ele não acontecesse simplesmente só naqueles dias específicos”. Na ocasião, o evento foi organizado em apenas três meses devido à dificuldade para encontrar patrocínio e apoio.

Assim, para evitar que se repetisse a improvisação, em 2008, Lúcio encontrou-se com vários professores da rede municipal, estadual e particular. “Fiz uma reunião com cerca de 45 professores e fiz uma proposta de trabalharmos a literatura com alunos do ensino fundamental (últimos anos) e do primeiro ano do ensino médio.” 

Além disso, ele manifestou o desejo de que esses professores de artes cênicas, arte-educação, contadores de história, professores de história e de literatura, dependendo do momento da homenagem, participassem dessa oficina. “E eu desenhei uma oficina para que os alunos fossem estimulados à leitura e à escrita. E o final desse processo seria o livro que nós lançaríamos durante o festival.”

A proposta de Lúcio era pagar a esses professores o valor correspondente à hora do mestrado. Em 2010, Lúcio Carvalho retomou a conversa com esses professores. “Então, eu propus a eles criarmos uma associação sem fins lucrativos.” Com base nas orientações de um amigo do terceiro setor, “nós criamos a Associação Palavra Bem Dita que, em 2012, foi declarada de utilidade pública pela Câmara Municipal de São João del-Rei”. Nesse período, as empresas Via Comunicação, de Lúcio e seu sócio Luís Francisco, e Quarteto Filmes realizaram, em parceria, o FELIT. Depois, “Eu passei o nome do FELIT para a Associação dar continuidade a esse trabalho do festival”.

Lançamento coletivo

Infelizmente, Lúcio Carvalho não conseguiu participar até ao final do lançamento coletivo de escritores de São João del-Rei, que aconteceu no sábado (28) nos Jardins da Casa da Bárbara Heliodora, em frente à Biblioteca Municipal e à Academia de Letras. O Jardim estava repleto de cadeiras e cada autor, sentado em sua mesa com o banner indicativo, falou de si e do seu livro. Lúcio Carvalho, que lançaria o livro de poesias Estreando na Literatura, teve de retirar-se antes por motivo de doença, “não dei conta, mas a notícia é de que foi um sucesso”.

Participaram do lançamento coletivo os autores Eduardo Luiz Pereira Junior, com os livros Carvalho dos Segredos e Meus Clones e os Justiceiros de Sangue; Isabella Coelho Mol Santos (Bella Mol), com O Poeta das Cinzas; Solange Resende Vieira, com A Fábrica dos Sonhos; Oswaldo Caramez de Almeida, com Bem vindo a Tanacura e As Correntezas do Mar; Cleide Augusta da Silva, com Nas Batidas do Coração 2, Flor Negra e Um Pai Chamado Deus; Cairu Uriac Bigonha Salomão, com Peregrino; Antônio Roberto Marinho (Tonico Beto), com Coração Moderno; Rafael Vasquez (Afa Vasquez), com 2=1: Uma Nova Identidade e O Catador de Histórias; Isaac Ribeiro de Alencar, com O Peso do Vento e A Fuga do Tempo; Francisco José dos Santos Braga, com No Reino da Música; Maria Nivalda, com Escolhas e destinos; e Girlene Verly, com Dança  das samambaias.

Criação coletiva

O autor homenageado, Roger Mello, participou de “conversa” com os alunos da oficina de “Formação de Jovens Autores” que criaram o livro Nós e os nós do mundo (este ano, foram 23 alunos de diversas escolas de São João del-Rei). Também participaram de atividades a autora afroindígena do romance Um rio sem fim, Verenilde Pereira, e o autor mineiro Leo Cunha, com mais de 80 livros publicados e referência na literatura infantil e juvenil brasileira.

Verenilde e Gláucia Buratto apresentaram a mesa-redonda “Nas águas de um rio sem fim: Vozes silenciadas e marginalizadas pela História”. Leo Cunha coordenou a oficina “Cubo mágico: os vários lados da poesia”. Outra oficina foi a “Biscoitos Falantes”, para membros da Central Única das Favelas (CUFA). Roger Mello, Maria José Boaventura e Giovana Scareli participaram da mesa-redonda “Imagem e palavra na literatura - quando a obra desfaz fronteiras”.

Também para membros da CUFA foi a oficina “Literatura infantil: o alfabeto, os nomes e o tempo”, com Mônica Todaro. A roda de conversa “Do original à publicação: os caminhos para quem deseja se tornar autor” foi apresentada por Joubert Amaral, da Gulliver Editora; a oficina “A escrita como ferramenta contracolonial e antirracista: conhecendo artistas indígenas”, por Hudson Carajá, Brenda Ramalho, Júlia Oliveira e o grupo de estudos psicologia e povos indígenas da UFSJ; a contação de história teve Ana Paula Ferreira; e a exposição Entrelaços reuniu Zulei Bassi, Luzia Prado, Atelier Murundu, Tia Azul Atelier e Gilda Westin Consenza.

Organizadores

O FELIT foi produzido pelos professores de artes plásticas Patrícia Monteiro (atual vice-presidente da Associação Palavra Bem Dita) e Pablo Quaglia, e se alinhou na organização o Instituto Histórico e Geográfico (IHG). Contaram com o apoio de Governo Municipal (Secretaria de Cultura e Turismo, Biblioteca Municipal), Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e a deputada federal Ana Pimentel. Segundo os realizadores, o festival só se tornou possível graças a uma grande rede de colaboração, além de diversos profissionais e apoiadores da cultura local que sonharam junto e colocaram a mão na massa.

Palavra dos produtores 

“O FELIT renasceu pelas mãos generosas e talentosas de muita gente boa, que não mediu esforços”, resumiu o secretário de Cultura e Turismo, Caio Andrade. “Em tempos em que a inteligência artificial virou bússola de tudo, celebrar a escrita humana é quase um ato de resistência. Que a FELIT siga sendo esse espaço de inspiração, onde a palavra escrita toca, transforma, aproxima.”

Momentos marcantes do FELIT 

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