Homenageado em Lisboa diplomata que desafiou ditador português e salvou milhares na 2ª Guerra Mundial

Os "dois Aristides": Sousa Mendes foi contemporâneo de Resende de Aguiar (descendente de José de Resende Costa, filho), em Cabanas de Viriato.


Cultura

José Venâncio de Resende0

Casa do Passal, em Cabanas de Viriato (Facebook Fundação Aristides de Sousa Mendes).

O antigo cônsul português em Bordéus (França), Aristides de Sousa Mendes, que salvou mais de 30 mil pessoas de Hitler na Segunda Guerra Mundial, passou, em 19 de outubro, a fazer parte do Panteão Nacional, em Lisboa. Mendes, cujos restos mortais permanecem na freguesia de Cabanas de Viriato (município de Carregal do Sal), sua terra natal, passa a figurar na ala dos cenotáfios (monumento sepulcral erigido em memória de um morto sepultado noutra parte), ao lado de nomes como o Infante D. Henrique (sepultado no Mosteiro da Batalha), Pedro Álvares Cabral (Igreja da Graça, Santarém), Vasco da Gama e Luís Vaz de Camões (ambos no Mosteiro dos Jerônimos, Lisboa).

O diplomata é reconhecido por ter desafiado as ordens do então ditador português Antônio de Oliveira Salazar (que acumulava a função de ministro dos Negócios Estrangeiros), concedendo vistos a milhares de pessoas, muitos judeus, que fugiam dos países ocupados pelos exércitos nazistas, e também a cidadãos de outros países que tentavam regressar às suas pátrias. No seu elogio durante a cerimônia no Panteão Nacional, a historiadora Margarida de Magalhães Ramalho chamou este ato de desobediência: O que é que este homem fez? Uma coisa muito simples: desobedeceu. E se é preciso coragem para seguir ordens com as quais não concorda, mais difícil é seguramente seguir a consciência e não as cumprir. Margarida é a coautora do Museu Virtual Aristides de Sousa Mendes

Em Cabanas de Viriato, Mendes foi contemporâneo de Aristides Semedo Cardoso Resende Nunes de Aguiar, descendente de José de Resende Costa (filho) em Cabo Verde (livro Cidades e Resendes, Chiado Books). Aristides, o Resende, foi um dos fundadores da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cabanas de Viriato, no final da década de 30 do século passado. Na assembleia geral de 1940, os “dois Aristides” participaram da mesma lista de votação, mas foram impedidos de disputar a eleição para a direção da Associação.

Maria João, filha de Aristides Resende de Aguiar, era prima de Aristides de Sousa Mendes por parte da mãe Maria do Patrocínio Telles Abranches Resende de Aguiar. Ainda criança, Maria João frequentava a escola primária em frente à Casa do Passal, em Cabanas de Viriato, onde morava o diplomata (ela tinha oito anos quando ele faleceu). 

A Casa do Passal, que pertenceu à família de Aristides Mendes, está em fase de restauro (requalificação e musealização) para ser aberta ao público. Deverá tornar-se um espaço de memória do “período trágico” em que Aristides atuou e “dos que ele ajudou a salvar, de reflexão sobre o passado, mas, sobretudo, para que a partir desse passado, cujas consequências conhecemos, seja possível refletir sobre o futuro que queremos” (Cláudia Ninhos, Diário de Notícias, 20/10/2021). 

 

 

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário