Mais que um torcedor apaixonado

Márcio Lélis, presidente do Expedicionários, lidera um trabalho exemplar que resgatou o mais tradicional clube de futebol de Resende Costa


Perfil

André Eustáquio0

Márcio Lélis, presidente do Expedicionários Sport Club (Foto André Eustáquio)

Todos os dias Márcio Lélis de Resende, 57, acorda às 4h:40 e vai até o Campo do Expedicionários verificar se os portões já estão abertos. A rotina diária do atual presidente do Expedicionários Sport Club começa cedo. “Vir aqui todos os dias para conferir se os portões estão abertos é sagrado. Coloco o celular para despertar às vinte para as cinco, venho aqui e depois vou pra roça, afinal, as pessoas têm o direito de escolher em qual horário preferem caminhar”, conta Márcio Lélis, que assumiu a presidência do clube em 2017 e tem mandato até 2021.

Márcio é membro da diretoria do Expedicionários há quatro anos. Integrou a diretoria presidida por Flávio Henrique e foi tesoureiro na gestão do presidente Lourenço. Ele participou de todas as etapas de revitalização do Campo do Expedicionários. Empurrou carrinhos de mão lotados de terra e pedras, pintou paredes e alambrados, cuidou da limpeza e da grama como cuida da sua própria casa. “Faço isso com prazer, como torcedor do Expedicionários”, revela.

 

Virada no jogo

O tradicional Estádio dos Eucaliptos, como ficou conhecido o Campo do Expedicionários devido às inúmeras árvores de eucalipto plantadas no entorno do campo, ficou abandonado por longos anos. O campo estava todo esburacado e o que restou do gramado servia de pasto para cavalos que eram soltos no local. Do time do Expedicionários, glorioso desde a década de 40, ninguém mais ouvia falar. Parecia que a história do mais tradicional clube de futebol de Resende Costa tinha terminado.

Foi então que um grupo de pessoas ligadas ao esporte na cidade se uniu com o propósito de revitalizar o estádio e reestruturar o clube. Márcio integrou esse grupo. “Eu ainda não morava aqui na cidade e lecionava na zona rural, na localidade do Brumado (divisa de Resende Costa com Lagoa Dourada e Coronel Xavier Chaves). Depois que os meus meninos formaram comigo lá, tive que me mudar para cá. Eu lecionava para a prefeitura municipal de Lagoa Dourada (durante 18 anos). Depois que eu vim para a cidade, passado certo tempo, vi o abandono em que se encontrava o Campo do Expedicionários. Então a gente pensou numa maneira de contribuir de alguma forma”, lembra Márcio.

Segundo ele, o pontapé inicial nos trabalhos de revitalização do campo se deu durante a gestão do presidente Flávio Henrique. “Tudo começou na gestão do Flávio. Eu lembro que isto aqui era mato e pedra ao redor do campo. Nós capinamos e tiramos tudo de caminhão. Tiramos uns seis ou sete caminhões de grama e sujeira”.

O trabalho evoluiu paulatinamente. Foram construídos a pista de caminhada, arquibancadas, iluminação e novos vestiários. Márcio foi responsável pela pintura. “Começamos, aos poucos, a investir na pintura. Compramos latas de tinta através de doações de pessoas da própria comunidade. O Adilson (Resende, ex-prefeito municipal de Resende Costa) fez a pista de caminhada e contribuiu também com o acabamento do vestiário”, diz. A parceria com o poder público e com a comunidade foi se consolidando e, assim, outras melhorias no campo se tornaram possíveis, como a troca completa do gramado.

A grama do Campo do Expedicionários, da espécie Bermudas, é a mesma utilizada no Mineirão. Márcio conta como foi a troca do gramado: “Essa grama demanda cuidados especiais. A grama comum é mais fácil de você cuidar, pois é mais resistente. Essa é diferente. Por exemplo, toda a adubação teve que ser feita debaixo de chuva. E quem iria fazer isso? Eu fiz. Uma semana de chuva e aproveitei para fazer. E assim a gente consegue mantê-la verdinha. Nós terminamos agora um campeonato (regional e municipal - concluído em 24 de dezembro) e o planejamento é rebaixar a grama, jogar mais uma camada de areia e adubar com adubo supersimples, no intuito de fortalecer a raiz dela”.

Quando a grama foi plantada, houve um cuidado especial com a irrigação. O procedimento foi realizado durante 24 horas. Márcio cuidou pessoalmente desse trabalho. “Quando eu irriguei o gramado, no início, eu levantava de hora em hora e vinha aqui para trocar o pivô da mangueira, para irrigar todos os lugares do campo. Foi assim que eu consegui. A minha esposa dizia, ‘o Márcio não dorme’ (risos)”.

Um dos problemas ainda presentes na conservação do gramado é a irrigação. Segundo Márcio, existe um projeto para construção de um poço artesiano próximo ao Lar São Camilo com o objetivo de bombear água até o estádio. “Seria mais uma parceria com a prefeitura. Já conversamos com o prefeito Aurélio e ele prometeu isso para a gente. Vamos comprar os canos e a fiação. Teremos uma bomba lá e um reservatório aqui. Irrigar o campo com água da Copasa gera um custo muito alto”, diz o presidente.

 

De treinador a presidente do clube

A trajetória de Márcio Lélis no futebol amador de Resende Costa não iniciou a partir da sua mudança para a cidade. “Desde que eu estudava no ginásio, já competia e participava de jogos. Isso durou enquanto fiz o segundo grau também. Sempre gostei de esporte, mas nunca tive muitas chances porque residia na zona rural, onde as coisas são mais difíceis. Inclusive, no Brumado, tem um campo que nós gramamos com a ajuda da prefeitura. Eu me lembro que na época foram utilizados 72 caminhões de grama. Eu doei tudo do meu terreno. A prefeitura de Coronel Xavier Chaves nos ajudou no transporte das gramas”.

A mudança para Resende Costa aproximou Márcio do Expedicionários. Inicialmente como treinador do time. Vendo a estrutura do estádio reformada e ampliada e o gramado pronto para ser inaugurado, faltava o principal: o time. “Dentro desses quatro anos que venho participando do Expedicionários, como treinador e membro da diretoria, teve campeonato que não havia jogador para jogar pelo time principal. Por que? Os jogadores estavam em outros times que jogavam todos os domingos. E o Expedicionários não jogava. Levei quatro anos para formar um elenco com trinta jogadores”.

Sob o comando de Márcio, o Expedicionários disputou alguns torneios regionais e locais, chegando ao vice-campeonato em um deles. Enquanto treinador, Márcio valoriza a disputa e o trabalho coletivo.  “Um time de futebol não ganha só com 11 jogadores, ganha com o grupo. Quando um respeita o outro você consegue formar um time. Foram quatro anos e formamos um time”, afirma.  

Em 2017, Márcio assumiu a presidência do clube e deixou a função de treinador. “Quando assumi a presidência, eu disse: ‘gente, não tem como acumular funções, ou seja, ser técnico e presidente. É preciso separar as coisas. Aí os jogadores entraram em consenso e chamaram o Ladinho e o Besouro (Marcos) para serem treinadores”.

 

Atuação dentro e fora das quatro linhas

Márcio é um craque dentro e fora dos gramados. Ele dedica grande parte do seu tempo a pensar em projetos e melhorias para o Expedicionários. O projeto de maior vulto do clube, nos últimos anos, surgiu ainda no início do seu mandato: o programa sócio torcedor - que conta atualmente com cerca de 370 sócios, que pagam mensalidade de 10 reais, e mais de 20 estabelecimentos comerciais parceiros.

O valor arrecadado através do programa é investido na conservação do estádio e nas categorias de base do clube. “É uma prioridade nossa investir nas categorias de base. Como a gente tem agora o programa sócio torcedor, vamos oferecer condições para os meninos virem aqui e treinar. Antes, eles tinham que nos ajudar (financeiramente). O programa está permitindo ao clube arrecadar, sem ter que cobrar dos jogadores inclusive a taxa para lavar a camisa”, diz Márcio.

Novos projetos estão sendo gestados a partir do programa. “A ideia é construir um memorial do clube, ou seja, uma sala para expor os troféus. Investir também em comunicação e publicidade, divulgar os jogos nas redes sociais com fotos e vídeos, no intuito de dar publicidade ao clube”, planeja o presidente. A diretoria tem também como objetivo construir uma sauna. “Mas a gente tem que fazer as coisas com os pés no chão”, pondera Márcio.

Márcio Lélis não atribui somente a si os frutos que ele vem colhendo como presidente do Expedicionários. Durante a nossa conversa, ele destacou a força das parcerias com o poder público, com as pessoas da comunidade que utilizam a pista de caminhada do campo e com o comércio de Resende Costa. “O Expedicionários é um patrimônio de Resende Costa. Nós vamos passar e o Expedicionários vai ficar. Tenho o prazer de participar de uma diretoria atuante, que se reúne dando ideias e trabalhando. Quando a gente tem certeza de que está fazendo a coisa certa, os frutos vão aparecer”, comemora Márcio.

Ah, e para quem quiser ver o presidente do Expedicionários dentro dos gramados, terá início ainda no primeiro semestre deste ano um campeonato regional de veteranos, o ‘Quarentão e o Cinquentão’. Márcio vai jogar. “A gente organiza, mas quer jogar também (risos). Estou com 57 anos e penso em fazer um campeonato diferente, dando oportunidade para jogadores de 40 a 50 anos. A gente quer dar as mesmas condições de igualdade, ou seja, quero correr com um cara de 57 anos também. Se você pega um cara mais novo, ele passa por você voando (risos). Aí você vai se sentir desmotivado. A intenção nossa é fazer um campeonato com a mesma seriedade e estrutura do regional que terminou em dezembro”.

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