Marcenaria artesanal sacra, uma arte em expansão na região e no país


Cultura

José Venâncio de Resende0

Rogério Geraldo em sua marcenaria em São João del-Rei (Fotos José Venâncio)

O mercado de marcenaria artesanal sacra, em expansão, é sustentado na confiança. “O padre que me deu o primeiro serviço foi indicado pelo escultor Osni Paiva, santeiro reconhecido nacionalmente”, revela Rogério Geraldo Fernandes, 35 anos, artesão-marceneiro em São João del-Rei.

Rogério, de família do Ribeirão de Santo Antônio, povoado localizado na zona rural de Resende Costa, foi procurado por um padre da Diocese de São João del-Rei para realizar o serviço de um altar. “Ele chegou e perguntou se eu tinha interesse no serviço, pois sabia que eu tinha capacidade. Eu aceitei o desafio, ele gostou muito e começou a fazer propaganda do meu serviço”.

Rogério começou a trabalhar aos 12 anos com o pai Abel Fernandes, na oficina de Móveis Bom Pastor. Desde 1986, seu pai fabricava móveis estilo D. José I (cadeiras, mesas, genuflexórios, mochos ou banquetas para noivos etc.), presente em Portugal e no Brasil na segunda metade do século 18. “O meu pai já estava fazendo alguma coisa de arte sacra”.

 

Experiência

Há cerca de 10 anos, Rogério gerencia a marcenaria que, a partir de 2014, mudou o nome para Rogério Fernandes Móveis Madeira. Mudança esta feita por existir no mercado muitas fábricas de móveis Bom Pastor, o que começou a trazer alguma “dor de cabeça”.

Quando o padre encomendou o primeiro altar – dois anos depois que Rogério dirigia a marcenaria – o artesão já fabricava mobiliário para igrejas da região de São João del-Rei, e mesmo outras regiões de Minas e do Brasil. Fruto de conversa com muita gente (padres, restauradores etc.), ele começou a observar estilos, detalhes e nomes – banqueta onde os castiçais são apoiados; camarim que é a parte oca onde ficam as imagens dos santos, sacrário etc.

Outra coisa que Rogério aprendeu foi lidar com as proporções de um altar – tem de ter mais altura do que largura. O altar padrão tem em média 3,20m a 3,50m de altura por 2,90m a 3,0m de largura.

Independentemente do espaço disponível, tem-se de considerar sempre esta proporção, e também o tamanho das imagens, observa Rogério. “Aproveitar o máximo do espaço, sem sair da proporção.”

 

Mercado

O foco do trabalho de Rogério é a marcenaria sacra (80% da clientela). Os restantes 20% são clientes particulares, que encomendam cadeiras e mesas. A marcenaria sacra abrange altar (inclui sacrário), mobiliário de igreja em geral e castiçais, tudo confeccionado em madeira principalmente cedro.

Os estilos mais procurados são o barroco e o gótico. Rogério gasta cerca de cinco meses para produzir um altar completo em estilo barroco. O altar é todo entalhado a mão pela sua equipe de trabalho - a pintura, com douramento a folha de ouro, é atribuição de restaurador. Já um altar gótico do mesmo padrão exige cerca de três meses de trabalho.

Entre outras demandas atendidas por Rogério, estão os complementos para altar antigo. Recentemente, ele recebeu uma encomenda da Igreja do Rosário, de Nazareno, para “enriquecer o altar”, com entalhes, cimalhas ou molduras de madeira etc.

Mas Rogério tem clientes espalhados por todo o Brasil. “Já fui procurado por um bispo da Bahia para fazer um altar em estilo barroco.”

 

Criação

Cada novo trabalho exige um projeto que inclui desenho com escala, custo, previsão de tempo, mão-de-obra e matéria-prima. O que independe da forma como o trabalho foi encomendado.

Rogério recebe encomendas de três formas. O cliente leva uma peça que serve como modelo para se produzir outra semelhante. Ou o cliente envia uma foto pela internet que serve como ponto de partida ou uma ideia a ser desenvolvida.

Por fim, Rogério tem de desenvolver um trabalho a partir do zero. Recentemente, ele executou serviços (desde cadeiras até o retábulo) em três novas capelas são-joanenses, localizadas nas comunidades de Chaves e de Santa Inês (Cajuru) e em Montevidio (distrito de Emboabas, antigo São Francisco do Onça). Também vai realizar trabalhos (retábulo) na capela de Cedro, do mesmo distrito, cuja parte de alvernaria foi reformada há pouco.

 

Família

Abel Fernandes, pai de Rogério, nasceu no Ribeirão de Santo Antônio, onde trabalhou com madeira, inclusive na fabricação de carros de boi. Em 1976, mudou-se para o bairro Bom Pastor em São João del-Rei.

Abel é filho de José Tiago (falecido) e de Maria Geralda. Sua mãe ainda mora no Ribeirão.

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