Nos tempos do rádio AM (Memórias)


Cultura

Camilo Vale0

Tudo começou em 1923. A primeira emissora de rádio instalada no Brasil foi a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Depois vieram outras: a Mayrink Veiga e a Nacional, do Rio de Janeiro. As rádios Inconfidência e Itatiaia, de Belo Horizonte, começaram na época de ouro do rádio. A Inconfidência está completando 85 anos de existência, mantendo em sua grade a Tina Gonçalves, comandando o Túnel do Tempo, aos sábados de manhã, e a Hora do Fazendeiro, às 5 da tarde, de segunda a sexta-feira, um dos programas mais antigos. Na nossa região, tivemos o saudoso “Cumpadre Vieira”, apresentando as manhãs sertanejas na Rádio São João del-Rei.

Sempre gostei de ouvir as rádios AM desde os meus tempos de criança. Meu pai tinha um rádio antigo de madeira e uma rádio vitrola, chamada na época de radiola. Um dos programas favoritos dele nos anos 60 era “Pelos caminhos do amor”, com o locutor Hélio de Aguiar, na Rádio Record de São Paulo.

Depois de tanto tempo, percebi que o programa era de autoajuda e músicas de mensagens. Músicas que eram ouvidas no início dos anos 70, com o Padre Zezinho apresentando “Tempo e Contra Tempo”, na Rádio 9 de julho, de São Paulo. Isso lá pelos anos de 1973, quando uma boa parte da nossa juventude estudava e lia as revistas do rádio, ouvindo o clube do disco – programa líder de audiência nas tardes da Rádio 9 de julho em ondas curtas.

Ouvíamos o clube do disco e, após o programa, vinha “Só boleros”, do qual eu não gostava. Talvez porque, sendo jovem, eu considerasse as músicas de boleros como sendo mais antigas. O mais curioso é que hoje eu gosto dos boleros e aprendi a gostar ouvindo “Bons Tempos”, do Tião Lima, na Rádio Inconfidentes FM, de Resende Costa. Um dos cantores de bolero de que meu saudoso irmão Cirilo mais gostava era o Silvinho. Ele até tentava imitar o Silvinho cantando algumas de suas canções.

A Rádio 9 de julho acabou sendo fechada pelo governo militar. Estávamos na época da ditadura e os militares não aceitaram a firme postura dos dirigentes da emissora. No entanto, felizmente, a 9 de julho já voltou depois de um bom tempo. Temos ainda outra emissora católica muito ouvida, que é a Rádio Aparecida.

Sem a 9 de julho, fomos ouvir a Tupi, de São Paulo, e o programa “Barros de Alencar”, que vinha ganhando muita audiência nas manhãs de segunda a sábado. Às 11h e 30min, entravam no ar as sete campeãs do dia. O Barros, que, além de locutor, era também cantor, colocava uma de suas músicas na parada. Nos finais de semana, entravam no ar as “Paradas de Sucesso”, em várias rádios.

Em 1977, fui para Belo Horizonte em busca do meu primeiro emprego de carteira assinada, que consegui graças a minha saudosa irmã Ilca. Por lá encontrei um colega de escritório que trabalhava ouvindo a rádio Atalaia. A emissora tocava músicas o dia todo. Era tempo dos radinhos de pilha e cada um tinha o seu. O curioso é que os nossos radinhos só tinham uma faixa, AM, uma vez que as FM ainda não tinham sido instaladas.

Voltando de Belo Horizonte, já no início dos anos 80, fui fazer uma pesquisa sobre rádio e meios de comunicação para a Associação Cultural Raízes e percebi a grande liderança da rádio Record na época. A Record contratou um time de grandes locutores: Zé Bétio, Gil Gomes, Barros de Alencar, Eli Correia, Altieres Barbiero e Oswaldo Bétio.

Aconteceu um fato curioso comigo naquela época.

O ponteiro de sintonia do meu rádio agarrou no vazio e pedi ao meu amigo Tomás da Tereza para fazer alguma coisa. Muito curioso, ele conseguiu mover o ponteiro até a Rádio Record e ali ficou agarrado.

Então disse a ele:

– Pode deixar aí mesmo, já que a liderança era da Record.

Aí não tinha pra ninguém.

Quando a minha saudosa prima Romilda chegava em casa nas tardes de sábado dizendo: “Tia Santa, vamos fazer biscoito frito!”, aquilo era uma palavra mágica para mim. E para agradar às duas, eu já ligava o rádio, de que elas tanto gostavam. Quando tocava a Nalva Aguiar, “Dia de Formatura”, era a música que elas mais queriam ouvir.

Em algumas ocasiões, minha avó chegava em casa e, ao abrir a porta, o rádio estava bem alto.

– Esse menino com esse rádio ligado nessa altura toda, eu não volto mais aqui não, Santa. Mas a vovó sempre voltava.

São passagens divertidas de minha infância e adolescência e, como os leitores estão vendo, com o rádio sempre presente em nossas vidas. Acho que ele está presente na vida de muitas pessoas: inclusive hoje há até o aplicativo RadiosNet em seus celulares. Assim ficou mais fácil ouvir rádio com o áudio do AM parecendo FM num som mais puro.

Se os leitores buscarem no site radios.com.br (estatística) região campo das vertentes, irão ver a Rádio Inconfidentes muito bem colocada entre as outras emissoras mais ouvidas. Isso porque o nosso time de locutores também é muito bom, começando pelo Chiquinho, Luana Chaves, Neném Ramos, Cleiton, o Alex, Batista e Hélio Henrique aos domingos.

É a nossa Rádio Inconfidentes dando o seu recado e colocando o nosso ouvinte em 1º lugar.

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