No dia 1º de maio de 1882 aconteceu o último sepultamento no adro da igreja Matriz. O costume na época era realizar os sepultamentos no interior das igrejas ou no adro, sempre de acordo com a classe social a que pertencera o falecido. Em Resende Costa não era diferente e, além da Matriz de Nossa Senhora da Penha, desde agosto de 1881 já se faziam sepultamentos no adro da igreja do Rosário. O último aconteceu em 15 de julho de 1922, ano em que fora inaugurado o Cemitério São Vicente – conhecido atualmente por “Cemitério de Baixo”.
Em 1882, segundo o professor José Augusto de Resende em seu livro “Pálidas Reminiscências”, 1920, foi construído o “Cemitério Geral”, conhecido hoje por “Cemitério de Cima”. A construção se deu durante os três dias de missões lazaristas. No Livro do Tombo da paróquia, Mons. Nélson, em 1956, estranha o fato de o cemitério velho (de cima) ser reconhecido como “Cemitério Municipal”. “... o cemitério velho, atualmente considerado, não sabemos por quê, cemitério municipal...”.
No mesmo livro, Mons. Nélson relata a construção do atual cemitério de baixo. “O atual cemitério foi construído durante as missões lazaristas. Foi inaugurado a 1º de junho de 1922, com a bênção da cruz. No mesmo dia foi sepultada no cemitério novo a moça Maria de Lourdes, filha do sr. Antônio Machado Pinto. O cemitério do adro do Rosário foi destruído em 1928. Houve transladação de ossos de alguns cadáveres para o novo cemitério São Vicente”.
Esse breve histórico tem por objetivo contextualizar o cemitério paroquial que se encontra, na atualidade, com problemas graves, como manutenção precária e falta de espaço para sepultamentos, sobretudo de pessoas cujas famílias não possuem túmulos perpétuos, o chamado direito perpétuo. No cemitério de baixo há 720 sepulturas e no de cima, 168. A grande maioria delas, talvez a totalidade, é de direito perpétuo.
Municipalização - De acordo com Pe. Geraldo Soares, pároco de Resende Costa, a falta de espaço é um problema que precisa ser solucionado com urgência. “Há uma certa urgência em resolver essa questão do espaço. Só há uma saída: ou a gente faz uma parceria com a prefeitura, ou a gente passa para ela e ela leva da maneira que quiser, ou então daqui a pouquíssimo tempo vou ter de fechar o cemitério. Por quê? Pela questão do espaço”, alertou o Pe. Geraldo.
A parceria entre paróquia e prefeitura municipal tem sido pleiteada insistentemente pelo pároco há muito tempo. “Desde que cheguei aqui, venho tentando uma parceria com a prefeitura, começando pelo prefeito Gilberto. O que eles faziam? Repassavam um salário à paróquia para ajudar a pagar o coveiro. Já até mandei um ofício para a prefeitura falando que ela tinha até a data X para assumir o cemitério. Procurei, conversei...”, disse.
Padre Geraldo disse que, há duas semanas, fez uma nova proposta ao prefeito Adilson, ponderando o fato de o cemitério ser paroquial, mas também ser útil a toda comunidade. “Propus ao prefeito fazermos uma parceria. A ideia é construirmos, até 31 de dezembro de 2012, de 100 a 200 gavetas. A prefeitura constrói as gavetas e a paróquia o ossário. A paróquia administraria tudo isso”.
O pároco também disse que há um espaço no cemitério de baixo reservado para a construção das gavetas. Segundo ele, esses túmulos não serão mais vendidos, apenas o ossário. “Num espaço de quatro anos após o sepultamento, seguindo a lei, venderemos apenas o ossário, se a família se interessar. Cada família teria um ossário, aquela gavetinha pequena”.
Atualmente, o interesse das paróquias que têm sob sua responsabilidade a administração dos cemitérios é passar esse encargo ao município. De acordo com Pe. Geraldo há muitas exigências para se administrar os cemitérios, entre elas a questão ambiental. O pároco também chama a atenção para o que exige a Constituição Federal, no art. 30, cap. IV e a Lei Orgânica Municipal, cap. II, art. IX, parágrafo 25, “Dispor sobre os serviços funerários e de cemitérios”. “Pela Lei Orgânica e Constituição Federal é de responsabilidade do município zelar pelos cemitérios e realizar os sepultamentos. Hoje a gente percebe essa dificuldade”.
Questionado sobre o fato de a municipalização do cemitério ainda não ter se concretizado, Pe. Geraldo explica: “Eles acham (prefeitura) difícil administrar. E dizem que o cemitério sempre esteve nas mãos da Igreja. Vocês administram bem, então vamos deixar nas mãos de vocês”. No entanto, parece que nos últimos dias as negociações têm evoluído em direção a uma parceria. “Há interesse nosso em fazer essa parceria. Quero deixar bem claro que não há interesse nenhum de a paróquia continuar com o cemitério. Mas uma vez que a prefeitura acha difícil administrar, a gente administra, desde que eles deem a mão-de-obra”.
Manutenção e limpeza - Os problemas do cemitério não se resumem somente na falta de espaço, conforme explica o Pe. Geraldo. Isso pode ser solucionado com a construção de gavetas e do ossuário. Mas a limpeza e a manutenção preocupam, sobretudo a quem visita regularmente o cemitério, como é o caso da dona Sílvia, que é benfeitora e sempre se preocupou com o zelo do lugar. “Há um ano e meio, mais ou menos, fiz uma campanha e arrecadei aproximadamente 180 reais para o cemitério. Com esse dinheiro pagamos um caminhão para retirar o lixo de lá, compramos vassouras e fizemos uma pequena limpeza na capelinha. Ainda ganhamos uma mangueira”, disse. Sílvia acha que o cemitério precisa de um zelador, uma vez que atualmente só existe um coveiro para dar conta de todo o serviço. “A paróquia não pode ter a responsabilidade total pelo zelo do cemitério. O interesse é geral, de toda a comunidade. Sendo assim, todos devem ajudar”, opina Sílvia, que também sugere a criação de uma espórtula para a manutenção do cemitério. “A paróquia poderia pedir uma ajuda à comunidade, ainda que seja 50 centavos de cada pessoa. Esse dinheiro, somado, poderia ajudar no pagamento do zelador e ainda ser investido na manutenção do cemitério”.
A manutenção realmente é precária. A capelinha, onde repousam os restos mortais do saudoso Mons. Nélson, está com toda a madeira do telhado podre e infestada de cupim. As paredes exibem sinais de infiltração, mofo e muitas rachaduras. O próprio túmulo do monsenhor carece de mais cuidado.
O lixo é outro problema. Sem local adequado para depositá-lo e incinerá-lo, conforme exige a legislação ambiental, o coveiro é obrigado a juntá-lo no canto da capelinha. O acúmulo revela que o lixo não é retirado periodicamente (durante a elaboração dessa matéria, o entulho foi totalmente retirado pela prefeitura municipal). “É responsabilidade da prefeitura recolher o entulho do cemitério. O Jaime (coveiro) vai na prefeitura e fala que tem que tirar, mas não há uma pressa da parte deles. Eles são tranquilos em relação a isso”, disse padre Geraldo.
Sobre a situação da capelinha do cemitério de baixo, Pe. Geraldo disse que tem um projeto de reformá-la ainda para o dia de Finados deste ano. “Agora, qual é o problema? A gente vai à prefeitura e eles falam que não têm mão de obra. Eles não dão resposta, não há consenso, então eu administro, disse o pároco”, que acredita na parceria futura com o poder público. “Hoje a saída é fazer as gavetas. Eu acredito na parceria, mas reitero que a responsabilidade de fazer sepultamento é do município, não do padre”.
Prefeitura - De acordo com Adilson Avelino, prefeito municipal, prefeitura e paróquia mantêm um bom relacionamento. “O Pe. Geraldo é uma pessoa bem entendida, o que torna mais fácil ainda o diálogo. Eu e ele conversamos bastante e fazemos planos também para outras áreas, como por exemplo, cultura”.
No que diz respeito à municipalização do cemitério, Adilson diz que esse não é um projeto para agora. Para ele, isso romperia com uma tradição histórica, já que o cemitério sempre foi paroquial.
Quanto ao problema de manutenção do cemitério, devido à grande quantidade de lixo encontrada no local, o prefeito afirma que a limpeza está no cronograma e procura realizá-la sempre que os funcionários comunicam a necessidade. “O lixo foi retirado faz três meses. É preciso esperar juntar uma quantidade certa para que a gente possa disponibilizar caminhão e mão-de-obra para realizar o serviço. Quando assumimos a prefeitura, foram retirados por volta de seis caminhões de lixo do cemitério, deixado pela administração passada”.
Segundo Adilson, todo o lixo retirado do cemitério é levado para um aterro controlado e transportado por um caminhão fechado, próprio para tais resíduos.
A construção ou aumento do espaço do atual cemitério, de acordo com o prefeito, está fora dos planos. “Estamos bem servidos de cemitérios em Resende Costa, se não me engano são cinco, dois aqui na cidade, um no Ribeirão, um no Curralinho dos Paulas e um em Jacarandira. Além disso, estamos fazendo um convênio com a paróquia para reformas no cemitério, o projeto será elaborado pelo Pe. Geraldo e a prefeitura entrará com recursos”.
“Há uma certa urgência em resolver essa questão do espaço. Só há uma saída: ou a gente faz uma parceria com a prefeitura, ou a gente passa para ela e ela leva da maneira que quiser, ou então daqui a pouquíssimo tempo vou ter de fechar o cemitério”.
Problemas no cemitério de Resende Costa
Notícia
André Eustáquio / Emanuelle Ribeiro 11/10/20100
.jpg/200/)