O feriado de 15 de Novembro (Proclamação da República) de 2024 em Resende Costa foi marcado pela abertura da III Semana da Consciência Negra, que neste ano apresentou como tema “Celebrando as Múltiplas Contribuições”. O evento é uma realização do Movimento da Consciência Negra de R. Costa e da amiRCo (Associação de Amigos da Cultura de Resende Costa), com o apoio da Prefeitura Municipal e do Sicoob Credivertentes.
A programação deste ano da III Semana da Consciência Negra, entre os dias 15 e 22 de novembro, aconteceu no Parque de Exposições Prefeito Gilberto José Pinto. Rodas de conversa, palestras, oficinas, apresentações artísticas e culturais levaram os participantes a refletirem sobre a cultura e a diversidade afro. Na cerimônia de abertura, no último dia 15, destaque para a presença de representantes do Movimento da Consciência Negra de Resende Costa, autoridades municipais e do Congado Catupé Santa Efigênia, liderado pelo capitão Zé do Baiano. O prefeito municipal em exercício, Lucas Paulo, destacou em sua fala a importância de se celebrar a Consciência Negra. “Quero parabenizar os organizadores da Semana da Consciência Negra em nosso município. É uma data muito importante para o resgate da cultura afro, para valorizarmos também o congado e suas tradições. Precisamos trazer e incentivar mais eventos como esse, com a participação dos congados e de toda a comunidade”.
A busca pela igualdade, pelo reconhecimento do povo negro afrodescendente e a preservação das tradições foram temas presentes nos discursos de abertura. O secretário municipal de Cultura, Esporte e Lazer, André Eustáquio, contextualizou a abertura da Semana da Consciência Negra deste ano com a data da Proclamação da República. “Estamos iniciando este evento no dia 15 de Novembro, data em que o Brasil comemora a Proclamação da República. Se olharmos para a história do nosso país e nos reportarmos ao ano de 1889, veremos que o movimento que desencadeou a extinção da monarquia e o início da República não contou com ampla participação popular. Onde estavam os negros recém-libertados e suas vozes? Em 1889, a população afro-brasileira não tinha acesso aos serviços públicos, como saúde, educação e renda. E esse cenário se repete ainda hoje. Que nesta semana possamos refletir sobre a democracia que desejamos para o nosso Brasil. Certamente queremos uma sociedade mais inclusiva, menos desigual e com oportunidades para todos”.
Para o idealizador da Semana da Consciência Negra em Resende Costa, vereador e presidente da Câmara Municipal, Cleiton Santos, a “semente plantada há 4 anos já vem dando frutos”, devido à “vontade de todos nós de fazer acontecer para que fique enraizada a importância da nossa história”. Cleiton destacou também a necessária atitude de, diariamente, combater o racismo ainda presente, de diversas formas e manifestações, na sociedade. “O dia da Consciência Negra é todo dia. Precisamos combater o racismo, por isso a semana veio para fortalecer ainda mais a nossa luta”.
Keila Santos, coordenadora e idealizadora do Movimento da Consciência Negra de Resende Costa, conclamou a todos a pensar sobre a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. “Celebramos a diversidade, aprofundamos e compartilhamos o conhecimento a fim de construirmos um futuro melhor e consciente. Que neste caminho longo e contínuo surja um futuro de igualdade”.
Ontem e hoje
O jornalista e escritor Laurentino Gomes, no terceiro volume da sua trilogia sobre a Escravidão, diz: “O Brasil foi o último país da América a acabar com a escravidão, pela chamada Lei Áurea de 1888, quase sete décadas após o Grito do Ipiranga. A ‘segunda abolição’, preconizada pelos abolicionistas, jamais aconteceu. O país nunca se tornou uma ‘democracia rural’, mediante a redistribuição de terras do latifúndio improdutivo. Jamais promoveu negros e mestiços à condição de cidadãos plenos, com os mesmos direitos assegurados aos demais brasileiros. Sem acesso à educação, moradia, saúde, renda e condições dignas de vida, a população afrodescendente brasileira foi abandonada à própria sorte, marginalizada, explorada sob formas disfarçadas de trabalho forçado e mal remunerado. Era assim em 1822. E assim permanece ainda hoje, dois séculos após a Independência”.
A Semana da Consciência Negra de Resende Costa teve seu ápice no dia 20 de novembro, feriado nacional de Zumbi dos Palmares, o líder negro morto numa emboscada em 1695, cujo legado inspira hoje o movimento de resistência negra em todo o Brasil. A terceira edição do evento em Resende Costa visitou a história, a ancestralidade e a cultura afro e, ao mesmo tempo, atualizou o urgente clamor cotidiano pela construção de uma sociedade inclusiva que reconheça e valorize todos os povos.