Restaurador resende-costense em igrejas de Mariana e Ouro Preto


Cultura

José Venâncio de Resende0

Silviney Almeida na igreja de Bom Jesus do Matosinhos, em Ouro Preto (Fotos: arquivo pessoal).

A reportagem “A experiência internacional do jovem artista sacro Silviney”, publicada no Jornal das Lajes (25/10/2023), abriu portas para a atuação do restaurador resende-costense em igrejas da região histórica de Minas Gerais. A revelação é do próprio Silviney, em entrevista ao JL em dezembro de 2024. “Depois da reportagem, fui procurado por Ricardo Senra, da Cantaria Conservação e Restauro, para restaurar a igreja de Nossa Senhora da Conceição, do distrito de Camargos, em Mariana.”

O trabalho de restauro teve como base o “Projeto de Conservação e Restauração dos Elementos Artísticos Integrados da igreja matriz”, de agosto de 2017, elaborado pela Pax Engenharia Projetos e Consultoria Ltda. para a Prefeitura Municipal de Mariana e aprovado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).  Silviney foi contratado para fazer o complemento da talha (entalhe) do altar-mor e dos retábulos laterais (de Santo Expedito e de São Miguel Arcanjo). “Esse trabalho durou nove meses; inclusive, a pintura foi feita com a técnica tradicional europeia e finalização com douramento.”

A construção da antiga capela terá sido iniciada por volta de 1707 e concluída em meados do século XVIII, de acordo com Cláudia Damasceno Fonseca (HPIP - Patrimônio de Influência Portuguesa). “Com partido retangular, o primeiro pavimento corresponde à nave, capela-mor, átrio, corredores laterais e sacristia; o segundo pavimento é formado pelas tribunas e coro.” “A capela-mor, em adobe, talvez seja um elemento remanescente da primitiva capela erguida pelos pioneiros. A talha do altar-mor apresenta decoração profusa, com elementos zoomórficos e fitomórficos, típicos da fase joanina.”

 

Outro Preto

Em outubro de 2024, por indicação do IPHAN, a empresa SEPRES Construtora e Incorporadora contratou Silviney para serviços de entalhe das portas e janelas e da cantaria da igreja do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Ouro Preto, cuja portada foi obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Coincidência? “Meu avô, Pedro Alcindo de Almeida, que era escultor e entalhador, falava que somos descendentes da família do Aleijadinho”, conta. “Foi um trabalho emergencial (duração de um mês) porque a portada estava em estado crítico. O deslizamento de um barranco próximo à igreja deslocou a torre do lado direito e provocou uma rachadura na portada.”

A igreja teve sua construção iniciada em 1771, de acordo com o site Ouro Preto Cidade Patrimônio Cultural da Humanidade. Aleijadinho foi o autor da magnífica portada, de acordo com anotações no livro da Irmandade (1778). “O mais admirável destaque do monumento concentra-se na fachada, especialmente na porta principal, onde se encontram esculturas atribuídas a Aleijadinho.” Nessa portada, encontra-se a imagem talhada de São Miguel Arcanjo. Na parte interior, destacam-se a imagem do Senhor do Sepulcro e duas pinturas, nos corredores laterais, de autoria de Manuel da Costa Ataíde, o Mestre Ataíde.

Construída entre 1771 e 1793, a antiga capela é dedicada a três invocações: São Miguel e Almas, Sagrados Corações e Bom Jesus de Matosinhos. Tombada em nível nacional desde 1939 (Livro do Tombo das Belas Artes), a igreja Bom Jesus de Matosinhos atualmente está fechada para reforma.

 

Igreja de São Bartolomeu

Silviney acaba de ser convidado para trabalhar na igreja matriz do distrito de São Bartolomeu, em Ouro Preto. O contrato com a empresa Joaquim Artes e Ofícios tem duração de dois anos e os trabalhos começaram no dia 2 de dezembro de 2024. Os serviços abrangem complemento do entalhe do altar-mor e dos altares laterais, pintura do teto da nave (técnica tradicional europeia) e intervenção no sino de madeira, “um dos dois únicos do Brasil”, com badalo de prata.

Segundo o Instituto Estrada Real, São Bartolomeu é um dos distritos mais antigos do ciclo do ouro; foi fundado pelos bandeirantes no final do século XVII. “A igreja de São Bartolomeu guarda uma curiosidade: um sino de madeira com mais de 200 anos, construído para compor a torre. Hoje é uma das atrações da cidade, juntamente com os doces artesanais.”

A segunda etapa do projeto tem como objetivo concluir obras emergenciais de restauração arquitetônica da igreja, uma das mais antigas de Minas Gerais, segundo a empresa responsável. “Joaquim Artes e Ofícios, ante o precário estado da edificação, buscou entendimentos entre os intervenientes: IPHAN-MG, Comunidade de São Bartolomeu, COMPATRI - Patrimônio Ouro Preto, Igreja Católica e CeMais (Centro Mineiro de Alianças Intersetoriais), visando à recuperação desse importante exemplar do barroco mineiro.”

Segundo o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (IEPHA), a igreja faz parte das “matrizes mineiras da primeira metade do século XVIII, composta por planta em retângulo compacto formado pela nave, capela-mor, sacristia, corredores laterais à capela-mor. (…) Quanto à ornamentação, a igreja conserva rico conjunto de talha constituído pelos quatro retábulos e pinturas de boa qualidade técnica no forro da nave e da capela-mor.”

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