As celebrações da Semana Santa de São João del-Rei, uma das mais tradicionais do Brasil em fé, arte e história, podem ser divididas em três partes: as Comemorações dos Passos, na Quaresma; a Semana Santa Cultural, em abril; e a Semana Santa religiosa, promovida pela Irmandade do Santíssimo e pela Paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhor do Pilar.
Este ano, as solenidades da Semana Santa, desde a primeira cerimônia de Domingo de Ramos até o Ofício de Trevas no Sábado de Aleluia, foram na igreja de Nossa Senhora do Carmo (nos anos anteriores, eram na Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, que se encontra fechada para reforma e restauro), à exceção do Descendimento da Cruz (que foi em frente à igreja de Nossa Senhora das Mercês). A partir da solene Vigília Pascal, na noite de sábado, “muito bonita e tocante”, as cerimônias foram realizadas na igreja de Nossa Senhora do Rosário.
Este ano, chamaram a atenção as flâmulas vermelhas que, desde o Domingo de Ramos, ornamentavam os imponentes casarões públicos e particulares nas ruas do centro histórico de São João del-Rei, dando um brilho especial à Semana Santa. Essas flâmulas vermelhas representavam o sangue derramado de Cristo. Infelizmente, alguns vândalos vilipendiaram essa manifestação religiosa e cultural, ao arrancarem de madrugada as flâmulas dos casarões da Rua da Prata.
A Semana Santa de São João del-Rei é constituída de 18 cerimônias, encenações religiosas e procissões, que vão desde a missa solene de Domingo de Ramos até o Te Deum Laudamus da Ressurreição. “É uma Semana Santa grande, acho que é a maior do Brasil”, disse Ricardo Camarano, provedor da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Catedral do Pilar, em entrevista a Fábio Silva (1º de abril) na Rádio São João del-Rei.
A missa solene do Domingo de Ramos, na igreja do Carmo, abriu a Semana Santa, com o canto da paixão durante a leitura do Evangelho, totalmente em latim. Uma multidão de fiéis participou da Procissão de Ramos e da Procissão do Senhor do Triunfo, revivendo a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, acolhido com ramos e cânticos de esperança.
A Sexta-feira da Paixão foi o dia que concentrou o maior número de cerimônias, a começar pelo Ofício de Trevas na igreja do Carmo; depois, o Sermão das Sete Palavras e, à noite, a marcante encenação do Descendimento da Cruz na escadaria da igreja das Mercês, com a participação de milhares de pessoas. Por fim, a Procissão do Enterro (precedida do cântico da Verônica), que percorreu as principais ruas históricas da cidade.
O Ofício de Trevas, na Quarta-Feira Santa, na igreja do Carmo, com as orações de Matinas e Laudes, leituras das lamentações e o apagar das velas foi outra cerimônia que atraiu a atenção de muita gente pela sua beleza. Também foi revivida a celebração, na Quinta-Feira Santa, da Ceia do Senhor – que recordou os últimos momentos de Cristo com os discípulos antes da crucificação - e o ritual litúrgico do Lava-Pés, no qual o bispo repetiu o gesto de Jesus ao lavar os pés dos discípulos. A quinta-feira culminou com a Procissão do Fogaréu e das Endoenças (ao som das matracas), cujos encapuzados representam, desde o século XVIII, aqueles que prenderam Jesus.
No Sábado, houve a Vigília Pascal, com Ofício de Trevas e Matinas e Laudes pela Orquestra Ribeiro Bastos. O Domingo de Páscoa encerrou a Semana Santa, com missas solenes nas igrejas do Rosário, do Carmo, das Mercês e na capela do Hospital. O ponto alto foi a Missa Solene Pontifical na igreja do Rosário, com a bênção papal. Destaque ainda para a procissão do Santíssimo Sacramento, a solene coroação de Nossa Senhora e o encerramento com o canto Te Deum Laudamus.
Logística
A organização da Semana Santa exige o envolvimento de grande número de pessoas, de acordo com Ricardo Camarano. No fim de cada Semana Santa, a Irmandade do Santíssimo cria um roteiro de ações a serem desenvolvidas ao longo do ano. A começar pela divisão de tarefas entre os doze membros da mesa administrativa da irmandade, além dos cargos honoríficos, de como cuidar de figurantes e convidados e da organização das lanternas.
Já os funcionários da paróquia e alguns voluntários cuidam da mudança dos cenários e da limpeza da igreja, entre outras atividades. O pároco é o responsável pelo convite aos padres, entre eles os pregadores das cerimônias.
E há os profissionais envolvidos na montagem de estruturas das cerimônias externas, como o palanque do Lava-Pés (este ano, ao lado da igreja do Carmo), montado por uma empresa contratada, e a extensão da escadaria da igreja das Mercês para o Descendimento da Cruz (Calvário).
Profissionais da própria catedral e mão-de-obra voluntária são responsáveis por esses cenários. Ricardo Camarano estima que o número de envolvidos ultrapasse a 50 pessoas apenas entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa.