Sobrado da Câmara Municipal: o solar majestoso que ajuda a contar a história do poder na antiga Laje, hoje Resende Costa


Informativo da Câmara

André Eustáquio0

Fotografia atual da sede da Câmara Municipal mostra a localização do histórico imóvel, erguido ao lado da igreja matriz (Foto: André Eustáquio)

Um casarão assobradado, erguido provavelmente em meados do século 19 ao lado da igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha de França, sedia o Poder Legislativo do município de Resende Costa. É no salão nobre desse imponente solar que os vereadores se reúnem, legislam, debatem os rumos do município e representam, politicamente, os cidadãos resende-costenses. Até 1987, o sobrado, que antes fora casa de morada de nobres famílias do antigo Arraial da Laje, serviu durante anos como paço do Executivo Municipal.

Antes de se tornar prédio público, em 1º de outubro de 1936, o imóvel pertenceu a nobres famílias da antiga Laje, hoje Resende Costa. “O sobrado, presumivelmente construído no início do século 19, pertenceu a abastadas famílias, pois ter um casarão naquele lugar, topo do Arraial, ao lado da Capela, era um privilégio. Indícios revelam que ele foi um dos poucos imóveis assobradados do largo. Para erguê-lo e mantê-lo, era necessário um grande poder aquisitivo. Os alicerces do seu porão foram construídos em pedras para darem sustentação às paredes de adobe do segundo andar. Conta-se que existia uma passarela que o ligava ao adro lateral da igreja [matriz]”, escreveu a professora Elaine Amélia Martins em artigo publicado no Jornal das Lajes em outubro de 2005 e que faz parte da coletânea “Um Olhar Sobre Resende Costa”, amiRCo, 2011.

Em seu livro “Memórias, vol. I”, o professor Antônio de Lara Resende menciona o imponente sobrado da Câmara e confirma a existência da passarela que, conforme abordou Elaine, ligava o imóvel à igreja matriz de Nossa Senhora da Penha de França. “Um passadiço de sólidas peças de madeira extenso, de uns quinze metros se não mais, a uns cinco metros do nível da rua, ligava o solar dos Pinto-Lara às tribunas que na igreja matriz só a eles se reservavam. Aquele passadiço, que não mais existia no tempo em que comecei a me entender por gente, dispensava os habitantes e hóspedes do sobrado de pisar chão de rua para irem à igreja e de lá voltarem. Contava papai que, sendo ele menino ainda, quando, nas procissões, as imagens transitavam por debaixo do passadiço, toda a meninada da família despejava sobre elas bandejas de flores. E alternavam-se duas turmas. Uma lá ficava para a florida saudação, enquanto outra, vestidos uns de anjo, outros de virgem, ia acompanhando a procissão”. Antes de passar às mãos dos Pinto-Lara, o imóvel pertenceu à família Sousa Maia, que, conforme escreveu Elaine Martins em seu artigo, “ali se estabelecia em dias de festa do Arraial”.

A descrição que o professor Lara Resende faz do antigo sobrado dos Pinto-Lara, que ainda se destaca na esquina da praça Nossa Senhora de Fátima com a rua Orquestra Mater Dei, permite-nos voltar os olhos para o passado, como se estivéssemos defronte de um espelho que reflete sombras da história. O casarão era símbolo do poder da aristocracia rural lajeana que ditava solidamente, ao lado da Igreja, os rumos e os costumes do pequeno arraial erguido no topo da colina de pedra. Não é por acaso que ambas as edificações (igreja e o grande solar) localizam-se lado a lado.

No início do século 20, ainda conforme relatos de Antônio de Lara Resende, o passadiço que servia para “preservar” os ilustres moradores do casarão do contato com os simples mortais que transitavam sob seus pés, deixou de existir. Assim como certos privilégios gozados por poucos poderosos. “As tribunas da igreja matriz passaram depois a receber só pessoas mais velhas da família privilegiada, que, crescendo em número, teve de ir se adaptando às imposições da contingência, até que desapareceu o privilégio, com a reforma a que o padre Alfredo de Macedo, nos primeiros anos desse século, procedeu no templo”.

 

Transformação

Se no século 19 o velho sobrado se ergueu como símbolo do poder que emanava das mãos e da influência de nobres famílias representantes da aristocracia rural da Laje, nas primeiras décadas do século 20 o seu papel na sociedade resende-costense começou a se modificar. Ao ser adquirido, em 1936, pelo então prefeito Doutor Costa Pinto, o imóvel, que pertencia na ocasião a Christovan Gonçalves Pinto, foi preparado para sediar os poderes Executivo e Legislativo.

Reformas estruturais adaptaram a suntuosa casa de morada para ser prédio público. Porém, o velho casarão dos Pinto-Lara jamais deixou de lado sua vocação para abrigar o poder. Diferentemente dos tempos dos coronéis aristocratas que ditavam regras e normas protegidos por fiéis súditos, hoje as leis elaboradas e aprovadas no salão nobre da Câmara Municipal são chanceladas pela democracia e pela vontade soberana do povo.

E, felizmente, os atuais inquilinos do velho solar não usam passadiço para adentrarem ao salão nobre. Como qualquer simples cidadão desprovido de títulos e honrarias, eles sobem as escadas que dão acesso ao interior da sede do Legislativo de Resende Costa, a casa do povo, sob o olhar vigilante e confiante daqueles que os elegeram e que merecem a máxima fidelidade.

Reconhecendo, enfim, o valor histórico, cultural, arquitetônico e artístico do imóvel, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Resende Costa tombou, através do decreto municipal datado de 9 de outubro de 2020, o belo e imponente casarão dos Pinto-Lara, hoje sede da Câmara Municipal de Resende Costa.

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