SUSTENTABILIDADE: Uma casa de tijolos ecológicos em Resende Costa


José Venâncio de Resende


Fachada da casa da arquiteta Isabela Resende, construída com tijolos ecológicos (foto arquivo pessoal)

No início, era para ser apenas um projeto de TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) para o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade FUMEC, de Belo Horizonte. “Enquanto estava fazendo o meu TCC, busquei alternativas construtivas que fossem mais econômicas e mais amigáveis ao meio ambiente”, conta Isabela Resende, formada em 2018.

No decorrer das pesquisas, a então estudante descobriu que havia uma fábrica de tijolo ecológico em Santa Cruz de Minas, cidade vizinha a Resende Costa. “Interessei-me bastante pelo assunto, fiz uma visita à fábrica e conversei com os responsáveis, tudo isso para fazer o meu projeto de TCC da faculdade.”

Já formada, Isabela resolveu construir a própria casa, no bairro Nossa Senhora da Penha. Ela viu o tijolo ecológico como uma possibilidade real, “na qual eu poderia aplicar o objeto das minhas pesquisas na faculdade. Depois de muito deliberar e pensar sobre todas as vantagens e desvantagens, resolvi arriscar; afinal, além de todas as outras vantagens, a estética dele também me atraía muito”.

A obra começou no final de 2018, foi realizada por etapas e, agora, se encontra na fase de acabamento. Isabela estima que foram utilizados em média 28 mil tijolos, o que se explica pelo tamanho da casa, que tem quatro quartos, sala, cozinha, pequena área de lazer com churrasqueira, lavanderia e garagem para dois carros. A sala tem o pé direito mais alto, com o telhado aparente. Por ser uma casa alta, o quarto principal (suíte) fica no andar cima.

A arquiteta optou por telhas de cimento, que, por serem da cor cinza, “ficam bem bonitas com a cor dos tijolos”. As janelas e portas são de madeira maciça. “O bacana do tijolo ecológico é que você não precisa rebocar todas as paredes, a parte elétrica e hidráulica já sobe pronta; não precisa pôr revestimento em muitos lugares, só onde tem necessidade mesmo. Fica um resultado bem bonito, bem diferente, bem aconchegante.” Além do tijolo ecológico, Isabela instalou aquecedor solar para chuveiros, com capacidade de 400 litros de água, a fim de economizar energia.

 

Menor custo

Isabela confessa que no início estava temerosa “porque era um negócio diferente e eu não conhecia ninguém que tinha construído casa com o tijolo; além disso, eu não sabia se seria a melhor alternativa”. Ela voltou à fábrica, desta vez acompanhada do pedreiro. “Nós conversamos bastante e aí eu decidi. Fiz o projeto todo modulado de acordo com o tijolo para ele ficar mais bem feito, o mais completo possível”.

O tijolo usado por Isabela é produzido pela Ecoforte, fábrica localizada em Santa Cruz de Minas, na divisa com São João del-Rei. A empresa usa cimento, barro e água na sua produção e os tijolos não são levados à queima, como tijolos comuns, explica a arquiteta. “O preço do tijolo em si é mais caro do que o tijolo comum; porém, ao usá-lo, você economiza com concreto e ferragens e tem muito menos desperdício de material. Além disso, não há necessidade de reboco e de pintura; apenas usa resina impermeabilizante. O que, no final das contas, faz com que a obra fique mais barata.”

 

Cuidados

Alguns cuidados precisam ser tomados ao optar por esse tipo de construção, alerta Isabela. A começar pelo projeto arquitetônico: “o importante é ter um bom projeto, que esteja bem fechadinho, bem resolvido para não haver problemas futuros. Uma construção com tijolo ecológico não permite muitas mudanças. “A pessoa que for construir deve estar bem decidida porque não é fácil fazer alterações depois que subiu as paredes. Quando você está construindo com tijolo ecológico, as paredes já vão subindo com a parte elétrica e hidráulica já prontas, justamente para não ter quebra, para não ter desperdício de material.”

Daí a importância de ter mão de obra de qualidade, “um bom pedreiro, para garantir velocidade e economia na obra”. Isabela enfatiza que não se consegue, por exemplo, quebrar a parede toda para mudar uma tomada ou um ponto de água de lugar, “justamente porque depois não se vai rebocar”. Então, “não vale a pena fazer alterações. Se for preciso, tem que ter muito cuidado, tem que tirar o tijolo, colocar de novo etc.”.

Ela alerta para a dificuldade com a mão de obra; “Esse foi um dos problemas que eu encontrei durante a construção porque demanda muita atenção da parte dele (pedreiro); é necessário prestar muita atenção ao projeto para não deixar nada para trás, tem que tomar muito cuidado para não estragar o material; quando a mão de obra é mais experiente, já se sabe como vai fazer, as paredes sobem muito rápido”. Depois que subiu a parede, “é preciso rejuntar entre os tijolos e passar resina impermeabilizante”.

É uma alternativa que vale a pena? “Sim, desde que você tenha um bom projeto, uma boa mão de obra, um bom suporte para poder fazer essa obra, pois não é uma obra simples. É um projeto e uma obra que são muito detalhados.”

 

Cimento e areia

Para que uma alternativa construtiva possa ser usada pela grande maioria, é preciso garantir que o usuário tenha vantagens, observa Isabela. “É muito bom quando conseguimos unir sustentabilidade e diminuição nos custos, mas nem sempre isso é possível. Acho que existe a possibilidade, sim, de introduzir alguns conceitos, desde que também beneficie quem está construindo.”

De grande valia poderá ser a nova ferramenta para medir as emissões de dióxido de carbono (principal responsável pelo aquecimento global) do material utilizado na construção civil (casas, prédios e infraestrutura). Ela está sendo introduzida no Brasil mediante acordo entre União Europeia, universidades, organizações não-governamentais e o Ministério de Minas e Energia. Esta é uma aposta para se construir de forma mais sustentável, minimizando os danos ao meio ambiente, segundo reportagem do Jornal da Cultura (23/04/2022) da TV Cultura de São Paulo.

A reportagem cita como exemplo um concreto especial utilizado na construção de um prédio residencial em São Paulo, que, para ser produzido, consome menos cimento e água. Com isso, consegue reduzir em até 26% a emissão de dióxido de carbono. Esse concreto especial também possibilita a diminuição de aço na estrutura, o que também resulta em menos emissão de CO2.

Segundo a reportagem, a Agência Internacional de Energia quer que o setor de construção reduza pela metade as emissões diretas de dióxido de carbono e em 60% as emissões indiretas até 2050. Para isso, é preciso medir esses poluentes. Aqui entra em cena o Sidac (Sistema de Informação do Desempenho Ambiental da Construção), uma plataforma web que permitirá calcular a pegada de energia e de carbono de produtos de construção fabricados no Brasil.

Com recursos da União Europeia e do governo alemão e gestão do Ministério das Minas e Energia, a plataforma ajudará o consumidor a escolher produtos mais sustentáveis, baseado nas informações fornecidas pelos fabricantes. O site vai reunir dados sobre a quantidade de CO2 emitida durante a produção de cada item utilizado na construção civil. A informação será checada por um grupo de especialistas e depois disponibilizada sem custos para a população.  

Segundo o ecologista Fábio Feldman, a iniciativa é muito boa. O setor de cimento gera emissões maiores do que muitos países, inclusive o Brasil; ou seja, é um grande contribuidor para o chamado aquecimento global. Como o cimento é muito importante na construção civil, um dos desafios do planeta é reduzir a emissão de carbono no fabrico desse material. Outro exemplo citado por Feldman é a areia, muito importante na construção civil, que está ficando escassa no planeta. “E, pasmem, grande parte da areia consumida no Brasil é ilegal, de portos de areia não certificados que causam grande dano.”

 

 

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