Um aceno, um adeus


Homenagem Especial

Luzia Resende0

fotoÊnio Resende (1937-2022) Foto arquivo familiar

“Aqueles que passam por nós não vão sós.
 Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”
(Antoine de Saint-Exupéry)

E assim vão ficando na lembrança muitas histórias bonitas vividas por pessoas queridas. Às vésperas da 41ª festa de Exposição Agropecuária de Resende Costa, despedimos com pesar do idealizador e fundador do Parque do Campo. Coincidência ou coisas do destino?

Dinâmico e apaixonado pelas coisas do campo, Ênio Resende deixou marcadas na sua história sua luta e conquistas a favor dos eventos culturais voltados para a área rural.  Ao som dos carros de bois, dos rodeios, shows sertanejos e cavalgadas não mediu esforços, criando a tão sonhada festa agropecuária, que foi ganhando extensão a cada ano, sendo destaque hoje na região.

Ênio Resende nasceu na Fazenda do Pinhão, sendo seus pais: Waldemir, conhecido como Sr. Lulu, e dona Maria José; uma família constituída por onze filhos educados na fé e com muito amor. Estudou no Colégio Salesiano Santa Rosa, em Niterói-RJ. Desde menino, tinha muita afinidade com a zona rural. Gostava de passar as férias na Fazenda do Segredo, do seu tio, José Perboyre, que tinha muita movimentação de gado e cavalos. Então saía a campear e cavalgar com seus primos.

Terminado o colégio, ele foi para Belo Horizonte, onde fez seu curso superior e se tornou professor e administrador no Colégio Municipal por muitos anos. Mesmo trabalhando na capital, vinha para sua cidade natal toda sexta-feira à noite, quando passava o final de semana cuidando do seu gado e cavalos, no Sítio do Potreiro, retornando na madrugada de segunda-feira.

Era neto do Cel. Mendes e dele herdou a inquietação para realizar feitos para sua cidade natal. Meados dos anos 70, com o apoio do seu irmão Geraldo Magela e de um grupo de fazendeiros, fundou o Parque do Campo e começou os primeiros eventos, que aconteceram no improvisado espaço no campo de futebol da cidade. Na primeira festa, trouxe, do colégio onde trabalhava, a fanfarra para abrir o desfile de carros de bois, cavalos de raça, com a presença da rainha e da princesa da festa, tudo com muita beleza e organização, o que encantou a população da cidade e os visitantes.

Com o grupo formado, os fazendeiros doavam animais e faziam leilões a fim de angariar fundos para o sustentáculo do Parque do Campo. Com muito esforço, adquiriram um terreno e puseram a mão na massa, transformando-o num espaço para as apresentações. Segundo relatos das suas irmãs Lora e Maria, toda a família se envolveu nessa luta. Inclusive seu irmão, padre Davi, em cima de um caminhão, foi quem fez as primeiras instalações elétricas no local.

Nasceu também nesse tempo a “Cavalgada Bolivar de Andade”, que continua na parceria entre as cidades de Passa Tempo e Resende Costa até hoje. Com o empenho de Ênio Resende, ela ganhou relevância na festa, tendo a participação de famílias inteiras que saem de Passa Tempo, passando por Jacarandira, pernoitando no Cajuru e chegando para abrir a Exposição Agropecuária de Resende Costa. Festa boa, com duração de três dias e que atrai muitos visitantes.

Com o passar dos anos, o Parque do Campo, fundado por ele e que era uma associação de fazendeiros, foi municipalizado a favor de seu desenvolvimento e manutenção.

Ênio foi casado durante 31 anos com Marilene de Freitas Claudio Resende, despertando em sua companheira também a paixão pelas cavalgadas.

Durante o mês de julho de 2022, quando completava seus 85 anos, veio a falecer, deixando muitas saudades e também a lição de cidadão amante da vida simples e transformadora de quem sabe apreciar e valorizar a vida do homem do campo. Para ele, tiramos o chapéu e acenamos, na sua travessia para a eternidade, com gratidão e aplausos.

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