Um giro por São João del-Rei com o guia de turismo Luiz Miranda


Perfil

José Venâncio de Resende0

Miranda, guia turistico em São João del-Rei (Foto José Venâncio)

O guia de turismo Luiz Miranda nasceu, de parteira, em 1966 no bairro são-joanense Senhor dos Montes, onde existe uma das maiores comunidades de resende-costenses oriundas do Ribeirão de Santo Antônio. A outra comunidade é do Matosinhos. Incluem sobrenomes como Andrade, Silva e Fernandes, além de Miranda.  

Luiz é filho de Antônio Miranda e Arlinda Miranda, ambos do Ribeirão. “Minha mãe é da família dos Souza de Resende Costa, embora assinasse Nascimento porque o meu avô José Artur trocou em cartório o seu sobrenome de Souza para Nascimento”, diz Luiz. 

O bisavô de Luiz era do norte de Portugal e chegou a Resende Costa no final do século 18 ou início do século 19, segundo conta seu tio Geraldo Silva. “Meu pai é o único que recebeu o sobrenome Miranda, que era do meu bisavô. Tanto que meu avô é José Cecílio da Silva.”

A família de Luiz Miranda foi uma das primeiras do Ribeirão a se mudar para São João del-Rei. No início do século 20, entre 1915 e 20, já estavam no bairro Senhor dos Montes. “Meu avô José Artur do Nascimento, que era carpinteiro, morreu novo e deixou minha avó Norvina Rodrigues de Jesus com muitos filhos, passando dificuldades.”

A viúva de José Artur, então, mudou com os filhos para São João del-Rei, próximo ao Hospital das Mercês. “Meus tios começaram a trabalhar cedo pra cuidar dela”, conta Luiz. Algum tempo depois, a família comprou um terreno no Senhor dos Montes e mudou para o bairro.

 

Guia de turismo. Luiz passou a infância e a juventude no bairro Senhor dos Montes onde morou até pouco mais de seis anos atrás. Começou a vida profissional no escritório da Madeireira São José onde trabalhou durante 18 anos. A partir de 2000, acumulou o trabalho com o Instituto Histórico e Geográfico onde passou a atuar na área de pesquisa e acabou por se tornar confrade.   

Nesse meio tempo, Luiz Miranda fez o curso técnico em turismo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFET) de Ouro Preto. Formou-se em 2008.

Tal logo concluiu o curso, Luiz tornou-se guia de turismo credenciado pelo Ministério de Turismo. Isto significa que pode trabalhar em qualquer cidade brasileira.

O que é preciso para ser um bom guia de turismo? Para Luiz Miranda, é importante gostar do que faz, manter-se atualizado (leitura e pesquisas) e “ver no turista você mesmo”.    

Luiz sempre procurou seguir este caminho. Sua leitura consiste de livros de história, literatura e infantis, estes últimos para buscar uma linguagem adequada às crianças. “A importância da pesquisa é que você vai na fonte primária da informação, como o arquivo eclesiástico de Mariana, a biblioteca do Museu Regional de São João del-Rei, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a biblioteca do IHG.”

Além disso, Luiz considera fundamental tratar bem o turista, ou seja, trabalhar com ética. Nunca transmitir uma informação errada ou duvidosa, ter a humildade de admitir que não sabe ou não tem certeza e dizer que vai pesquisar.

 

Lendas x fatos. Segundo Luiz, é muito comum o turista, e mesmo a população local, confundir lendas com fatos históricos. “Neste caso, o guia de turismo tem maior responsabilidade e deve estudar, informar-se para saber como passar essa diferença ao turista.”

Aliás, a população dos bairros mais distantes do centro, em geral, tem menos conhecimento dos bens históricos da cidade (igrejas, casarões, pontes, praças e pelourinho), observa Luiz Miranda. “Isto é percebido inclusive entre os alunos das escolas públicas.”

Um grupo de turistas leva normalmente de quatro a seis horas para conhecer o centro histórico de São João del-Rei, relata Luiz. Essas visitas abrangem desde a origem da cidade até os tempos atuais. “São João del-Rei foi pioneira na agricultura nas Minas Gerais para abastecer os mineradores que iam para Ouro Preto e Mariana, tropeiros e pessoas que estavam em busca do ouro na região.”

Outros aspectos abordados na visita curta são a chegada da locomotiva, a chegada dos italianos para substituir a mão-de-obra escrava, a industrialização (fábricas de tecidos), a participação de São João del-Rei na segunda guerra mundial e a chegada das universidades (novos costumes dos jovens universitários que entram em choque com as tradições e religiosidade locais).      

As informações aos grupos de turistas incluem música (orquestras bicentenárias e toque dos sinos desde o século 18), Semana Santa (ininterrupta desde 1711) e os famosos educandários (desde o século 18). Luiz cita personalidades que estudaram nestas escolas como o escritor Guimarães Rosa e Lincoln de Souza da Academia Brasileira de Letras (Colégio Santo Antônio); o jornalista Oto Lara Resende (Colégio Padre Machado); o médico e cientista Carlos Chagas (Colégio São Francisco); a cantora Bibi Ferreira (Colégio Nossa Senhora das Dores); os irmãos Tancredo e D. Lucas Neves (Escola João de Deus).   

Outras referências para os turistas são os museus Regional, da FEB (Força Expedicionária Brasileira), da Ferrovia e Tomé Portes del-Rei. Os turistas ficam sabendo que nas pontes da Cadeia e do Rosário, do século 18, escravos eram comercializados (comprados, vendidos e alugados). Luiz relata ainda que o pelourinho é um dos três existentes no Brasil.         

Essas visitas curtas em geral terminam com o embarque no trem Maria Fumaça rumo à cidade de Tiradentes. 

Quando o roteiro inclui o restante da cidade e o entorno (antigas lavras de ouro, pinturas rupestres, colônia italiana etc.), a visita tem duração de quatro dias. Luiz costuma receber alunos de escolas de outros estados (São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro etc.) para estas visitas mais longas. “Estes alunos trabalham aspectos diferentes como a culinária, a religião e as lendas.”

Luiz Miranda é casado, desde 1991, com a professora Margarida Coelho Miranda, e tem duas filhas: Maísa, 20 anos, e Marina, 10 anos.    

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