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A Gata do Mané Cráudio

13 de Marco de 2018, por José Antônio

A mulher do Mané Cráudio não queria, mas ele foi atrás de uma assim mesmo. A mulher não pôde esconder a raiva:

– Eu já avisei. Não vou ficar limpando sujeira desse bicho aqui dentro de casa.

A gatinha era espevitada. Espantava-se com tudo. Dava saltos rápidos, pra frente e pra trás... pulava de lado e pro alto. Mandava porrada com as patinhas em tudo o que se mexesse à sua frente. Todos caíam na gargalhada, até a mulher do Mané Cráudio. A gatinha ficava olhando séria (todos os gatos são sérios). E riram tanto dela que se esqueceram de que gata deve ter nome. A coitada ainda não tinha RG (Reconhecimento de Gato) nem CPF (Codinome Pra Felino).

Quando o Mané Cráudio chegou pela primeira vez com a bichana (ela estava numa caixa de sapato), a aparência da gata chamou a atenção: magra, comprida, patas arreganhadas e um rabão. Igualzinho salamandra. Poucos dias depois e outra coisa curiosa: a gata, correndo atrás de uma bolinha de papel, entrou na lareira acesa e saiu sem se queimar.

Pois é... em algumas civilizações acreditava-se que a salamandra podia atravessar o fogo sem sair tostada. Deve ser por isso que os operários que apagam incêndios em poços de petróleo são chamados de salamandras.

 E a gata ganhou o nome de Salamandra.

Como você já sabe, amigo leitor, Mané Cráudio é o meu amigo pagador de mico. Paga mais mico do que novo-rico-emergente comprando perfume fino. Não é que o Mané Cráudio começou a pagar mico pra cima da gata?

– Raul e Júlia... que bom receber vocês em minha casa! Olhem, essa é a nossa gatinha. Ela se chama Salaminho.

– Salamandra, pai.

Uma outra vez:

– Trouxemos a gatinha pra vacinar. Ela é mansinha, não é mesmo, Sarapatel?

– Salamandra, pai.

Semana passada, essa eu vi. Mané Cráudio chamou a gata de Sacripanta. Ela jogou as orelhas pra trás, arrepiou o cangote, engrossou o rabão e fez aquele som típico de gato quando está com raiva:

– Fzzzzzzzz!

Mais tarde, vi no dicionário a palavra “sacripanta”. Dei razão para a gata.

O tempo passou e a gatinha abandonou o diminutivo. Era adulta. Acabou sumindo. Ficou uma semana fora. Até que voltou... acompanhada de um gato adulto.

– Tá pensando que aqui é motel, sua gata sem-vergonha? – era a mulher do Mané Cráudio, empunhando uma vassoura e fazendo as desonras da casa.

Por uma questão de cautela, a gata achou melhor ir embora e não voltou mais.

Salamandra sumiu de novo. Dessa vez, foi um tempão. Todo mundo já achava que Salamandra tinha virado tamborim. E eis que a danada chega, despejando na cozinha uma ala de cinco filhotinhos.

– Gata sem-vergonha! Garanto que isso é coisa daquele gato.

– Paciência, mulher! – ponderou Mané Cráudio – Essa é a nossa Samalandra.

– Salamandra, pai. Ou melhor, você está certo, pai. É Sá Malandra.

Ontem, a gatinha Sá Malandra trouxe para o mundo a sua quarta ninhada. Fui lá ver. Acariciando a sua cabecinha, falei baixinho pra ela:

– Sabe, gatinha? Sá Malandra é pouco pra você. Acho que deveria ser Sacripanta mesmo.

– Fzzzzzzzz!

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