Uma, a mãe, mora em Portugal e duas de suas filhas, aqui no Brasil. Como mãe, é claro, é bem mais velha do que as suas duas filhas. Das duas do Brasil, uma mora no estado do Rio de Janeiro e outra aqui, em Minas Gerais. Vamos conhecer as três.
A mãe foi muito antiga, uma longa história. Pode-se dizer que desde antes de Cristo ela já morava no norte de Portugal, no vale do Rio Douro. Depois vieram os pré-celtas, os iberos, entre outros. Depois os romanos, conquistando toda a península ibérica. Chegaram ao norte do Rio Douro aí pelo ano de 137 a.C. Os nomes “vila” e “paço” (palácio) foram criação dos romanos. Os povoados mais importantes da época eram São Martinho e “Cárquere”, esta um tipo de capital da região. Com os romanos, chegou à península ibérica o cristianismo. Os bárbaros, suevos e visigodos, vieram ao longo do século quinto. Foram cristianizados aos poucos. Depois vieram os mouros (muçulmanos), por volta dos anos 700 e 800. Conquistaram toda a península e, incrível, por lá ficaram por sete ou oito séculos, quando dela foram expulsos.
O nome da terra-mãe, Resende, apareceu no início do século 11, entre os anos 1000 e 1100. A origem dele é controversa entre os estudiosos. Para uns, o nome viria de um senhor (dos godos), chamado Redisindi; para outros, viria do nome germânico Ranosindus (ou Rausindo e Rausendo) e, ainda, seria derivado de um senhor Rausendo Ermiges. Esse seria o senhor do paço dos Resende e teria sido o povoador daquelas terras.
Bem, chegamos à cidade-mãe de Resende. De lá alguns resendinos foram para o arquipélago dos Açores, estabelecendo-se nas ilhas Santa Maria e São Miguel. No início do século 18, veio para o Brasil o primeiro Rezende, João de Rezende Costa (nascido em 1699), que se fixou na região do atual município de Lagoa Dourada.
O historiador português padre Joaquim Correia Duarte escreveu duas obras, Resende e sua História e Casas e Brasões de Resende. Dois belos e interessantes calhamaços, que nosso colega do JL, José Venâncio de Resende, em viagem a Portugal, trouxe da cidade de Resende e as doou para biblioteca de Resende Costa. Quem folheia os dois livros pensa, ao final: tenho que conhecer esta cidade! Um grande número de “paços” lindos e bem conservados, espalhados pelo “Concelho” (município) de Resende. Aí, quando a gente pensa na av. Gonçalves Pinto, na Fazenda das Éguas, nas ruínas das fazendas da Laje e dos Campos Gerais, na caixa d’água da Copasa e na construção roubada a uma das nossas principais praças, dá vontade de chorar. A Resende-mãe portuguesa tem apenas 13.300 habitantes, pouco mais que sua filha resende-costense (entre 10 e 11 mil). Mas vamos à primeira filha da bela Resende-mãe.
A filha Resende (RJ), nascida em 1744, é pouco mais velha que a filha Resende de Minas. Esta teria sido por volta de 1750. Era uma região que pertencia à capitania do Rio de Janeiro e era vizinha das províncias de São Paulo e de Minas Gerais. Em 1744 um dos desbravadores do interior do Brasil, o capitão paulista Simão da Cunha Gago, obteve licença para desbravar a região à procura de ouro e pedras preciosas. Ele desceu a serra do Mar com seus companheiros, vindo armar acampamento numa colina que avançava sobre o Rio Paraíba. Os habitantes da região eram os índios Puris (no português, “gente tímida e mansa”). Eram, de fato, índios mansos. Mas começaram a dar trabalho para os invasores.
Ali foi erguido um altar onde foram rezadas as primeiras missas. Mais tarde, o acampamento foi transferido para o outro lado do rio devido aos constantes incômodos provocados pelos índios às roças e às plantações dos colonos. O primeiro nome dado à filha foi de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova. A filha cresceu rapidamente. Já em 1756, foi elevada à freguesia e, em 1801, passou a ser a Vila de Resende, em homenagem a José Luís de Castro, o Conde de Resende, à época vice-rei do Brasil. O Conde de Resende comandou, de 1790 (quando substituiu o vice-rei Luís de Vasconcelos e Sousa) a 1792, o processo de julgamento e condenação dos inconfidentes, quando foi enforcado Tiradentes e degredado o grupo de 24 condenados, entre eles os nossos José de Resende Costa. Naquela época a vila já tinha 4.000 habitantes.
A cultura do café fez a vila crescer rapidamente e, em 1848, tornou-se cidade, já com uma população de 19 mil pessoas, sendo cerca de 10 mil livres e o restante escravos.
Hoje, a antiga e pequena filha do Brasil Colônia virou uma grande cidade, industrializada e rica. E o número de habitantes saltou para 122 mil.
Bem, a terceira irmã, todos nós a conhecemos. E a amamos. Com um amor todo especial, pois somos seus filhos. Ao nascer, foi batizada com o singelo nome de “Arraial da Lage”. Cresceu e se desenvolveu. Anos depois, em 1911/12, ao se casar com os muitos “lagartixas” que tomaram conta das lajes, mudou de nome para homenagear seus heróis inconfidentes da família Resende: Resende Costa.
A exemplo da Resende-mãe, vamos preservar o que resta da nossa Resende-filha!