Estou plagiando o título do famoso filme épico de 1956, de George Stevens, com Rock Hudson, Elizabeth Taylor e James Dean, premiado com o 29º. Oscar. Plagio também o conteúdo da crônica do Carlos Heitor Cony, na Folha de São Paulo de 28 de janeiro passado, sob o mesmo título do filme “Assim caminha a humanidade”.
As grandes invenções tecnológicas do século passado mudaram completamente a vida dos humanos. Uma das mais importantes delas talvez tenha sido na área da comunicação. Comunicação no seu sentido mais amplo: deslocamento das pessoas e processamento de informações. A primeira já teve início em fins do século 19 (ferrovias) e início do 20 (automóvel e avião). A outra começou a partir da segunda metade do século passado: o desenvolvimento da eletro-eletrônica, que teve como resultados a telefonia, a informática, a internet, os avanços na área de diagnóstico médico, entre outros. O conjunto dessas inovações possibilitou a criação da chamada era da “globalização”. A tecnologia aproximou as pessoas do mundo. Terá mesmo aproximado? Que tipo de aproximação?
Resende Costa, obviamente, vem caminhando juntamente com a humanidade. Por muito tempo foi uma cidade pacata, tranquila e acolhedora, mesmo sem luz e sem água encanada. E nela se vivia feliz.
Até as três primeiras décadas do século passado a cidade não tinha energia elétrica e água encanada. Vivia-se com lampiões, velas, lamparinas e “latas d’água na cabeça”. Não havia carros. Na década de 40 começa, tímida e precariamente, a aparecer a luz elétrica e a água encanada. Um ou outro carro. Vivia-se uma vida de maior harmonia. Prevalecia a convivência, todos se conheciam. Luz e água só se consolidaram, razoavelmente, a partir dos anos 60. Caminhamos: hoje, ao que tudo indica, todas as casas da cidade estão ligadas à luz e à água. Salvo engano, até na zona rural todos têm acesso à energia elétrica. Isso significa que a cidade se abriu para o mundo moderno: automóveis, telefone (fixo e móvel), televisão, internet etc. Entretanto, a cidade cresceu, recebeu imigrantes, as pessoas não mais se conhecem e se frequentam como antes, prevalece o individualismo.
Até meados do século passado nem se falava em assaltos e latrocínios. O índice de criminalidade era baixo, resultado de uma ou outra desavença. As portas das casas eram abertas de manhãzinha e fechadas somente de noite. As portas abertas se transformaram em grades, cadeados, cercas do tipo “campo de concentração”. Não havia atropelamentos: ruas e praças eram para as crianças brincarem. Hoje já temos um trânsito complicado, atropelamentos. O primeiro semáforo pode ser, infelizmente, considerado por muitos como um progresso. Na verdade, estamos cada vez mais prisioneiros de nossa modernidade e pagando caro pela perda de nossa liberdade e tranquilidade.
Até a década de 50 a comunidade resende-costense vivia ao redor e em função da Igreja Católica. O calendário da cidade era o calendário da Igreja. Não havia carnaval, substituído por retiros espirituais. Hoje tudo mudou: temos muitas outras formas de manifestação religiosa ou espiritual. Aqui não se trata de avanços ou regressos. A cidade cresceu e, com ela, a liberdade religiosa, antes praticamente coibida.
Até os anos 50 já tivemos manifestações artísticas que hoje não mais temos: o teatro, o cinema, a orquestra. Atividades produzidas e cultivadas aqui, com grande esforço e dedicação. Louva-se o empenho da juventude, que ainda mantém acesa a chama da música na cidade, da banda de música às bandas de rock e outros gêneros. Pena que vivemos a era do importado e do mecanizado. Até o Grupo de Serestas sumiu. Curiosamente, os bailes de antigamente, restrito aos adultos, foram hoje substituídos pelo som alto das danceterias e baladas da juventude, seguidas, nas madrugadas, da algazarra de rua de seus frequentadores. Foi-se a tranquilidade das noites dos fins de semana.
Antigamente, à noite as pessoas se visitavam, assentavam-se nos passeios para conversar, batiam uma prosa nas janelas, passeavam na avenida. Hoje, mal escurece, todos se fecham dentro de casa para assistir às novelas das brigas e assassinatos, das traições, da futilidade e da banalização do sexo. Horários sagrados, até para assistir a barbaridades escrachadas, como o tal de BBB e outros.
Assim caminha a humanidade. Para melhor? Para pior? Sei lá, mas aposto na segunda hipótese. E justifico. Nosso planeta caminha a largos passos para sua autodestruição. Não é preciso provas. Basta olhar ao redor e ouvir as notícias do resto do mundo. Quem, por crenças religiosas, acredita no fim dos tempos, pode ir se preparando, que ele vem mesmo, mas provocado pelo próprio homem. Como se não bastasse, com o capitalismo selvagem, agora globalizado, o humano torna-se cada vez mais individualista, egoísta e violento. Triste, mas simples e indiscutível realidade.
Assim caminha a nossa cidade ...
Assim caminha a minha cidade
14 de Fevereiro de 2011, por Rosalvo Pinto