Reza o ditado que “povo sem memória é povo sem alma”. Logo, preservar a memória de nós mesmos, de nossas famílias e de nossos lugares significa preservar a nossa vida. Adaptando a frase dos romanos, podemos dizer: ubi memoria, ibi anima (onde está a memória, aí está a alma). Nossas casas fazem parte de nossa vida. São como nós mesmos: nascem, vivem e morrem. Este texto pretende registrar um pouco da história das casas de Resende Costa.
Vamos nos lembrar de algumas casas existentes em meados do século passado, tomando como limite as últimas casas das ruas ou das saídas da cidade, tentando nos lembrar de seus moradores. Começaremos, neste texto, por parte do casario das duas praças da igreja Matriz.
Começamos pela Mendes de Resende, a que fica atrás da igreja matriz. Coitada, é uma meia-praça. Alguém já ouviu falar em roubo de praça? Pois isso aconteceu em nossa terra. Na calada da noite, parte dela foi tomada do povo e vendida a particulares. Mas vamos ao nosso giro. Começamos lá no fundo, à direita de quem olha para a parte traseira da matriz. Ali foi a casa do Marcos de Oliveira Neto, o Marcos das Barreiras, filho da Chiquita das Barreiras. Demolida, hoje abriga o Correio.
Um pouco acima estava a casa do Alcides Souza, irmão do Antônio de Souza Maia Júnior (Nico de Souza, ex-prefeito de Resende Costa em fins dos anos de 40 e início de 50). Ali morou dona Ivone Maia, prestigiada professora daqueles tempos. Essa casa passou depois para o Geraldo de Souza Resende, o Geraldo Capoeira da Cana.
Subindo, vem a casa do Sanico do Retiro de Cima, também resiste aos tempos. Lá morou, na década de 50, o ex-prefeito Geraldo Monteiro e nela mora hoje o Marcos do Sanico, ambos filhos do Sanico.
Acima do beco, permanece impávida a casa do José Gabriel de Resende, pai da dona Maria Aparecida de Resende Maia (Aparecida do Hélcio, recentemente falecido).
A casa de cima pertenceu ao Alfredo Chaves, pai do Luizinho Chaves. Era uma das casas onde nós, coroinhas, íamos com o turíbulo buscar brasas para as cerimônias da igreja. Essa antiga casa foi destruída, cedendo o lugar à casa moderna do doutor Geraldo Resende, do Lulu. Atualmente pertence à Copasa. Acima era a casa da Confraria de São Vicente, seguida do “Passinho”.
Atravessamos a praça N. Sra. de Fátima e chegamos a uma das casas mais charmosas dos velhos tempos: o sobradão que pertenceu a um membro da família Pinto e no qual, posteriormente, por muitos anos funcionou a Prefeitura Municipal. Hoje é a sede da Câmara Municipal.
Passando para a outra praça, de frente para a matriz (a praça Cônego Cardoso), temos o casarão que pertenceu ao Pedro Esteves e hoje pertence à família do Geraldo de Paula Magela (Geraldo Porteiro) e da minha tia, a Tia Nhazinha. É outra relíquia de muitas décadas.
Na sequência, a casa que pertenceu ao Domingos do José Carlos da Cachoeira dos Pintos.
Seguem-se as casas do Davi do Ciro e a do Mazinho do Saneco. A casa do Mazinho, todo resende-costense sabe, pertenceu ao inconfidente padre Carlos Correia de Toledo Melo, vigário em São José del-Rei (atual Tiradentes) em meados do século 18. Antes do Mazinho, esta casa pertenceu à família do “Tirim dos Campos Gerais”, à época proprietário da fazenda dos Campos Gerais, cuja casa, infelizmente, foi demolida.
Segue-se o antigo “Salão Paroquial”, construído pelo padre Adelmo Ferreira da Silva em 1951/52. Abaixo dele, a casa do Pedro Teodoro, conhecido como “Pepedro”. Essa casa foi comprada por outro filho do José Carlos, o Geraldo Magela. Herdou-a seu filho, o Savinho da Iaiá. Essa casa está ligada, por “parede-e-meia” à casa mais importante do ponto de vista histórico para nossa cidade, a casa do inconfidente José de Resende Costa (pai). Essa casa pertenceu ao terceiro irmão do José Carlos da Cachoeira, o José Manuel e hoje pertence às pessoas da família do Heitor do Cassiano Vale.
Dobrando-se à esquerda, estava a casa do Ataídes de Resende Maia, pai do nosso padre José Hugo de Resende Maia. Foi demolida, integrando-se o terreno ao Hospital N. Sra. do Rosário.
O outro lado da praça começava com a Casa Paroquial, construída entre 1913 e 1916. Acima dela havia a casa antiga dos descendentes do Gabriel da Quitéria. Hoje, alterada, pertence à família do Álcio Daher e de dona Socorro.
Segue-se a casa da família do Antônio da Carioca, ainda hoje com seus herdeiros. As duas que se seguem, a de dona Sinhazinha, mãe do Zé Rodrigues e a do Paulo Procópio Pinto também são propriedades de seus descendentes.
Fechando a praça, está firme a antiga casa que pertenceu ao “Tio Totonho Naná”, casado com a Tia Zulmira. Hoje pertence aos herdeiros. Essa era também uma casa que fornecia brasas para a igreja.
Com essa casa, fechamos, por ora, esse giro e esse texto. Para fechar as duas praças, faltam as casas que estão à direita da igreja matriz, a partir da casa, também antiga, que pertenceu ao Alcindo Resende e a sua esposa, a dona Vera Cruz Resende, até o antigo sobrado do Álvaro Mendes, que foi demolido. Nos anos 50, o terreno do seu sobrado ocupava quase todo o fundo da praça.