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De Arraial da Lage para Resende Costa

13 de Junho de 2014, por Rosalvo Pinto

Sabemos que o nosso torrão natal ao nascer foi batizado com o nome de “Lage”, em meados do século 18. Depois passou, por muito tempo, a “Arraial da Lage”. No início do século 20, passou a “Vila Nova da Lage” Enquanto “Lage”, escrito na época com “g”, havia uma razão: o povoado nasceu em cima de uma enorme laje. Um nome tão apropriado que, tempos depois, seus moradores passaram a ser jocosamente apelidados pelos seus vizinhos de “lagartixas”.

Se alguém, por acaso, nos perguntar por que nossa cidade tem o nome de Resende Costa, o que responderíamos?  Que o nome foi dado como homenagem aos inconfidentes José de Rezende Costa (o pai e o filho do mesmo nome)? Estaria certo? Não seria em homenagem ao capitão José Resende Costa, o pai? Ou seria uma homenagem ao Rezende Costa filho, o Conselheiro José de Rezende Costa?  Vamos conversar um pouco sobre esse assunto.

Ao se emancipar do município de Tiradentes, no século 20 (1911/12), é óbvio que os moradores quiseram homenagear um “lageano” importante chamado José de Rezende Costa. Imagino que os líderes da Vila Nova da Lage que conduziram o processo de emancipação e de transformação da vila em município teriam colocado essa questão. E deverão, claro, ter tomado uma decisão. Que eu saiba, não conheço nenhum documento que teria registrado essa situação e essa decisão. Mas vamos recorrer a outros documentos que poderiam esclarecer essa questão.

Os líderes do movimento separatista teriam, também obviamente, que encaminhar esse pleito junto ao Estado, através dos seus poderes legislativo e executivo, no caso específico, à Assembleia Legislativa. Então, trataram de elaborar um abaixo-assinado da população e encaminhá-lo ao órgão competente. Esse abaixo-assinado, datado do dia 1° de julho de 1911, com 289 assinaturas (devidamente reconhecidas) de moradores, foi bem elaborado e pode ser visto nos arquivos da Câmara Municipal.

Os signatários do abaixo-assinado se expressam no seu último parágrafo com os seguintes dizeres: “O povo pede para o novo município a denominação de “Resende Costa”, perpetuando, por esta forma, a memória de um dos precursores da democracia brasileira e um dos mais conspícuos companheiros do imortal Tiradentes”. Pois bem, ao que parece, aqui os signatários estariam se referindo ao inconfidente José de Rezende Costa (pai), uma vez que o pai foi por primeiro  envolvido na conjuração e teria contado o segredo do levante ao seu filho, de 24 anos, que estava se preparando para fazer o curso de advocacia em Portugal, na Universidade de Coimbra. Ao saber que o padre Carlos Correia Toledo, vigário de São José del-Rei (Tiradentes) e seu amigo e vizinho, pretendia viajar para Portugal, seu pai havia lhe solicitado que levasse consigo o seu filho.

Além disso, parece ser óbvio que a adesão à conjuração seria, antes de tudo, por parte do pai. O filho, jovem, preparava-se para viajar, e só o pai detinha as condições necessárias para se meter em uma empreitada daquela magnitude. Por fim, ao que tudo indica, o “conspícuo (ilustre, distinto, notável) companheiro” de Tiradentes seria seu pai, e não seu filho. Logo, pelo teor do abaixo-assinado, o homenageado seria o Rezende Costa pai.

Preparado o abaixo-assinado, os líderes do movimento resolveram encaminhá-lo através do deputado Francisco Alves Moreira da Rocha, por ser irmão do médico Domingos Alves Moreira da Rocha, que atuava na vila naquela época, tendo tido até o  seu nome dado a uma das principais ruas da vila. Ao apresentar e defender o projeto de lei no dia da votação na Assembleia (21.07.1911), o deputado Moreira da Rocha pronunciou um vibrante discurso, no qual mencionou que os signatários solicitavam “que fosse dado o nome de “Resende Costa”, prestando, assim, uma homenagem àquele antigo conjurado, cujo nascimento se deu naquele lugar”.

A menos que o deputado estivesse enganado, no seu discurso fica explícito que a homenagem seria atribuída ao Rezende (filho), pois foi ele quem nasceu “naquele lugar” (o Arraial da Lage). Em seus depoimentos nos Autos de Devassa e nos seus escritos ele diz claramente “que nasceu no Arraial da Lage”. O Rezende (pai) nascera na freguesia de Prados, que na época pertencia a Lagoa Dourada.

Na minha opinião, tendo em vista que ambos tinham o mesmo nome, essa homenagem teria sido feita a ambos. Por um lado, o pai fora um dos primeiros, ou seja, um dos fundadores do arraial; por outro, imagino que os líderes teriam pensado em uma homenagem destinada aos dois, para celebrar o papel que desempenharam na história daquela época: ambos se envolveram na conjuração, tanto que foram igualmente julgados e condenados.

Por fim, por não estar diretamente ligado à luta pela emancipação – era apenas um zeloso colaborador - o deputado Moreira da Rocha poderia estar cometendo um erro naquele momento, esquecendo-se de mencionar os dois como homenageados.

 

Os limites desta coluna não me permitem alongar essa discussão, mas há outras fontes referentes a essa questão. Está em pauta um problema a ser pesquisado.

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