Nesta 139ª. edição do JL eu decolo de Resende Costa para pousar na cidade paulista de São José dos Campos. Vou visitar uma das minhas paixões que nasceu e mora lá. É jovem, inteligente, bonita e está festejando seus 45 anos. Teve e continua tendo muitos filhos, um dos quais vai nascer em princípios de Dezembro. E por esses dias ficou grávida novamente. É muito conhecida no Brasil e no mundo inteiro. Chama-se Embraer.
Todos nós seres humanos temos nossas paixões. Quem mais, quem menos. Algumas intrínsecas à nossa própria vida, como nossas famílias, a religião, a nossa terra natal e outras complementares, como as artes, a ciência, os esportes, o trabalho etc. Nessa categoria, costumo dizer que tenho três: a música, a linguística (os estudos da linguagem) e a aeronáutica. Pois bem, o motivo de minha viagem é justamente para compartilhar com meus leitores essa última paixão.
Acredito que a grande maioria dos brasileiros conhece a Embraer, a Empresa Brasileira de Aeronáutica. Ela nasceu em 1965 no âmbito do Ministério da Aeronáutica, mais especificamente no CTA (Centro Técnico Aeroespacial), sediado em São José dos Campos, com o objetivo inicial de produzir aeronaves para a FAB (Força Aérea Brasileira). Os pioneiros dessa ideia foram corajosos, pois trata-se de um empreendimento de alta tecnologia, dominada por poucos empreendedores em poucos países. O primeiro filhote da Embraer nasceu em 1968 e foi batizado com o nome de “Bandeirante”. O nome foi simbólico: os seus idealizadores foram mesmo verdadeiros bandeirantes. E o Bandeirante está vivinho até hoje.
E vieram muitos e muitos filhos. Por sorte, a Embraer foi privatizada em 1994. Infelizmente, conhecemos nosso país: tudo o que cai nas mãos dos governos... já sabemos o que pode acontecer... Com a privatização, a Embraer deslanchou, a ponto de tornar-se, num curto espaço de tempo, a terceira ou quarta maior indústria aeronáutica do mundo. Hoje as aeronaves produzidas pela Embraer, sobretudo as comerciais (transporte de passageiros) e as executivas (jatinhos particulares) voam por todos os continentes e, curiosamente, com forte presença nos Estados Unidos, o maior produtor de aviões do mundo.
Mas vamos ao próximo filhote. Vai ser um parto difícil, pois será o maior de todos até hoje. Já tem nome: KC-390. É uma aeronave de carga de grande porte. O projeto foi desenvolvido, inicialmente, para a fabricação de 28 unidades para a FAB. Os famosos cargueiros da FAB, os Lockheed C-130 - Hércules, quadrimotores a hélice, já estão velhinhos, com seus quase 40 anos de uso. O KC-390 já vem com dois potentes motores (turbinas a jato), com dispositivos para reabastecimento de outras aeronaves em voo e com o que há de mais moderno em aviônicos atualmente. Medidas: envergadura (de uma ponta a outra das asas): 35,05m; comprimento: 35,20m; altura: 11,84m e velocidade máxima: 870 km/h. O parto está previsto para inícios de dezembro, dia do primeiro voo. Mas como a Embraer é muito fértil, já está prenhe de outro filho. Outra história.
O Brasil tem uma das mais fracas forças aéreas do mundo: velhos caças americanos (F-5E/F) e franceses (Mirage 2000). Os F-5 americanos passaram por uma “modernização”, feita pela Embraer, e os franceses foram aposentados no ano passado. Em 2001, no governo FHC, a FAB conseguiu emplacar um projeto de aquisição de caças modernos, o chamado “Projeto F-X”. Coisas do Brasil, só depois de 8 anos o Ministério da Defesa escolheu três concorrentes: o F-18 E/F (da Boeing americana), o Rafale (da Dassault francesa) e o Gripen NG (da Saab sueca). No ano seguinte (2009), o ex-presidente Lula, ao receber a visita do presidente Sarkozy, em cerimônia militar no 7 de setembro, informou, prematuramente, que o Brasil iria optar pelos caças franceses. Os militares não gostaram e em fins do ano passado escolheram o caça Gripen NG (New generation) e, às pressas, na sexta-feira do último debate eleitoral, assinaram o contrato com a Saab sueca, com medo de o(a) futuro(a) presidente voltar atrás. O contrato prevê a fabricação de 36 caças, no valor de U$ 5,4 bilhões (13 R$ bilhões), com direito à transferência de tecnologia. Parte dos caças será produzida na Saab e parte, na Embraer. São produtos de alta tecnologia, caríssimos e de fabricação demorada: o primeiro caça só ficará pronto em 2019 e o último em 2024. Engenheiros da Embraer irão para a Suécia, para dar início ao processo de transferência tecnológica. Assim a Embraer passa a fazer parte do seletíssimo grupo que detém a tecnologia de produção de caças de última geração.
Minha paixão pela aeronáutica passou, via DNA, para meu filho mais velho, o Renato. Acabou formando-se engenheiro aeronáutico pela UFMG, a segunda escola de engenharia do Brasil a oferecer esse curso no Brasil, através do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA). A primeira foi o ITA/CTA, do Ministério da Aeronáutica. O Renato há 16 anos trabalha na Embraer e, neste momento, faz parte da equipe de produção do KC-390, no setor militar da empresa.