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De Resende Costa a São José dos Campos (SP)

13 de Novembro de 2014, por Rosalvo Pinto

Nesta 139ª. edição do JL eu decolo de Resende Costa para pousar na cidade paulista de São José dos Campos. Vou visitar uma das minhas paixões que nasceu e mora lá. É jovem, inteligente, bonita e está festejando seus 45 anos. Teve e continua tendo muitos filhos, um dos quais vai nascer em princípios de Dezembro. E por esses dias ficou grávida novamente. É muito conhecida no Brasil e no mundo inteiro. Chama-se Embraer.

Todos nós seres humanos temos nossas paixões. Quem mais, quem menos. Algumas intrínsecas à nossa própria vida, como nossas famílias, a religião, a nossa terra natal e outras complementares, como as artes, a ciência, os esportes, o trabalho etc. Nessa categoria, costumo dizer que tenho três: a música, a linguística (os estudos da linguagem) e a aeronáutica. Pois bem, o motivo de minha viagem é justamente para compartilhar com meus leitores essa última paixão.

Acredito que a grande maioria dos brasileiros conhece a Embraer, a Empresa Brasileira de Aeronáutica. Ela nasceu em 1965 no âmbito do Ministério da Aeronáutica, mais especificamente no CTA (Centro Técnico Aeroespacial), sediado em São José dos Campos, com o objetivo inicial de produzir aeronaves para a FAB (Força Aérea Brasileira). Os pioneiros dessa ideia foram corajosos, pois trata-se de um empreendimento de alta tecnologia, dominada por poucos empreendedores em poucos países. O primeiro filhote da Embraer nasceu em 1968 e foi batizado com o nome de “Bandeirante”. O nome foi simbólico: os seus idealizadores foram mesmo verdadeiros bandeirantes. E o Bandeirante está vivinho até hoje.

E vieram muitos e muitos filhos. Por sorte, a Embraer foi privatizada em 1994. Infelizmente, conhecemos nosso país: tudo o que cai nas mãos dos governos... já sabemos o que pode acontecer... Com a privatização, a Embraer deslanchou, a ponto de tornar-se, num curto espaço de tempo, a terceira ou quarta maior indústria aeronáutica do mundo. Hoje as aeronaves produzidas pela Embraer, sobretudo as comerciais (transporte de passageiros) e as executivas (jatinhos particulares) voam por todos os continentes e, curiosamente, com forte presença nos Estados Unidos, o maior produtor de aviões do mundo.

Mas vamos ao próximo filhote. Vai ser um parto difícil, pois será o maior de todos até hoje. Já tem nome: KC-390. É uma aeronave de carga de grande porte. O projeto foi desenvolvido, inicialmente, para a fabricação de 28 unidades para a FAB. Os famosos cargueiros da FAB, os Lockheed C-130 - Hércules, quadrimotores a hélice, já estão velhinhos, com seus quase 40 anos de uso. O KC-390 já vem com dois potentes motores (turbinas a jato), com dispositivos para reabastecimento de outras aeronaves em voo e com o que há de mais moderno em aviônicos atualmente. Medidas: envergadura (de uma ponta a outra das asas): 35,05m; comprimento: 35,20m; altura: 11,84m e velocidade máxima: 870 km/h. O parto está previsto para inícios de dezembro, dia do primeiro voo. Mas como a Embraer é muito fértil, já está prenhe de outro filho. Outra história.

O Brasil tem uma das mais fracas forças aéreas do mundo: velhos caças americanos (F-5E/F) e franceses (Mirage 2000). Os F-5 americanos passaram por uma “modernização”, feita pela Embraer, e os franceses foram aposentados no ano passado. Em 2001, no governo FHC, a FAB conseguiu emplacar um projeto de aquisição de caças modernos, o chamado “Projeto F-X”. Coisas do Brasil, só depois de 8 anos o Ministério da Defesa escolheu três concorrentes: o F-18 E/F (da Boeing americana), o Rafale (da Dassault francesa) e o Gripen NG (da Saab sueca). No ano seguinte (2009), o ex-presidente Lula, ao receber a visita do presidente Sarkozy, em cerimônia militar no 7 de setembro, informou, prematuramente, que o Brasil iria optar pelos caças franceses. Os militares não gostaram e em fins do ano passado escolheram o caça Gripen NG (New generation) e, às pressas, na sexta-feira do último debate eleitoral, assinaram o contrato com a Saab sueca, com medo de o(a) futuro(a) presidente voltar atrás. O contrato prevê a fabricação de 36 caças, no valor de U$ 5,4 bilhões (13 R$ bilhões), com direito à transferência de tecnologia. Parte dos caças será produzida na Saab e parte, na Embraer. São produtos de alta tecnologia, caríssimos e de fabricação demorada: o primeiro caça só ficará pronto em 2019 e o último em 2024. Engenheiros da Embraer irão para a Suécia, para dar início ao processo de transferência tecnológica. Assim a Embraer passa a fazer parte do seletíssimo grupo que detém a tecnologia de produção de caças de última geração.

 

Minha paixão pela aeronáutica passou, via DNA, para meu filho mais velho, o Renato. Acabou formando-se engenheiro aeronáutico pela UFMG, a segunda escola de engenharia do Brasil a oferecer esse curso no Brasil, através do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA). A primeira foi o ITA/CTA, do Ministério da Aeronáutica. O Renato há 16 anos trabalha na Embraer e, neste momento, faz parte da equipe de produção do KC-390, no setor militar da empresa.  

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