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Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23)

17 de Setembro de 2015, por Rosalvo Pinto

Hoje deixo de lado minha querida Resende Costa e volto, mais uma vez, à imensidão do deserto. Deserto da ignorância, da insensatez, da tristeza.  

Por esses dias a Polícia Federal está atrás de Lidiane Leite da Silva (“Lidiane Rocha”), 25, prefeita (PP) da cidade de Bom Jardim (40 mil habitantes), no Maranhão, foragida desde 20 de agosto. Mais uma das intermináveis caçadas, a “Operação Éden”, atrás do dinheiro das verbas da educação do município. Pela TV vi a prefeita ostentando, nas redes sociais, uma vida de luxo, em meio a farras. O desfalque é pesado: 15 milhões! Dois dos secretários do município já foram capturados. As escolas municipais estão em petição de miséria. Uma delas está destruída. Livros didáticos espalhados pelo chão, um caos. Pobre Maranhão! Por onde andam o grande ex-presidente Sarney e sua filha governadora? Pobre Brasil, com sua paupérrima educação!

Por esses dias, também, eu levei um susto. Caiu em minhas mãos um exemplar da antiga revista semanal “Cruzeiro”, do dia 28 de setembro de 1957. A revista circulou de 1928 até 1975. As duas maiores reportagens do nº 50 tinham os títulos de “Chacina em Maceió” e “Falência do ensino primário - O Brasil precisa de uma cartilha do ABC”.  A primeira retrata uma guerra política, no prédio da Assembléia Legislativa de Alagoas - guerra de verdade - com revólveres, fuzis e, acreditem, até 6 metralhadoras. O problema era o famoso impeachment do governador da época. Houve tiroteios com mortes e feridos. Coisas do Brasil... mas, se tivéssemos a sempre sonhada e jamais realizada “Pátria educativa”, provavelmente não teria acontecido a chacina de Maceió. A segunda reportagem, o eterno problema da educação. Quase 60 anos atrás, um dos maiores profetas a clamar no deserto pela necessidade urgente de um projeto de educação nacional chamava-se Anísio Teixeira, melhor, professor Anísio Teixeira.

O texto de “O Cruzeiro”, em três páginas, dialoga com o professor Anísio Teixeira.  Vejam-se algumas “chamadas”: “Na escola primária, a criança não recebe educação de base, mas simples ensinamentos preparatórios, segundo o nosso arcaico sistema”; “Em escolas mal instaladas, professores mal remunerados e um sistema educacional obsoleto, é que temos a pretensão de formar as elites nacionais”; “A professora da escola pública é uma heroína. Luta até contra os programas”; “O Diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), professor Anísio Teixeira, há vários anos, vem estudando e preconizando medidas para solução da crise educacional brasileira. E sua pregação tem sido infrutífera, até agora. Ele tem dito e provado que, ao contrário do que muita gente pensa, estamos aumentando cada vez mais o número de analfabetos, pois os meios de aprendizado não têm evoluído na proporção do crescimento demográfico – e que o nosso sistema escolar está atrasado de 600 anos. Sua organização pode comparar-se à da Idade Média”.

Por esses dias de crise política e economia, outra voz clamou no deserto da ignorância: o ex-ministro, fundador e ex-presidente (por 17 anos) da Embraer e ex-presidente da Petrobrás (2 anos, sem Petrolão...). Do alto de sua estatura de grande brasileiro, ele aconselhou ao Joaquim Levy, o novo Ministro da Fazenda: “Não cometa o crime de resolver o problema financeiro do país cortando verbas da educação”.  Ozires diz que “O Ministério da Educação é um fracasso, convive com um número de analfabetos funcionais que se aproxima dos 70%. O Brasil está muito preocupado em resolver a questão financeira, que é importante. Mas não é só isso. E depois?”.

Ainda por esses dias de turbulências, a jornalista Márcia Maria Cruz (jornal Estado de Minas”, 20 de agosto, p. 13), une-se às vozes clamantes do deserto, com a sua matéria intitulada “Duas décadas de atraso na Educação: baixo prestígio profissional, salários pouco atrativos e problemas sociais nas salas esvaziam cursos de formação de educadores. Especialista estima que a reversão do quadro leve 20 anos”.

 

E continuamos clamando: “Que país é este?”...

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