A preservação da memória da vida do ser humano e do seu habitat é considerada por filósofos, historiadores, sociólogos, psicólogos etc. como fator importante, diria mais, inerente à vida dos humanos. Expressões como “Povo que não tem história não tem alma” e muitas outras semelhantes confirmam a importância da ligação entre o passado e o presente. Daí a atração pelas biografias e pela história de nossas cidades, estados e de nossa nação. Em especial nossas cidades, que amamos, porque nos viu nascer, crescer e amadurecer para a vida.
Trazer para o presente a memória do passado de nossas cidades é uma tarefa difícil. Vamos conhecer um pouco do que temos em matéria de história referente à nossa Resende Costa. Minhas considerações são restritas ao que eu conheço.
Até a década de 80 e inícios da década de 90 temos notícia de duas tentativas referentes à história de nossa cidade, porém, de naturezas diferentes.
A primeira, escrita por um não resende-costense, o professor José Augusto de Rezende, o primeiro diretor do “Grupo Assis Resende”, em 1920. Seu opúsculo, singelo, apresenta-se com a estrutura de um tradicional livro de história. Esse livrinho desapareceu por muitos anos. Tinha-se notícia de que havia apenas um exemplar na Prefeitura, em estado crítico de conservação. A Associação dos Amigos da Cultura de Resende Costa (amiRCo) se empenhou para sua restauração e o publicou, em 2010, em edição fac-símile, constituindo-se no volume número 1 da Coleção Lageana. Seu título, um pouco grande, como se fazia no passado: Livro de Pallidas Reminiscências da antiga Lage – Villa de Rezende Costa.
A segunda, não estruturada em forma de obra histórica, é constituída por uma série de informações, em forma de contos e crônicas, publicadas em seis livros pelo resende-costense Gentil Ursino Vale. O seu grande amor por Resende Costa (embora tenha vivido grande parte de sua vida em Divinópolis, onde faleceu) o levou a incluir nessas seis obras muitas referências históricas a Resende Costa, e a sua gente, através de textos esparsos, abrangendo apenas o espaço de tempo referente a sua vida. São os seguintes livros: Confidências do Agreste (1982); Escavações no Tempo (1984); Ecos de Ontem (1989); Clara Fonte (1990); Visões Perdidas (1991) e Estrelas Cadentes (1993). Esses livros têm aproximadamente 40 “minibiografias” de pessoas características e populares da cidade. Na sua lista, obviamente, não poderia faltar as figuras da dupla Carrinho & Caraco...
Outra obra tendo como tema Resende Costa veio a lume em 2010, também publicada pela amiRCo e patrocinada pelo Fundo Estadual de Cultura (FEC). Na verdade, embora tenha como tema aspectos históricos da cidade e da zona rural, não foi estruturada como uma obra sistematicamente histórica: trata-se de uma produção sui generis. Curiosamente, é uma obra escrita a 46 mãos. O alentado livro de 608 páginas cumpre seu objetivo de lançar Um olhar sobre Resende Costa, o seu título, e tem uma riqueza de informações oriundas de textos publicados pelos seus 46 autores no Jornal das Lajes, em suas edições de 2003 a 2007.
Entretanto, Resende Costa merecia uma obra mais alentada, estruturalmente mais definida e, o mais importante, que apresentasse uma pesquisa mais profunda sobre os primórdios de sua existência. E, de repente, miraculosamente aparece agora, em 2014, a obra Memórias do Antigo Arraial de Nossa Senhora da Penha de França da Lage, atual Cidade de Resende Costa, desde os Proêmios de sua Existência, até os Dias Presentes, de autoria do resende-costense José Maria da Conceição Chaves (Juca Chaves). Logo acima eu falava dos “primórdios de sua existência” e o Juca havia preferido o termo “proêmios”, sinônimo do meu. O Juca terá sido um campeão em criar um título tão grande, mas esse título é revelador da grandeza de seu trabalho sobre a história de sua terra natal.
Juca também tinha um grande amor pela sua cidade. Foi o grande sonho de sua vida escrever a sua história. Pesquisou, revirou arquivos públicos, buscou informações com outras pessoas até ter o seu livro pronto. Dadas às suas duras condições financeiras, não pôde publicá-lo. Apelou para a prefeitura de Resende Costa e para órgãos do Estado e não conseguiu. Continuou por muito tempo pesquisando e anotando informações nas margens do livro e faleceu (1978) sem ver o seu sonho realizado. Décadas depois ficamos sabendo, através do Tonico do Cartório, da existência daquele trabalho. Dados o interesse do mesmo para Resende Costa e a sua qualidade, a amiRCo se ofereceu para publicá-lo, o que foi possível com a anuência e a colaboração de seus herdeiros, bem com o patrocínio do Fundo Estadual de Cultura (FEC).
Assim, o dia 9 de agosto deste ano vai ficar marcado com o lançamento póstumo de um precioso trabalho. Até que enfim nossa cidade recebe um grande presente para a recuperação e a preservação de sua história. História que remonta à longínqua Inconfidência Mineira (capítulo inicial do livro) e se encerra na década de 1970 com seu falecimento.