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O Brasil não conhece o Brasil...

16 de Fevereiro de 2017, por Rosalvo Pinto

“Polícia mata e fez caçada”. Está no caderno “Gerais” do Estado de Minas do dia 3 passado, pg. 14. Uma quadrilha de 10 pretendeu explodir o Banco do Brasil no centro da cidade de Mata Verde (2.600 habitantes), no Norte de Minas. Desta vez os bandidos quebraram a cara, ou melhor, foram fuzilados pela polícia. Três escapuliram. Foram recebidos por 40 policiais. Agora as quadrilhas – com bandidos do Paraná, São Paulo e Minas – não querem apenas as caixas eletrônicas. Já sabem explodir os cofres internos. Cidade pacata, no interior de Minas, um absurdo.

(Estou hoje deixando de lado nossa Resende Costa, o sempre e querido Arraial da Laje dos “causos e cousas”. Volto-me para o Brasil. Sei lá se poderia dizer que é querido, mas... vamos lá.

Dois anos atrás foi a vez da cidade de Itamonte, agora no Sul, 14.200 habitantes. Foram 10 mortos, 9 bandidos e um professor da cidade. São tantos os problemas, as misérias, as doenças, as ladroagens (entre pessoas e no âmbito do próprio governo), a carnificina das rodovias, as sujeiras das cidade todas pichadas. Enfim, nem damos conta de enumerar e enxergar. Quem se lembrava da chacina de Itamonte? Por esses muitos anos, há muitas novidades (tristes, claro). Porém nada funciona neste país, até as praias. A Folha de São Paulo fez, no ano passado, um levantamento das praias do Brasil. Um desastre, acreditem se quiserem. Resultado: “3 em 10 praias brasileiras são impróprias para banho”, (Folha, 05/02/2017, caderno “Cotidiano”, pg. 1). E imaginem: é nas regiões metropolitanas que estão a maioria das piores praias. Nem precisa dizer qual a pior: aquela que se dizia ser o cartão de visitas do Brasil...

Esse é o retrato minúsculo e vergonhoso do Brasil, que não conhece o Brasil. Estou tomando o título e a frase do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Jessé Souza. Estava iluminado quando proferiu essa sentença: “O Brasil não conhece o Brasil, só faz de conta que conhece, o que é muito pior”,

Como já não bastava, este ano começou com o problema dos presídios. Parece que foi programado. Um horror!. Pior para o Brasil, que se espalhou essa vergonhosa carnificina pelo mundo todo. Enquanto isso, a Holanda tinha 7 presídios e foram todos fechados. Um deles até virou hotel de luxo de 5 estrelas... Dizem, melhor, cantamos que o Brasil está eternamente em berço esplêndido. Parece piada. Outros dizem que o Brasil dá um passo adiante e dois atrás. É uma realidade. Enquanto estou escrevendo estou vendo um estado que, de repente, deixou de ser um estado bonito, tranquilo e laborioso. De repente, mais de 100 assassinados em seis dias, enquanto há uma depredação por todos os lados, ou melhor, uma guerra civil, a ponto de ser necessária a convocação do Exército Federal.

Como sair deste inferno, fome, miséria, ladrões de todos os tipos, falta de dinheiro para tudo (escolas, hospitais, infra-estrutura)? Sabemos que a raiz de tudo isso é a desigualdade social. Não adianta somente colocar a comida na boca do pobre, porque ele vai continuar pobre. A única solução é aquela que é decantada por todos os governantes, mas jamais cumprida, desde o dia no qual o Brasil tornou-se uma República. O pior é que se um governo decidisse resolver este problema, a sociedade brasileira só vai ver os resultados uns 20 ou 30 anos depois. A nossa geração já está perdida.

Já nos dizia o saudoso Darcy Ribeiro (que bem podíamos chamar de “O arauto da educação”): “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. É o que já estamos vendo hoje.

Fico por aqui. Sempre fui professor, mas infelizmente sou daqueles que, tal como São João Batista, ando por aí pregando no deserto. Entretanto, se algum governante decidir abraçar para valer um projeto de educação, não se esqueça de antes promover uma ampla estruturação do nosso falido e vergonhoso sistema político.

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