O presidente do famoso Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Jessé Souza, estava iluminado quando proferiu essa sentença: “O Brasil não conhece o Brasil, só faz de conta que conhece, o que é muito pior”. É triste, mas é a realidade.
Entre todas as mazelas possíveis deste nosso país, talvez a mais trágica seja a questão da educação. Enquanto não se resolver o problema crucial da educação este país continuará capengando. Até pouco tempo se dizia que o Brasil tinha saído da categoria de “3º mundo”. Na época da ditadura o governo nos embromava com o “milagre brasileiro” e mais recentemente, com a nossa pseudo-democracia, dizem que alcançamos o paraíso de 6ª economia do mundo. Puro engano, retrocedemos para um 4º mundo. Agora o atual governo colocou em sua logomarca que somos “Pátria Educadora”, quem dera...
Um exemplo de causar inveja: a Cingapura. Em 50 anos passou do terceiro para o primeiro mundo. Este sim, o verdadeiro milagre. Como? Investindo pesadamente em educação: excelentes e exigentes escolas públicas. Mas o mérito é atribuído ao governo, que se apoiou num simples tripé: a) governo íntegro e eficiente; b) políticas econômicas favoráveis aos negócios e empreendedorismo e c) disciplina, ordem social e respeito às leis. É tudo que não temos por aqui. Resultado: em 1965, quando a Cingapura tornou-se independente, sua renda per capita era de US$ 400 ao ano. Cinquenta anos depois, a renda per capita passou para US$ 60 mil. Outro exemplo de país que se desenvolveu com a educação foi a Coréia do Sul.
Algumas considerações a respeito do termo “educação”. Em geral, as pessoas pensam que educação simplesmente se refere à escola, em seus múltiplos graus. A educação fundamental começa na família e tem como objetivo o processo de preparação para a inserção dos filhos na sociedade em que vivemos. Compete aos pais educar os filhos - com carinho e firmeza – transmitindo-lhes os valores éticos necessários para sua vida em sociedade.
A escola aprimora e completa esse processo através da socialização das crianças e, ao mesmo tempo, transmite os conhecimentos necessários para a sua integração na sociedade. Se falha a educação familiar, pouco adianta a intervenção do processo escolar, e pior, até compromete a ação da escola. Os professores brasileiros, pessimamente remunerados, estão sofrendo para trabalhar com alunos mal educados, tanto nas escolas particulares de alunos de famílias ricas, como nas escolas públicas, em ambientes mal equipados, inseguros, pichados e caindo aos pedaços.
O problema da educação é muito sério porque não pode ser resolvido a curto prazo. Se um novo governo, clarividente, decidisse enfrentar o problema hoje, o resultado só apareceria na próxima geração. Os japoneses se preocuparam com o problema ainda no século 19. O Brasil, desde a proclamação da república, veio se arrastando até hoje em relação à educação. Aliás, veio se arrastando na política, com governos incompetentes, que não deram importância à educação.
Infelizmente, o que temos hoje é um Brasil sem educação, nos dois sentidos do termo “educação”: sem uma estrutura educacional adequada e com um “povo sem- educação”. E aqui me lembro de dois casos tristes. Basta passar pelo prédio da famosa Faculdade de Direito da UFMG para ver o que é desleixo e vergonha. Idem, com a Faculdade de Letras (onde trabalho como professor voluntário). Os alunos picham paredes com palavrões, chegando ao cúmulo de pichar, nos banheiros, as paredes, o teto, os vidros e até o vaso sanitário, num banheiro que não tem papel higiênico nem papel-toalha...
Bem, tudo isso aí é um quadro triste, mas é real. Resta-nos, como cidadãos brasileiros, eleger representantes e governantes competentes e, se for o caso, sair às ruas, ainda que seja como São João Batista, uma voz que clama no deserto...