Tudo passa, a vida continua, o tempo é inexorável, a vida é assim ... São das frases mais surradas entre todas as que expressam as ações humanas. Acabaram as Olimpíadas e nós, brasileiros, estamos agora de olho em outras ações: as eleições, o petróleo do pré-sal, os grampos e outras mazelas, o campeonato brasileiro. E o ano de 2008 vai chegando ao fim e, com ele, o nosso Jornal das Lajes vai fechando o seu sexto ano de atividades.
Foi-se a Olimpíada de 2008. Precedida por anos de sonhos e encerrada com alegrias de uns e tristezas de outros. Por quinze dias, bilhões de olhos estiveram pregados na TV. O mundo parou, curioso, para conhecer um pouco mais da gigantesca China. E curvou-se diante de sua capacidade de planejar e realizar o maior evento esportivo do planeta. E ela, ainda por cima, saiu carregada de medalhas. Mas a dura verdade é que Pequim se transformou num imenso e reluzente tapetão, sob o qual se procurou esconder do mundo a tristeza e a miséria de milhões de chineses de seu longínquo e sofrido interior. Agora os sonhos se voltam para Londres, 2012 e para nós, brasileiros, 2016. Será?
Talvez seja mais um sonho, provavelmente impossível. Na verdade, as olimpíadas de 2008 foram para o Brasil, mais que uma Olimpíada, uma olim-piada de fracassos. Em Atenas, 2004, o Brasil suou para conseguir 10 medalhas (5 ouro, 2 prata e 3 bronze), ficando em 16º lugar. E com uma delegação ainda maior (mais burocratas do que atletas, coisa típica de Brasil), partiu para China como se fosse para arrebentar. E os ouros e as pratas esperados foram escapando dia-a-dia, restando míseras 15 medalhas (3 ouro, 4 prata e 8 bronze). E um modesto 23º. lugar no quadro geral de medalhas, perdendo para Jamaica, Quênia e Etiópia. Fracasso, é verdade, mas não dos nossos atletas. Eles pagaram caro por uma situação de que não são culpados e pela idéia arraigada entre nós de que o Brasil tem que ganhar tudo. Basta lembrarmos o caso do voleibol masculino.
Como sediar aqui uma Olimpíada, com um pífaro desempenho desses? É muita pretensão. Como daqui a 8 anos conseguir investir dura e maciçamente na formação de atletas, se sequer conseguimos alfabetizar nossas crianças e adultos? Se quisermos sediar um evento dessa magnitude, exibindo um desempenho melhor, será preciso um esforço hercúleo para investir na educação, em geral, e no esporte e atletismo, em particular. E dizer que estamos também sonhando com a copa do mundo de futebol em 2014. É muito sonho e muito dinheiro a ser gasto num país que precisa, antes de tudo, de erradicar a fome e a miséria de seus cidadãos.
Nosso Presidente partiu para Pequim como garoto-propaganda dessa idéia megalomaníaca. Algo tão mirabolante como se nós, resende-costenses, tivéssemos enviado também uma comitiva, liderada pelo Prefeito, para tentar trazer a olimpíada de 2016 para nossa cidade. Só torço para que o futuro me dê razão e para que os sonhados bilhões de reais sejam canalizados para ações mais significativas e urgentes no país. Senão, tal como os chineses, vamos ter que construir um imenso e caríssimo tapetão.
Enquanto isso não acontece, vamos sonhando com a idéia de trazer a Olimpíada para Resende Costa. Até que não daria muito trabalho e custaria muito pouco. Já imaginaram a inovação de uma maratona saindo de Jacarandira, passando pelo Cajuru e pelo povoado dos Pintos, subindo e descendo serra até chegar ao Parque do Campo, o nosso “Ninho do Pássaro”? Não seria qualquer jamaicano ou qualquer nigeriano que levaria a medalha de ouro. Na categoria do hipismo, com essa febre de cavalos e cavalgadas que anda por aqui, era só convocar o pessoal da Tropa do Riguinho e raparíamos todas as medalhas. Sem falar no futsal: se fosse incluído nos jogos olímpicos, nossos atletas seriam imbatíveis.
Brincadeiras à parte, o fracasso do Brasil nos jogos olímpicos da China deixa uma lição para nós resende-costenses. Somos aqui, em pequena escala, um reflexo da decadência do nosso país no desenvolvimento das atividades esportivas e de atletismo. Afora o sucesso anual do torneio de futsal de inverno, nada mais se vê por aqui. Por onde anda nosso antigo e glorioso “Expedicionários”? E o “Estádio dos Eucaliptos”, simplesmente largado aos cupins? O Ginásio Poliesportivo e as outras quadras construídas e em construção bem que poderiam abrigar atividades variadas, como o voleibol, o basquete, modalidades de atletismo e atividades artístico-esportivas. É uma pena. O vigor de nossa juventude está sendo canalizado apenas para festas, bebidas e para barulhentas baladas. Como no resto do país, o que acaba de ser, inegavelmente, confirmado dias atrás pelos resultados de Pequim.
O sonho das Olimpíadas
08 de Setembro de 2008, por Rosalvo Pinto