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Padre Tiago de Almeida, o saudoso “Padre Tiaguinho”

16 de Fevereiro de 2018, por Rosalvo Pinto

A 36 km de nossa Resende Costa, é conhecida no âmbito da Região do Campo das Vertentes pelo nome de São Tiago. Assim como nossa cidade é a Lagartixa, também São Tiago é conhecida por Cidade dos Biscoitos. Cidade simpática, mas que vim a conhecer tardiamente, pois, com meus 11 anos, já estava enclausurado no seminário dos salesianos de São João del-Rei. Se nem era permitido voltar à minha casa em Resende Costa, nem sonhar em conhecer São Tiago.

Mas por que falar do “Padre Tiaguinho”? Porque ele era um santiaguense que se tornou, inesperadamente, meu grande amigo. Ao consultar minha lista de aniversariantes, constatei que no dia 4 de Fevereiro ele estaria completando 89 anos. Mas eu sei que está. Sempre.

O menino Tiago foi batizado pelo vigário José Duque Siqueira (ex-vigário em Resende Costa) no mesmo mês (29/02/1929). Fez o antigo primário de 1936 a 1941. Em 1942 entrou no seminário salesiano em Lorena/SP para fazer o ginásio e o colegial (1946). Em Pindamonhangaba/SP fez o noviciado, onde recebeu a batina. Os estudos filosóficos foram feitos em Lorena/SP (1947/1950). Depois vieram os três anos de Assistência e professorado aos alunos do Colégio de Araxá (1950/1953).  Após os quatro anos dos estudos teológicos no Instituto Pio XI (Lapa/SP, 1953/1956), recebeu as ordens sacerdotais. Dadas suas capacidades intelectuais, de imediato os salesianos o encaminharam para licenciar-se em História Eclesiástica na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1956/1958).

E assim, voltando da Europa, o Padre Tiaguinho iniciou seus trabalhos em São João del-Rei, assumindo a cátedra de História e Sociologia e várias outras atividades religiosas externas.

Entrei no Seminário Salesiano (Aspirantado) em São João del-Rei em 1953, mas conheci o Padre Tiaguinho somente a partir de 1959, quando, ao terminar o noviciado em Barbacena, comecei o meu curso de Filosofia e curso de Letras na recém-nascente Faculdade Dom Bosco em São João del-Rei. Ele professor e eu aluno, tínhamos um pequeno contato, pois não lecionava no meu curso (Letras anglo-germânicas). Lembro-me de que ele, em razão da pobreza de sua família em São Tiago, por um período trouxe para o Colégio São João seu pai, para ajudar nas lides das hortas e pomares, como auxiliar do Irmão Ludovino Lima.

Quando terminei meu curso filosófico e de Letras, aguardava ansioso pelo meu destino: a “Assistência”, para onde iria?”. Veio logo a informação: os seminaristas (aspirantes) do Colégio seriam deslocados de São João para a cidade de Pará de Minas, pois o Colégio Dom Bosco seria aberto à comunidade de São João del-Rei. E, para a minha alegria, foi nomeado diretor do Colégio o Padre Tiaguinho e eu, assistente. Daí surgiu uma amizade que não teve fim. Ah, ia me esquecendo, ele foi meu professor de acordeão...Tempos depois, quantas viagens como motorista do seu “Fusca” para o seu trabalho incansável, os gostosos encontros com as mocinhas e mocinhos de São Tiago... E, para coroar, o casamento com minha noiva Beth...

Sua vida foi dedicada ao sacerdócio, à educação, à juventude, aos pobres, à História e à música. Como educador, dedicou-se à alfabetização dos mais pobres, com o método SDB (“Método Sistema Dom Bosco de Educação de Base para Alfabetização de Adultos”) por ele mesmo criado - um método simples, para ganhar uma rápida eficiência. 

O Padre Tiaguinho nos deixou no dia 14 de maio de 1985, por volta de meio-dia, na Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, vítima de um atropelamento.

Tomo a liberdade de encerrar esta minha homenagem ao Padre Tiaguinho transcrevendo o texto de sua amiga Maria de Lourdes Rezende (Cairu), lido no dia 15 de Maio de 1985, durante o seu velório em São Tiago: “Morreu o Padre Tiaguinho. Morreu o poeta, o escritor, o artista, o seresteiro. Morreu o sacerdote humilde, pobre que deu sua vida à Igreja amando, ajudando, perdoando. Morreu o grande orador sacro! Seus sermões, Padre Tiago, a sua voz eloquente e firme, sua mensagem de sacerdote e de amigo não se calarão aos nossos ouvidos. Você parte e deixa o seu exemplo de dignidade, de pobreza e de fé. Morreu o Padre. Morreu o poeta e cantor, o artista de nossos teatros, o sanfoneiro de nossas festas, o padre – o padre e grande padre...”.

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