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Pe. José Hugo e sua JAPY

14 de Marco de 2010, por Rosalvo Pinto

Na edição 81, de janeiro, dediquei o meu texto “Olympia” ao nosso prezado conterrâneo e amigo Pe. José Hugo de Resende Maia. Brincando, lhe dizia: “com certeza ele vai gostar da minha Olympia”. E acertei.

Qual não foi minha surpresa quando, em fevereiro, recebo via correio uma carta dele. Primeiramente, como o faz há anos, informa que o cheque de R$ 100,00 é para renovar a sua assinatura do JL, lembrando-me que 50,00 é para a assinatura e o restante “um acréscimo de ajuda ao nosso jornal, que merece”. O JL e eu agradecemos. E ele prossegue:

“Grato pela dedicação de seu artigo no Jornal das Lajes de janeiro – 2010, no. 81. De início, me intrigou aquele título, Olympia, quem será? Pelo jogar das cores de suas vestes, pelas unhas pintadas etc., agasalhada e descansando tranquila, depois de 25 anos de companheirismo, é que me lembrei da antiga máquina de escrever, marca Olympia e que, nos tempos em que não havia computadores, nem internet, era de grande utilidade. Parabéns por conservá-la”, comenta o Pe. José Hugo.

Pausa para uma pitada de história. A trajetória da escrita é fascinante e antiga. Desde as tentativas seculares das marcas rupestres, passando pelos hieróglifos, antigos alfabetos e pergaminhos medievais, chega-se ao importantíssimo marco histórico da invenção da imprensa, pelo alemão Johannes Gutenberg (1390-1468). Exagerando um pouco, pode-se dizer que a história do mundo se divide em antes e depois de Gutenberg.

A imprensa, no sentido de uma técnica de se multiplicar os textos escritos, ainda está mais firme do que nunca. Mesmo depois dos fabulosos avanços das modernas tecnologias de processamento de informações e de sua transmissão. Curiosamente, a palavra “imprensa” incorporou, modernamente, um outro sentido: refere-se também aos variados meios de divulgação de informações: jornais, revistas e, até mesmo a televisão. Soa um pouco estranho, mas ouve-se falar muito em “imprensa falada e televisiva”. Toda essa historinha é para situar, nesse contexto, a famosa “máquina de escrever” ou “máquina de datilografia”. É fácil se lembrar de que “datilografia”, palavra oriunda do grego, significa mais ou menos “escrever com os dedos”. E aqui entram a minha “Olympia” e a “Japy” do Pe. José Hugo, para quem retorno a palavra.

“Eu, preguiçoso pela computação, continuo ainda apegado à minha portátil, não Olympia, mas JAPY, made in France, Paris, desde mais ou menos 1952, quando estudava Filosofia em Mariana, fruto de meus trabalhos manuais em fabricação de pastas de viagens (de couro) e capas de missais e breviários”. Para quem não sabe, “missal” e “breviário” são livros que contêm o ritual da missa (o primeiro) e orações, salmos e textos bíblicos que os padres eram (não sei se são mais...) obrigados a ler/rezar diariamente (o segundo).

Após esses comentários, posso agora colocar em diálogo a minha Olympia com a Japy do Pe. José Hugo. O mesmo amor e carinho que tenho pela minha, ele tem pela sua. Veja-se a beleza e a delicadeza de seu texto:

“Está conservadinha, brilhosa, dedais pretos e dentes também branquinhos. Tem uma capa protetora “de aço”, que a tem protegido bem nesses mais de 50 anos de uso. Conserva-se de pé, encostada na parede, ao lado de minha mesa de trabalho. Os erros que ela comete são mais por culpa de seu patrão que vai se envelhecendo e às vezes se distrai. Ela me perdoa, e aos amigos também. Como neste trechinho, quantas falhas, que fazer?”

Legal mesmo. As máquinas de escrever cumpriram brilhantemente seu papel desde o início do século passado, acredito, até a década de 80. Havia as normais - grandes e pesadas -, as semiportáteis (como a minha Olympia) e as portáteis. As grandes costumavam ter o “carro” (o rolo no qual se enfiava o papel) comum, médio e grande. Podiam ter um rolo de até um metro de comprimento, dependendo do tamanho do papel. As existentes no Brasil eram fabricadas na Europa (Alemanha, França, Inglaterra, Suécia, Itália etc.) e nos Estados Unidos. Os antigos “datilógrafos” devem se lembrar das marcas Underwood, Remington, Olivetti, Facit, IBM e, claro, as nossas Olympia e Japy. Nas décadas de 70 e 80 algumas dessas se modernizaram: eram já elétricas, sem o tal do “carro” (substituído por esferas), tinham corretor etc. Ser datilógrafo era uma coisa importante e essencial. Qualquer perspectiva de emprego exigia um bom curso de datilografia. Entre as numerosas escolas de datilografia de Belo Horizonte, uma das mais famosas foi a “Escola Andrade”, ali na Galeria do Ouvidor, do resende-costense Percy (Alves) Andrade. Neto do Chiquinho Alves, salvo engano foi meu colega de escola primária. Fico por aqui. Termino com as palavras do meu companheiro “datilográfico”:

“Gostaria de ser jornalista e escritor para também prestar-lhe [à sua Japy] minha homenagem, como você prestou à sua Olympia”. Você acaba de prestar, Pe. José Hugo. Um grande abraço.

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