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Profissão: ladrão

10 de Abril de 2011, por Rosalvo Pinto

Não se trata aqui hoje de “causo”, mas de uma “cousa”, aliás, triste, também para nossa cidade. Como, infelizmente, “mal de muitos, consolo é”, não é só para Resende Costa, é para o mundo todo.

Na Resende Costa de antigamente, a bem dizer, não havia essa profissão ou essa abominável raça de ladrão. Havia algum ladrãozinho de galinha, ou de frutas, mais para farra do que para maldade.

Acho que há pelo mundo muitos estudos sobre o tema “ladrão”. Que pode ser estudado sob ângulos os mais diversos: histórico, religioso, ético, econômico, sociopsicológico e até político. Faço uns comentários que tangenciam, de leve e superficialmente, alguns desses tópicos.

Começando pela história. Há quem diga que a mais antiga das profissões é a prostituição. Discordo: acho que é a “ladroagem”. Recorrendo à Bíblia, lá no Gênesis já se dá notícia de Caim roubando de Abel. O próprio Jesus Cristo andou envolvido com a figura do ladrão. Chegou a compará-lo com a pior desgraça que pode acontecer ao ser humano, a morte, quando disse um dia que ela chega “tamquam fur” (como se fosse um ladrão). E até no Calvário, já agonizando na cruz, estava enrolado com dois ladrões. E um deles era o mau.

Acho que o combustível que sustenta a grande maioria dos homens não é a religião, a fé, a ética, as virtudes, nem o amor: é o dinheiro. Confirmem isso lá com o Marx e o Engels. Fé, ética, amor etc. sustentam o homem racional. O dinheiro, o homem animal, ganancioso, irracional, o ladrão. Mas isso é, em princípio, intrínseco à espécie humana, pois diz respeito à sobrevivência das espécies. Mas fé, ética, amor, respeito etc. são valores que podem garantir uma vida em sociedades organizadas, com harmonia entre os homens. Possivelmente sem ladrões.

O ladrão escolhe seu alvo em função das circunstâncias: o que for mais fácil, mais rendoso e menos arriscado. Assim, ele ataca e prejudica o rico, o pobre, o velho, o doente, a criança. Não tem nenhum sentimento de respeito, pena ou remorso ao atacar qualquer pessoa. E o pior de tudo: se precisar, ou mesmo sem precisar, por puro hábito e com frieza, ele mata a sua vítima. Como se mata uma barata pelo chão. O animal mata seu semelhante seguindo as leis da natureza, para a sua sobrevivência e a de sua espécie. O ladrão, não, ele mata por maldade, por ganância.

O pior é que a ladroagem é como uma planta daninha ou um cancro, que se propagam rapidamente destruindo o tecido social e difícil de ser extirpada. A sociedade reage com a lei, luta para prender o ladrão. Mas, assim que a própria lei o liberta, ele volta à sua profissão. Uma vez ladrão, sempre ladrão.

Todos os dias, os noticiários de rádios, televisões e jornais estão noticiando roubos, assaltos, latrocínios, quadrilhas, bandos, arrastões, sequestros, cativeiros e sei lá quantas coisas mais (haja palavras!). Agora mesmo, enquanto escrevo este texto, ouço pelo rádio que dois ladrões entraram, em pleno dia, numa sala da UFMG (ICEX, setor de Física) onde estudavam quatro doutorandos, um rapaz e três moças. Armados, puseram todos deitados no chão e limparam tudo que eles tinham: dinheiro, celular, notebooks, cartões. Ai deles se algum tentasse reagir.

Casas e prédios de nossas cidades (até Resende Costa!) estão virando verdadeiras fortalezas, prisões: cercas elétricas ou do “tipo campo de concentração”, cadeados, câmeras, muros altos, trancas, alarmes eletrônicos, cacos de vidro, vigias e sei lá quantas tralhas mais. O problema é que a tecnologia do ladrão acompanha e supera a tecnologia de casas, prédios, bancos e indústrias. Encerro este parágrafo por aqui. Se continuar, vou acabar escrevendo o “dicionário do roubo” ou “do ladrão”. 

Jeová, no Antigo Testamento, para proteger o povo hebreu, castigou os dominadores egípcios com as famosas dez pragas. Hoje ele se modernizou e, para castigar os povos que destroem o planeta, vivem guerreando e se matando entre si, criou uma décima primeira praga, a pior de todas, o ladrão.

Como resolver o problema cada vez mais agravante do ladrão, principalmente num país como o nosso? Arrisco a dizer que não há solução, pelo menos nas próximas décadas. Tudo começa com as grandes diferenças de classes sociais, que induzem as pessoas a roubar. Mas nos acostumamos com um estereótipo de ladrão ligado às classes sociais mais pobres, esquecendo-nos de que há também, e muitos, os ladrões de colarinho e gravata. Eu diria que a única solução passa pela justiça social e pela educação. Educação no sentido amplo: a formação do caráter, pela família e pelas comunidades e a educação formal, pela escola. Mas, infelizmente, estamos muito, muito longe disso.

Há quase quatro anos atrás, na noite de 2 de junho de 2007, nossa cidade chorou, consternada e alarmada. A pobreza, a maldade, a ganância, a falta de educação e de respeito pelo ser humano, com apenas um tiro, levaram o nosso Geraldinho, o Geraldinho do Presépio. 

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