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Resende Costa: como a vi, como a vejo

12 de Marco de 2014, por Rosalvo Pinto

Antes de mais nada, uma declaração de amor: amo Resende Costa. Para quem como eu, que tive o privilégio de nascer exatamente sobre aquela montanha de pedra e viver o período mais gostoso da vida, os 10 primeiros anos, nada mais gratificante. O que ficou gravado naqueles 10 anos ficou para sempre, temperado com a saudade. Tempos em que a gente vivia ou na cama, ou na rua, ou na escola, ou na horta. Saía de casa e via a pracinha doutor Costa Pinto. Não tinha nada, nem uma planta. Mas tinha um pequeno barranco e um espaço para jogar finco, fabricado em casa, ou bolinha de gude, comprada ali no negócio do Zé Augusto. No meio de galinhas e, por vezes, um porquinho que escapava furtivo de seu chiqueiro. Em tempos de festa promovida pela paróquia para angariar dinheiro, as barracas com as quermesses. Os jogos do coelhinho, do avestruz, da pescaria, do tiro-ao-alvo, o Guil do Prudêncio vendendo, por um tostão, um copo de um “refrigerante” fabricado por ele: água, limão e um produto que fazia borbulhar a bebida. Hoje vejo na pracinha apenas um jardim, que, de tão feio, talvez não merecesse esse nome. Pelejaram para fazer um, mas, tal como os jardins suspensos da Babilônia, levantado, por causa de vândalos. Dobro os Quatro Cantos e subo. A praça Mendes de Resende, atrás da igreja era, para nós meninos, enorme. Ali podia-se bater uma pelada com bolas de meia. Nos tempos de Semana Santa, ali se instalava a sempre esperada “Chácara do Judas”, inocente brinquedo montado com todo tipo de bugigangas que davam sopa nas ruas e nas hortas do povo. Hoje, há apenas um pequeno jardim, por sinal bem cuidado, pois metade da praça foi surrupiada ao povo década atrás.  Continuo subindo, contornando a matriz pela direita. Ah!, as Lages de Cima. Era o cartão postal da cidade. Era o ponto predileto de todos. Nas tardes claras e frescas da primavera, a despedida do sol era celebrada com inúmeras “estrelas”, “papagaios” ou “balaios”.  Vamos “soltar estrelas (pipas)”, era como se dizia. O balaio era quadrado. Havia balanços, escorregadores e até um campo de vôlei, apetrechos da prefeitura. Aí resolveram plantar no meio do mirante uma horrorosa caixa-d’água. A água foi um grande benefício, claro, mas faltou um pouco (ou um muito...) de descortino, pois a caixa poderia ser colocada à esquerda ou à direita do mirante. Já havia lá, inclusive, o espaço ocupado pela antiga caixa d’água.  Contornando a matriz, passo à praça cônego Cardoso. Hoje está bonita. Lá estão ainda o cruzeiro e a árvore “pau-Brasil”.  Ali mais embaixo, em frente à casa do Inconfidente José de Rezende Costa, eu me vejo, aos 9 anos, assentado com uma marretinha na mão, em meio a um formigueiro de outros meninos (da Cruzada Eucarística ou coroinhas), quebrando pedra para fazer brita a ser utilizada na construção do antigo “Salão Paroquial”.  Coisas do saudoso e dinâmico padre Adelmo Ferreira da Silva. Vejo que a praça ganhou, recentemente, dois hóspedes importantes. Ao meio lá está, altaneiro, o nosso inconfidente. Ele chegou em junho de 2012. E, para quem não sabe, a sua face modelada pelo escultor pode ser considerada autêntica. E mais, a face reconstituída cientificamente pelos pesquisadores e técnicos da Unicamp, é a única face visível entre todos os inconfidentes. Nem o Tiradentes teve esse privilégio. O segundo hóspede chegou faz menos de um mês: é o busto do sempre lembrado, merecidamente, monsenhor Nélson Rodrigues Ferreira. Continuo descendo. Contorno a esquina onde, por muitos anos, funcionou a “distribuidora” de energia elétrica, produzida no rio Carandaí, a “usina do Azevedo”, onde está hoje a casa do doutor Paulo Dias.  De repente, parece-me ver caminhando para lá, gordo e manquitolando, a figura simpática do “Zé Piluço” (Pelusi), o responsável pela distribuição. A pracinha “Rosinha Penido” (poucas pessoas sabem quem seria essa senhora...) está razoavelmente cuidada. À direita está o Grupo Escolar Assis Resende. Quantas vezes passo por ali penso na importância para todos os resende-costenses daquele saudoso “Grupo”, como a gente falava. Vejo a dona Teresinha, na janela da sala à esquerda. Vejo o meu tio, o “Geraldo Porteiro”, com um balaião de merenda no braço para a turma da “caixa”. Me vejo entrando de calça curta, cabelo raspado com um topete quadrado na frente, descalço, com um embornal manchado de tinta, que levava o “caderno de pontos”, o lápis, a borracha, a caneta de pena, o tinteiro e um vidro de café, fechado com um pedaço de sabugo, mais os biscoitos da merenda.  Vi lá dentro também a dona Nininha, a diretora e a Donana do Zé Reis, com um canivetão fazendo ponta nos lápis dos alunos.  Lembro-me da alegria no dia em que pude ter um tinteiro especial, chamado “tinteiro econômico”, aquele que a gente podia virar de cabeça para baixo sem entornar a tinta... E paro meu giro por aqui. Nesse lugar sagrado e entre as pessoas que me ajudaram a ser o que sou hoje.

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